Gone

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- Muito bem, obrigada por participar. Os resultados saem daqui a um mês. Pode se retirar. - Disse uma das juízas, organizando os papéis em sua mesa.
Ao abrir seus olhos, tudo parecia estar mais desfocado do que antes. Seus pés estavam no automático, pois sua mente estava em transe depois de toda aquela situação. Uma sensação de felicidade e dever cumprido tomava conta de seu suas emoções, calando suas palavras.
Arrastou lentamente seus pés para o primeiro degrau da pequena escada que desembocava no palco, e percebeu que diversos olhares o seguiam, tornando-o a atração principal, até outro nome ser chamado no auto falante.
O segurança musculoso e aparentemente sério sorriu, murmurando algo relacionado á Kyungsoo ter ido bem em sua audição, mas o mesmo estava em um transe tão profundo que seus ouvidos não se passavam de uma mera decoração em seu corpo naquele momento. Simplesmente esperou a porta principal ser aberta e ele ser liberado. No primeiro passo em que seus pés deram no chão de mármore da entrada da empresa, saiu correndo como nunca, deixando aquela mescla de sensações serem cada vez mais intensificadas e misturadas dentro de seu corpo.

***

Seus cadarços estavam desamarrados, provavalmente pela pressa em que se encontrava. Cadarços não eram importantes quando você está nessa situação.
O céu havia se fechado, deixando o ambiente completamente do que estava antes, quando o sol tornava tudo mais claro e harmônico.
Diante de um asfalto frio e áspero de um dia em que todas as nuvens haviam decidido se juntar para transformar o dia em algo cinza e mórbido, não apenas gotas, mas uma quantidade muito maior de um líquido vermelho-escuro tomava conta do mesmo.
O sangue, quente, que antes fazia o coração repleto de vida bater, se espalhava em torno de seu corpo. A pressa, agora, não era mais uma coisa que iria o ajudar a transformar o tempo. Agora, era a causa que iria transformar sua vida.
Seus cabelos bagunçados e com resquícios de seu próprio sangue absorviam as lágrimas de Sehun, que gritava como nunca em busca de uma resposta que nunca seria dita. Esperava algo que nunca iria acontecer. Esperava por palavras perdidas, que nunca seriam ditas. Olhares apaixonados que, agora, foram interrompidos pelas suas pesadas pálpebras que fecharam seus olhos castanhos pela última vez.
O tempo que, antes era apressado, agora se mostrava bipolar, e, em câmera lenta, deixava a atmosfera mais pesada. O ar que respirávamos deixava nossos pulmões pesados, resultado de um acontecimento que tirava nossa capacidade de falar e pensar. Ninguém poderia afirmar que realmente acreditava no que havia acabado de acontecer.
O barulho das sirenes tocava lentamente em minha mente perdida, o que involuntariamente me fazia lembrar de meus tempos antigos e ruins, em que havia perdido as pessoas que amava. Suas luzes piscavam como luzes de árvore de natal, porém, não traziam tranquilidade como uma árvore de natal traz.
Pessoas falavam ao telefone, outras apenas observavam, como se a vida fosse apenas um show. As mãos ágeis de profissionais tentavam puxar o corpo para colocá-lo dentro da ambulância, com esperança de o fazer abrir suas pálpebras pesadas novamente.
Olhava para o simples homem, que, ainda com as mãos no volante de seu carro esportivo amarelo, observava a cena que havia acabado de participar. Estava em choque. Seus olhos estavam bem abertos, e seu coração provavelmente batia rápido, ao contrário de quem havia acabado de ferir. A mulher ao seu lado, no banco de passageiro, tinha suas mãos cobrindo a boca, em uma expressão de horror ao que havia ocorrido.
Senti uma mão se fechar em torno de meu pulso, e voltei meu olhar para Jongin, que me puxava para entrar na ambulância. Seus olhos estavam em pânico como os meus, mas ele estava mais em alerta. Ao contrário dele, meus olhos se encontravam em um transe profundo com toda aquela situação, com uma mescla de desespero com realidade e lembranças que me faziam voltar para o meu passado sombrio.

***

- Mais força, senhorita! - Dizia uma das enfermeiras presentes no quarto, enquanto enxugava o suor da testa feminina, que ardia em um calor insuportável. Já não bastasse o calor e a vermelhidão de seu rosto, sua posição desconfortável fazia seu corpo inteiro doer. A cada impulso, sentia como se alguém estivesse a esfaqueando por dentro. Porém, sabia que o que estava por vir valia toda essa dor, e muito mais. Valia mais do que sua própria vida.
- Você consegue, amor! - Dizia o marido, deixando a mão da esposa prensar sua mão, e dando direito à mesma cravar suas afiadas e compridas unhas na pele branca de sua grande mão.
O tempo passava lentamente, e a dor apenas aumentava. A corroía por dentro, e de longe, poderia afirmar com toda a certeza do mundo que era a maior dor que havia sentido em sua vida inteira.
- Está chegando! - Afirmava a outra enfermeira, provavelmente estrangeira, auxiliando o médico que estava ao seu lado, liderando todo o processo.
A dor se intensificou por um momento, e, por fim, a mulher deu um último empurrão, transformando aquela pressão e aquele impulso como o último de seus esforços naquele momento tão intenso. Sentiu, por fim, que o grande momento que tanto esperou por tantos meses havia finalmente chegado.
- É um menino. - Disse o médico, levantando de sua banqueta almofadada de couro escuro, onde havia passado mais de uma hora esperando para que desse tudo certo. Se levantou, com o pequeno ser humano que chorava em seus braços, enquanto a enfermeira o enrolava com um lençol para esquentá-lo e a outra cortava seu cordão umbilical.
Seus pequenos olhos tentavam se abrir, mas a cada vez que tentava, era interrompido por uma das enfermeiras que tentava limpá-lo. Seu tamanho era pequeno, e havia nascido sem cabelos, sem dentes, sem nada. A inocência era resumida em sua existência, tornando-a parte de seu ser, o tornando único naquele tempo. Os olhos do pai se levantaram para o olhar, assim como os da mãe, que mesmo exausta, havia reunido suas forças para enxergar o que o milagre da vida havia permitido que acontecesse. Tudo o que importava naquele momento, era o presente, e os olhos redondos de seu pequeno filho, que agora encostava em seu peito, buscando o aconchego materno.
- E qual seria o nome completo dessa belezura? - Perguntou o médico, se referindo ao pequeno filho que agora dormia tranquilamente, enquanto retirava as luvas em que estava usando anteriormente, e as jogando no pequeno lixo ao lado de uma cadeira para visitantes se sentarem.
- Park Chanyeol. - Respondeu o marido, deslizando seus dedos levemente ao redor da superfície da bochecha esquerda do filho que dormia, tornando aquele momento único e insubstituível.

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