Quando Encontrei Você- DEGUSTAÇÃO

UM DIA DE CADA VEZ

PANDORA

Eu pensei em fugir na primeira noite que dormi sozinha com o Bob, cheguei a caminhar até a porta, mas desisti. Para onde eu iria? O que faria quando estivesse sozinha lá fora? Aqui pelo menos eu tinha a Helena para me ajudar e isso deveria ser motivo suficiente para não querer sair correndo sem destino. O grande problema era o Bob, eu não conseguia confiar nele, mesmo não demonstrando que queria me machucar, fui muito enganada por homens, para conseguir confiar em um novamente.

Entretanto contrariando todas as minhas expectativas ele foi se mostrando um amigo, ao decorrer dos dias, preparou minhas refeições e comemos em silêncio a maioria dos dias. Só conversamos quando a Helena estava presente, com ela eu me sentia segura e conseguia trocar uma ou duas palavras com ele.

No entanto ainda não sabia o que ele fazia para ter um apartamento desse tamanho, muita comida na geladeira, nunca comi tão bem na minha vida. Sem trabalhar um único dia, ele saia algumas vezes do apartamento, mas logo voltava sozinho e não parecia ter ido trabalhar. Pensei em perguntar para a Helena, mas ela estava dois dias seguidos sem me visitar. Por isso, decidi fazer a pergunta para ele durante o jantar.

— Qual é o seu trabalho? — perguntei logo depois de engolir mais um pedaço de pizza de pepperoni. Ele me olhou surpreso, arregalou os olhos verdes na minha direção e largou o seu pedaço de pizza na mesa.

— Você não sabe ainda? — questionou depois de engolir em seco, nervoso.

— Não, a Helena não me disse nada — respondi preocupada. O que esse cara faz afinal?

— Sou músico, toco baixo. Você deve ter visto meus instrumentos na parede do apartamento.

— Eu vi, mas pensei que eram de enfeite — respondi, me virando para olhar as guitarras, os baixos e os violões pendurados na parede.

— Eles fazem parte da decoração também, mas eu toco cada um deles quando estou com vontade — respondeu sorrindo, voltando a comer a sua pizza.

— Você tem uma banda ou canta sozinho? — questionei curiosa.

— Para quem trocou somente duas frases completas comigo até agora, você está falando bastante esta noite?

— Desculpe, não precisa responder se não quiser — falei envergonhada.

— Não tem problema eu posso responder. Tenho uma banda com o marido da Helena e outros caras que você ainda não conhece.

— Como chama a sua banda?

— The Dangers — respondeu devagar esperando que eu reconhecesse o nome da banda.

— Desculpe, mas não conheço. Vocês são famosos?

— Um pouco — respondeu sorrindo.

— Nunca tive tempo para ouvir músicas e as poucas que ouvia eram funks. Por isso não conheço nada além disso — respondi me levantando para olhar as guitarras e baixos pendurados na parede.

— Nunca ouviu uma banda de rock tocar? — perguntou surpreso.

— Não — respondi passando meus dedos pela corda do baixo.

— Inacreditável, onde você se escondeu esse tempo todo?

— Na minha casa — respondi sem graça.

— Deve ser um lugar bem pitoresco para você não conhecer uma banda de rock se quer.

— Sim, era um lugar único — respondi com nostalgia. Apesar das péssimas condições de vida, aquele era o único lugar que eu conhecia.