"eu não sou feliz.
sou um maldito laudo sem cura.
sou um diagnóstico que as pessoas cansam de tentar desvendar.
sou a praga.
a escória.eu nasci, mas não deveria estar aqui.
não é o meu lugar.
por favor, eu só quero partir."Como imaginar viver assim? Com uma mente tão perturbada que mal consegue pensar, um corpo tão machucado que quase não pode se deitar.
A depressão chega, se aloja, se faz convidada e quando menos se espera, ela domina tudo.
Não se sabe como ela virá e nem mesmo porque. Talvez existam gatilhos, motivos e gotas d'água que a fazem aparecer, como se estivesse esperando à tempos o momento certo para abrir as portas e se instalar. "Quem manda aqui agora sou eu. E não adianta tentar me esconder atrás de um sorriso fraco. Eu irei te destruir."É isso o que uma doença mental faz. Tortura. Desgasta. Destrói.
Então, não entendo porque romantizam tanto essa doença. Não é lindo, não é moda.
É um diagnóstico como um câncer. Que adentra seu corpo e sai se apossando de tudo. Te atrofiando de alguma maneira.
Maneira está, sempre devastadora.Então, para começar a contar essa história, a minha história, não começaremos pelo começo, afinal, o começo foi quando a depressão chegou.
Começaremos pelo passado, por momentos supérfluo a olhos distantes, mas que analisados, servem como enchente para um copo de vidro prestes a transbordar."Talvez ela aguente. Momentos ruins não destroem pessoas, fazem delas mais fortes."
Todos nós temos um limite, todos chegam ao seu ponto e quando essa linha é ultrapassada, ninguém mais pode conter o que vem pena frente. Não haverá ninguém no comando.
Fui diagnosticada com depressão, ansiedade e síndrome do pânico no dia 5 de maio de 2016, mas eu já sabia, sabia que essa angústia era tão antiga quanto o último sorriso sincero que havia dado.
Eu, tão abaixo do padrão imposto, sempre fiz de tudo para chamar atenção daqueles que amo, não uma atenção hiperativa, mas uma maneira de dizer: "eu estou aqui, você pode perceber isso por um momento?"
Afinal, crescer não foi fácil para mim. Aos olhos de fora, estava tudo bem, uma criança um pouco diferente, mas ainda assim bem comum.
Todos diziam: "ela é uma menina tão alegre, não para quieta um segundo."
Então, como pensar que eu estava sofrendo? Acho que, no final da contas, eu também não sabia que estava.
Mas a diferença sempre estava ali. A diferença de tratamento que marca uma criança, marca de uma maneira tão forte, que até hoje, depois de mais de trinta anos, vejo minha tia chorar ao lembrar de como era deixada de lado por quem mais amava.Podemos começar com fatos, já que essa é uma história real. Devo logo dizendo que muitas coisas que irei citar não agradarão quem ler, mas acreditem, tudo faz parte, tudo está no passado, e todos evoluímos e melhoramos.
Eu sou a filha mais nova. A diferença de idade entre mim e a minha irmã é de um ano e nove meses, e como já pude ouvir muitas vezes: eu fui um acidente.
Um acidente, uma noite de bebidas, e um comprimido esquecido.
Um acidente que alegrou a mulher. E, podemos dizer, não despertou a mesma emoção ao homem.
Quando eu nasci, ninguém foi me receber, talvez apenas um tio que não faz parte de muitos momentos da minha vida. Quando eu nasci, meu destino já foi marcado ali: eu estava sozinha.
Não havia lágrimas de felicidade do outro lado do vidro, ou sequer um pulo de emoção no corredor do hospital.
Apenas nasci.
E afundei.
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Sobre a Vida - Sobrevivendo.
NonfiksiEssa história pode lhe causar tantos sentimentos quanto uma mente em confusão. Pode te fazer chorar, te fazer sentir compaixão, ou lhe inspirar, para querer persistir com sua história também, buscar forças no fundo de sua alma e mostrar que você tam...