Introdução

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Quando eu tinha mais ou menos dez anos de idade, decidi que queria ser escritor. Foi uma daquelas coisas que a gente decide antes mesmo de descobrir se leva jeito.

Eu poderia ter decidido que queria ser astronauta, por exemplo. Ou pintor. Hoje sei que não teria a inteligência necessária para a primeira profissão e, valha-me Deus, muito menos a habilidade necessária para a segunda. Mas na época eu não sabia de nada disso. Só o que eu sabia era o quanto gostava de ler todos aqueles livros e, cara, como deve ter sido incrível criar todas aquelas histórias. Eu costumava pensar: se ler já é essa viagem toda, imagine escrever?

Acho que você já consegue imaginar o que aconteceu depois.

Os cadernos que antes serviam exclusivamente para atividades escolares e desenhos (feios) começaram a ficar cada vez mais abarrotados de histórias do meu cotidiano infantil com meus amigos. E assim nasciam meus primeiros originais. O problema é que eles eram mais relatórios que histórias, e os nossos dias não eram nem de longe interessantes para que eu pudesse despertar a curiosidade de alguém. Então eu sabia que, se um dia quisesse que as pessoas viajassem por aquelas páginas igual eu fazia com as aventuras dos Karas, do Pedro Bandeira, precisaria de alguma coisa a mais...

E aí, pouco tempo depois, eu descobri o que era: um pouquinho de mentira.

"Mentira!?", você deve ter se perguntado, "Que coisa feia, pequeno Marcus..."

Ora, não me julgue...

Não eram mentiras maldosas que eu tinha em mente, apenas algumas... situações inventadas, como a visita à uma casa abandonada e misteriosa que tinha na minha rua, por exemplo. O Paulo Victor, ou PV, um amigo meu desde essa época, era magro e ágil como um gato e conseguiria pular o muro para o outro lado sem dificuldades. Eu, no entanto, era gordinho e, ainda que corajoso, dificilmente conseguiria acompanhá-lo...

Então, resolvi fazer o que todo bom aspirante a escritor faz: imaginei como teria sido. Escrevi todo o episódio, detalhe por detalhe, desde a nossa escalada até as coisas que encontramos lá dentro e quando enfim pousei o lápis, havia um excelente dia de aventuras no caderno que, eu pensei, valia a leitura. Minha primeira ficção, criada antes até que eu soubesse que a "mentira" a que me referia se chamava, na verdade, ficção.

Essa foi parar na gaveta, pois só o prazer em criá-la já me bastou naquele momento, mas muitas outras vieram depois, quando a paixão pela escrita me dominou de vez. Passar minhas ideias para o papel foi se tornando mais frequente; a leitura, mais voraz; e o feedback, mais promissor. E aí, somente algum tempo depois de descobrir que eu queria ser escritor, foi que me dei conta de que talvez, de fato, levasse jeito para a coisa. Ainda não descobri, confesso. Mas o fato de sempre esperar que a minha próxima história supere a anterior funciona como uma espécie de combustível que me leva cada vez mais adiante.

E foi exatamente com essa vontade de me superar que nasceu o Dança da Escuridão. Saiba, amigo ou amiga, que este livro em suas mãos contém a história mais desafiadora que já escrevi.

Quando coloquei o ponto final em Horror na Colina de Darrington, publicado pela Faro Editorial em 2016, eu já sabia como queria que a história de Benjamin Francis Simons terminasse. A questão era como eu chegaria lá.

A ideia era contar em Dança da Escuridão tudo o que me levou a tomar as decisões do primeiro livro, desde as soluções de conflito até as motivações dos personagens (antigos e novos) e seus passados, e eu queria muito entregar a você uma história que fosse completamente diferente, mas que mantivesse o mesmo ritmo que fez com que Horror na Colina de Darrington tivesse a recepção maravilhosa que teve. Como, então, encaixar muito mais explicação em uma narrativa acelerada?

O resultado foi um bloqueio criativo que durou quase oito meses. Durante todo esse tempo batalhei contra o medo de não conseguir exceder as suas expectativas e de não conseguir superar o primeiro livro, de escrever uma história que ficasse aquém do esperado... mesmo sabendo que o eu que tinha para te contar era incrível e que, muito provavelmente, você gostaria de saber, eu não estava sabendo como fazer isso. E acabei me esquecendo do que fez com que eu começasse a escrever, lá atrás.

O Pequeno Marcus, creio eu, ficaria bem puto comigo... Ele me diria que antigamente eu não me preocupava com nada disso e que escrevia simplesmente porque gostava, sem nem ao menos ter a certeza se um dia alguém leria aquelas folhas de caderno rasgadas.

E ele teria razão...

Foi então que eu decidi ouvir o meu passado e esquecer o resultado final só por alguns dias para, simplesmente, fazer o que eu sempre fiz: contar a porra da história. E eu não poderia ter ficado mais orgulhoso com o que segue por estas páginas.

É engraçado como, às vezes, por nos cobrarmos tanto ao fazer alguma coisa, acabamos nos esquecendo do que nos levou a querer fazer aquilo no início. O que aconteceu comigo apenas serviu para me mostrar que, ainda mais importante que o resultado final, é o processo. Um processo que eu faço porque gosto desde que me entendo por gente, que farei para sempre e que certamente continuaria fazendo, mesmo que optasse por deixar tudo que escrevo guardado na gaveta. É um caso de amor, não tem jeito. É até difícil explicar.

Mas o amor, você sabe, existe para ser sentido, não explicado...

Então, caro amigo ou amiga, agora que terminei o meu pequeno desabafo, peço que prepare-se para embarcar no Dança da Escuridão, uma história de suspense e terror sobrenatural que fala, principalmente, sobre o passado inapagável que nos faz quem somos, os horrores que encontramos ao enfrentá-lo cara a cara e o perigo que existe em não ter o controle das nossas próprias ações. Têm personagens antigos que estão ansiosos para te reencontrar, alguns novos que acho que você vai gostar de conhecer e outros que, bem, talvez nem tanto... Você entenderá nas próximas páginas.

Mas antes de virá-las, lembre-se: assim como Benjamin Francis Simons também descobriu, só que da pior forma possível, não podemos nos esconder do nosso passado. Podemos até tentar, mas dificilmente nos manteremos afastados dele para sempre... Seja isso algo bom ou não.

É legal demais ter você por aqui outra vez.

Espero que goste desta nova viagem.

- Marcus Barcelos.

Dança da Escuridão [Degustação]Where stories live. Discover now