As vezes as coisas ficam difíceis de se explicar. É como se eu estivesse em um Apocalipse, e mesmo assim, eu não me importasse, andando em linha reta, não vendo as chamas, não sentir o calor, não notar a correria, nem ouvir a gritaria insana de desespero, os meus pensamentos bloqueando qualquer sinal de humanidade em mim. Aéreo, inerte, impotente, inumano, anormal, ou a mistura deles. Como eu disse, complicado. Eu sei, não estou dando fatos, não estou mostrando estatísticas, muito menos refutando teorias da conspiração. Sim as vezes me acho um maluco, e até concordaria com esse adjetivo, mas acho que os problemas são mais profundos, delicados, são mais ásperos, mais dolorosos, e mergulhar nesse mar de incertezas para descobrir, bom, eu não quero essa opção, mas por outro lado, não quero ficar imparcial. É complicado, é eu sei, não estamos falando de coisas simples, estamos falando da subconsciência de uma pessoa levemente perdida, violada, que não sabe nada sobre si próprio, e tem medo de descobrir. Talvez por medo de encontrar o mal, ou os fragmentos deixados pelo rastro de destruição causado pelo mal. Eu sei, agora você deve estar se perguntando que merda essa. Então, bem-vindo ao clube, e se souber mais me conte, pois estou tão perdido quanto você.
A noite já acabou, e o sol está nascendo, eu não dormi. Devaneios sobre minha atual situação me fazem pensar muito. Atropelando os bocejos e os olhos pesados. Na verdade, não há muitas "situações" em minha vida para que eu pense tanto, esmigalhe tanto. Meu velho atual problema e sempre remoer resquícios e detalhes de lembranças antigas que não me servem de nada. É eu sei, sadomasoquismo. Entenda que não é fácil controlar os pensamentos, ainda mais quando o mundo a sua volta está uma loucura, você mal sabe como conter o exterior para que não te atinja, ainda mais uma mente conturbada. São vários problemas para lidar, muita coisa a absorver, e eliminar. Uma gama de processos fotossintéticos de sentimentos malucos e intensos a realizar.
As coisas parecem piorar quando estou em uma multidão, e ainda me vejo sozinho, perdido, meio sem saber o que fazer, como agir. Frases feitas, ações programadas, atitudes ensaiadas, a única coisa que me lembra que não faço parte de tudo isso são meus pensamentos, a discussão que tenho comigo mesmo em minha cabeça. Para muitos a morte parece uma maldição, algo que não se pode fugir, algo inevitável, e realmente em parte é, porém também pode ser um dom, um milagre, um presente de despedida, porém ainda não é nesse ponto onde quero chegar.
Eu sou o culpado? Eu não sei. Você é? Também não posso responder essa pergunta. Será que nossas atitudes já estão ensaiadas para serem assim? Nunca tive o dom de ser um camaleão, de me adaptar, me camuflar, e o engraçado é que quanto mais eu tente me esconder, mais eu fico em evidencia, e tentar-me esconder deixou de ser uma opção. O grande problema, é que estou recluso em minha própria cabeça, em meu próprio eu interior, a pior parte é quando sou obrigado a conviver comigo mesmo todos os dias. Todas essas perguntas inúteis, e mesmo que fossem respondidas, não seriam satisfatórias para que eu me calasse.
Com o tempo acabei me blindando, me protegendo, aquela velha história da autopreservação. Que piada. Você sabe como burlar suas próprias regras, e a sucessão de erros vão continuar a acontecer. Sabe, as vezes me pego refazendo momentos do passado em minha cabeça, recontando histórias, recriando diálogos, e tentando achar respostas para tudo. Ainda me pergunto se o livre arbítrio foi realmente uma benção. É, eu tenho mais perguntas que respostas, e mais confusão que o necessário para viver, sim eu ainda não consegui me encontrar no meio desse apocalipse que criei. Deixei acumular tanta coisa, que ainda não me localizei nessa bagunça, e se você me encontrar por favor me avise.
Acabou saindo fora do meu controle, bem, eu acho que nunca esteve comigo as rédeas das situações. Em toda minha vida, pareço apenas um telespectador, um ouvinte, um figurante, um ser inanimado sem ter a autonomia para tomar suas próprias decisões. Na maioria das vezes eu me deito e rezo eu juro que rezo para que tudo se vá, e que quando eu acorde de manhã, eu seja uma pessoa totalmente diferente que eu fui ontem. Nova aparência, nova personalidade, novas lembranças, novas regras. Eu aprendi a burlar todas as minhas regras. Não se apaixonar, não criar expectativas, não se iludir, e não, não estou falando apenas de amor. Estou falando de esperança, saudade, a droga da busca da felicidade, que idiotice, eu sei, clichê de mais até para mim. Uma pessoa que não viveu muito, para alguns uma pessoa que não conheceu os excessos da vida, mas, eu não preciso enfiar uma faca no coração de alguém, para saber se isso acontecer ela vai morrer, da mesma forma que não preciso viver os excessos, para sentir que cheguei no meu fundo do poço, repetidas e repetidas vezes.
Que merda de vida, eu mal me conheço, e nem sei responder perguntas básicas como o que eu espero do meu futuro. É complicado quando se sente que você não vive nem o presente.Já pensou como seria o próximo dia de todos a sua volta se você morresse? Eu sei, é loucura, mas será que alguém choraria? Será que alguém diria o quanto você foi importante, ou o quanto você mudou a vida dela? Se você dizer que sua mãe responderia que sim uma dessas perguntas e não conseguir imaginar mais ninguém dizendo isso, meu amigo, você está tão só nesse mundo quanto eu.
Já tive muitos amores, não sou um excluído antissocial maluco viciado em redes sociais. Tudo bem, tenho muitas redes, e sim eu sou maluco, mas isso não vem ao caso. Mas, você sabe o que é amar alguém, e saber que a pessoa não ama você, ela ama o que ela sabe sobre você? O que você deixa transparecer, o que você mostra ao mundo, sua álter persona, seu personagem, vamos lá, quanto mais rápido você admitir mais fácil fica prosseguir, e você começa a agir da mesma forma, criado idealizações em sua cabeça, até que o lobo começa aparecer em meio a pele de cordeiro que você criou, e tudo cai como um castelo de cartas.
O problema é que quando esse pandemônio começou eu não tinha a mínima ideia de quem eu era, ou qual é o meu propósito, e quem eu sou, (eu ainda não sei) e vamos admitir, ninguém tem completa certeza disso. Eu só preciso que alguém acenda a luz para que eu possa sair, e tentar me encontrar, então se você achar o interruptor aperte por favor e vamos procurar.Eu queria ter muito para contar, historias para enfeitar, mas a vida não é tão colorida e florida como eu imaginava aos nove anos. Amizades não são duradouras, pessoas não são eternas, e o para sempre é uma farsa, mentiras não são esquecidas, e as escoriações dos joelhos foram trocados por feridas na alma. Muitos vão dizer que é baboseira, e que eu sou apenas um garotinho medroso e melancólico, que não se deixa levar pela beleza da vida, e que há muitas cores por aí, mas meu mundo sempre foi uma escala cinza, sem expectativas e sem grandes finais.
E com o passar do tempo, troquei as expectativas frustradas por aceitação, as "amizades" por autopreservação, mas não se engane, não deixou de doer ou de sangrar, apenas deixei de transparecer a dor, o medo, a aflição da solidão. Me disseram uma vez que os demônios que criamos, somente nós poderíamos cala-los. Uma das maiores mentiras que eu já ouvi. Já tentei controlar a angústia, o medo, calar a dor, remover a saudade, e todas foram em vão. Já tentei ser insensível, plástico, técnico, estável, uma boa faixada para se auto preservar, foi eficiente por um tempo, até alguém furar a frágil bolha de proteção, você cair na realidade e chegar novamente ao fundo do poço.
Normalmente as pessoas tendem a te remover da bolha, te mostrarem resquícios de felicidade e irem embora, como se você pudesse caminhar agora sozinho, te deixando a deriva desse mar de inseguranças. As vezes um "eu estou bem", um sorriso treinado na frente do espelho te salva de perguntas desnecessárias como: "Você está bem? ", e respostas automáticas de concordância, mas lá dentro de você algo grita e chora. Mas você não confia, se adaptou a não confiar. Com o tempo aprendeu a se camuflar, se misturar a multidão, criar "felicidades", inventar para si meias verdades e se adaptar ao ambiente.
As distrações se tornaram algo eficaz na minha vida. Músicas, seriados, filmes, livros são coisas que me levam a realidades paralelas, onde eu não precise lembrar dos cacos dessa vida, nem dos medos, ou inseguranças, subterfúgios as vezes são necessários, essas manobras para evitar dificuldades se tornaram automáticas na minha vida. Se eu disser que nunca clamei pelo fim, ou pelo apocalipse, juízo final ou qualquer outra coisa que me arrancasse daqui, seria um mentiroso, igual a tantos outros que disseram para mim que sempre estariam comigo quando eu precisasse. A pessoa não tem consciência de como é horrível considerar tanto uma pessoa e você ser um "tanto faz" para ela, e a sensação piora quando se percebe que todos estão seguindo bem sem você.
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Todas As Coisas Que Não Foram Ditas
RandomAs vezes a vida se torna difícil, amarga, dolorosa, fica difícil raciocinar, se concentrar, apenas o eco da angustia parece ser notado. Com o passar do tempo, você aprende a criar cascas pra se proteger da dor, das mentiras, das ilusões, dos sentime...