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Quando se é pequeno, você não sabe que quer desistir, você pensa que as coisas vão melhorar quando o dia amanhecer, que a dor é passageira de forma rápida e que brincar, receber abraços e beijos podem curar qualquer ferida.
Mas quando não se tem isso, fica mais difícil de enxergar a luz.

Os dias continuaram seguindo, mesmo quando meu mundo parou, dentro de mim nada passava, por fora tudo fluía. Eu me apeguei mais ainda há coisas que tentavam me levantar, me fazer forte.
Me dediquei a dança, minha âncora mais delicada e forte. A dança foi minha casa durante anos e eu posso afirmar que foi graças a essa família que cultivei que eu consegui sobreviver quando eu pensava que estava vivendo.
E quando minha avó se foi, um pedaço dela começou a viver dentro da minha mãe, pois está começou a querer ficar por perto, ela enxergou a minha dor, ela quis cuidar de mim.
Minha mãe, quando perdeu a própria mãe viu em mim a mesma dor que havia nela e a partir daquele momento, eu ganhei uma nova melhor amiga.

Minha rotina era bagunçada, porém mantinha minha cabeça organizava. Eu acordava e ia para escola, encontrava pessoas incríveis que apesar de diferentes em uma classe social mais elevada, me tratavam como igual, não viam dinheiro como um todo, e sim o coração. Ao chegar em casa, corria para a dança, onde eu passava o dia todo com a família que me recebeu de braços abertos desde o primeiro dia que cheguei, e a noite, antes de dormir eu escrevia, escrevia para minha avó pois eu sabia que ela podia ouvir meus pensamentos e assim, conversaríamos e ela me embalaria em seu abraço.

Mas eu nunca fui uma das melhores alunas, tinha dificuldades, não queria me dedicar porque por mais que eu tentasse, ninguém me notava o suficiente para eu querer me orgulhar de algo. Eles começaram a me ver, mas era superficial. Eles estavam ali, mas eu sentia que queriam estar em outro lugar.
Tive dificuldades em muitas matérias, me apeguei a um mundo virtual onde eu vivia uma vida que não era minha, mas conhecia pessoas incríveis que me faziam sentir em casa, apesar de tão distantes, elas conseguiam reconfortar meu coração.
Criar uma nova vida, a vida que eu queria poder viver me distraia, me fazia esquecer da dor, era a ilusão da minha felicidade, mas eu sabia que o mundo real estaria me esperando assim que eu desligasse o monitor, então eu pensava, pra que continuar a me iludir? Pra que tentar levantar mais um dia sendo que a noite terminará do mesmo jeito.
Minha mente nunca descansou, as perguntas nunca paravam, eu questionava minha existência, eu perguntava quando é que a tempestade passaria e o arco-íris chegaria.
Os amigos que tinha, me ajudavam, me faziam sentir amada, eu tive os melhores amigos do mundo, eles eram reais, eram verdadeiros, aqueles que moravam um passo de distância de mim, e aqueles que moravam tão longe mas me amavam de perto, e a minha família que todos os dias tentavam me animar, me estimular a não desistir.
Talvez... Eu tenha sido egoísta em pensar que eu merecia mais, se eu tivesse me contentado com o que tinha, tudo seria diferente. Mas eu me sentia diferente, eu achei que estava pensando em mim  quando na verdade eu colocava todos a minha frente, eu pensava que estava fazendo o bem mesmo que me destruísse, era tudo tão confuso.
É tudo muito confuso.
Viver é uma incógnita.
Dolorosa.

O primeiro corte chegou em 2012, no meu último ano no ensino fundamental, minha avó não estaria ali para ver eu me formando como esteve na formatura da minha irmã, fazia mais um pouco de um ano que ela havia partido e eu não queria acreditar que ela não entraria comigo, me veria segura do diploma e me chamaria de professora mais uma vez, dizendo que acreditava em meu potencial, na minha inteligência.
Eu ficava doente todos os dias só de pensar que ela estava tão distante, meu corpo adoecia porque eu queria receber o carinho dela, e foi assim... Ficando doente que percebi que a atenção dos outros chegava a mim.
Seria egoísmo querer ficar doente todos os dias? Apenas para me sentir amada? Era justo ter que sofrer para receber carinho, ou continuar saudável, mas sozinha?
Apesar de muitas vezes minha saúde estar péssima não por minha escolha, como quando precisei operar da uma hérnia e da apêndice, eu gostava da atenção que recebia quando estava internada e cheia de dor, infelizmente era o modo como eu me sentia amada, sentia que se importavam com minha existência.

E os anos se passaram assim, a dança, o ensino médio, primeiro beijo e paixão, a confusão que eu era não me permitiu ser uma adolescente normal, eu não conseguia me manter próxima de alguém muito tempo, pelo simples medo da pessoa me abandonar, então, eu a abandonava antes. Eu me apaixonava por pessoas a distância, talvez para não sofrer tanto, talvez para ter controle da situação, enquanto todos a minha voltam estavam com alguém, eu continuava sozinha.
Quase repeti de ano no primeiro colegial, o que me levou a ir para escola pública e deixar os amigos que estava desde a primeira série, este foi o primeiro afastamento de amizades que tive. Mas, na nova escola eu já tinha alguns amigos, e amigos que me faziam tão bem, eu era a melhor aluna da classe por vim de uma escola particular, então, eu não precisava me esforçar tanto, tudo o que estava aprendendo, eu já havia visto.
Eu mantive minha vida entre o virtual e o real, eu me mantinha controlada assim.
Colocava a dança acima de tudo, e depois, me preparei para os vestibulares.
No final de 2015 passei em uma faculdade particular com 100% de bolsa, em direito. Mas eu nunca quis fazer direito, meu pai queria que eu fizesse, meu pai jogava sempre em minha cara o quanto gastou na minha educação, e agora eu precisava fazer uma faculdade pública e ser rica.
E apesar de passar, eu não fui. Eu não quis ir. Eu merecia algo que eu fizesse de coração, um curso que eu estivesse disposta a me dedicar.

E assim, em 2016, a história de como a escuridão chegou em minha vida começa.
O começo da depressão que já existia será contado. Foi quando ela explodiu, e comandou tudo.

Sobre a Vida - Sobrevivendo.Onde histórias criam vida. Descubra agora