Capítulo 2

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   Naquela noite, Sam perdeu o sono. Não era de se esperar menos, afinal, acabara de descobrir a história da sua vida e como de fato havia parado ali naquele orfanato. Um turbilhão de  emoções tomava conta de seu coração e de sua mente, confusão, alegria, medo e insegurança predominavam. Estava feliz por saber que, na verdade, não havia sido abandonada ali por pais irresponsáveis e tampouco encontrada no lixo. Ela era um bebê amado e esperado por sua família, mas fora tirada deles. E o mais louco de tudo é que tinha um irmão gêmeo. Um irmão gêmeo! Além de ter ganhado pais do dia para a noite, Sam ganhara ainda uma outra metade de si mesma! 

   Por outro lado, estava com medo e sentindo-se insegura, não sabia o que esperar de sua nova vida, não sabia como eram seus pais, se eles gostariam dela ou seriam capazes de amá-la como filha mesmo depois de todos esses anos. E se ela não se adaptasse? E se não fosse capaz de suprir as expectativas deles? Com tantos sentimentos e perguntas em seu coração, Sam pensou que enlouqueceria se não conseguisse pegar no sono nos próximos 15 minutos. Por sorte, parece que o deus do sono estava ao seu favor e em menos que isso Sam finalmente adormecera.

   Quando acordou no outro dia, era hora de se preparar para a viagem e a despedida do orfanato, ou melhor, das amigas no orfanato. Não que Sam fosse popular e tivesse muitas amizades, para ser sincera, ela nunca se deu muito bem com a maioria das meninas de sua idade, parece que a odiavam mesmo que Sam nunca tivesse feito algo de ruim para elas. O único pecado de Sam para ser odiada, era porque gostava de se isolar de todos e simplesmente desfrutar da companhia de um livro. Ela não era de todo antissocial, mas gostava de sua privacidade. Sam também era altamente competitiva, o que era um ponto a mais pra ser vítima da inimizade das garotas. Ela sempre ganhava as competições que tinham no colégio ou no orfanato, fossem esportivas ou intelectuais. Ela não era uma garota prodígio, mas não aceitava ter de ser uma derrotada em competições escolares, quando já se sentia uma derrotada na vida. 

    A única amiga de verdade que Sam fizera em todos esses anos se chamava Dakota e era dois anos mais velha, portanto, já havia deixado o orfanato. Sam sentia-se triste e culpada por não poder se despedir da amiga que estava há uns 20 minutos dali indo de metrô. Mas não havia o que fazer, Cristine e  detetive Wilson já haviam chegado para levá-la até o aeroporto, então Dakota teria de esperar até que Sam chegasse à Califórnia e se acomodasse para finalmente saber tudo o que aconteceu com a amiga.

   No fim das contas, Sam não se despediu de ninguém, somente da diretora porque não teve outra escolha. Ela se limitou apenas a um breve aceno de mão e quando finalmente se deu conta de que nunca mais voltaria a morar naquele lugar novamente, já havia se passado uma hora e agora ouvia a voz do piloto do avião dizendo para apertarem os cintos pois estavam prestes a decolar. Era uma loucura, Sam nunca havia andado de avião antes e deveria estar nervosa por sua primeira vez nos altos céus, mas nem mesmo isso conseguia fazê-la esquecer do que estava prestes a vir. Só esperava que as coisas não ficassem tão confusas quanto seus pensamentos...

    Duas horas depois, Sam observava enquanto o avião pousava no Aeroporto Internacional de Los Angeles na Califórnia. O detetive Wilson havia informado que seus pais estariam esperando por ela no aeroporto para ir pra casa. "Tudo ficará bem", Sam tentava convencer a si mesma disso. Suas mãos estavam frias e úmidas, seus pés sacudiam sem parar e seu rosto estava quente. Conforme caminhava com sua mala pelo aeroporto ao lado do detetive e da assistente social, Sam olhava para os lados imaginando se algum desses rostos era de alguém da sua família. Porém, quando avistou três pessoas paradas lado a lado não teve dúvidas de que eram eles. 

    O homem mais alto tinha um emaranhado de cabelos escuros com algumas nuances já grisalhas pela idade, não que ele fosse exatamente velho, deveria estar no auge de seus 45 anos, mas o fato não era esse. O fato era que, Sam parecia ser uma cópia perfeita dele. O mesmo  nariz reto e fino, os lábios carnudos e bem delineados e os cabelos escuros como a noite. Sam começou a se sentir estranha com tamanha semelhança, pois ficou claro que aquele era o seu pai. Caramba! Era realmente seu pai! Ao lado dele estava uma mulher linda que parecia ter não mais que 45 anos também e quando Sam a encarou pensou estar olhando para seus próprios olhos. Ela tinha os mesmos olhos grandes e azuis que a mulher à alguns metros de distância.  

     Mas o que mais surpreendeu Sam naquele momento, foi a onda de amor que a invadiu ao olhar pela primeira vez para sua mãe. A mulher exalava graça e bondade e instantaneamente Sam quis abraçá-la. Era quase o mesmo sentimento de ver um bebê panda abraçando um porquinho da Índia, só que umas quinhentas mil vezes mais forte. Por fim, quando Sam pensava que não poderia mais se chocar, ela olhou para o último integrante do trio e sua boca caiu. Se ela pensava ser parecida com seu pai ou com sua mãe, aquilo não era nada comparado com a semelhança ao seu irmão. Só havia uma forma de definir isso: ele era ela, só que sem o cabelão comprido e os olhos azuis. Simples assim.

    Sam sentia seus joelhos ao ponto de cederem mas tentou se manter firme. Ela já estava a menos de 5 metros de sua família e pôde ver o momento em que sua mãe começou a chorar e logo após seu pai e seu irmão também, enquanto vinham em sua direção e a abraçavam todos de uma vez. Sam não entendia como, mas logo percebeu que lágrimas também escorriam de seus olhos. Aquilo era uma novidade pra ela, pois nunca chorava.

— Minha filhinha... — sussurrou sua mãe enquanto acariciava o seu rosto.
— Não posso acreditar que você está mesmo na minha frente — disse seu pai.
— Eu também não posso acreditar no que está acontecendo — respondeu Sam sorrindo, parecia um sonho.

     O irmão de Sam, Dylan, não disse nada,  apenas a abraçou e chorou como uma menininha. Ela achou um tanto quanto engraçado a reação do irmão, mas antes que pudesse comentar sobre, o detetive Wilson se pronunciou.

— Bom, acredito que Cristine e eu finalizamos o nosso trabalho. Desejamos um novo começo de alegria para a família. 

— Nós seremos eternamente gratos, de verdade! — minha mãe diz emocionada.

— Muito obrigada pela ajuda de vocês, foram essenciais para proporcionar a volta da minha filha com segurança ao lar dela — meu pai completou.

        "Lar", Sam pensou com emoção. Será que finalmente encontraria o seu lugar?

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