CAPÍTULO 4 - Ecos

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Muitos esperam ansiosos que eu esteja bem, que eu grite em plenos pulmões que eu venci. Não sei se é por necessidade que eu não precise mais de ajuda, e enfim consiga andar sozinho, ou por realmente se importarem, hoje para mim tanta faz, cansei de procurar pontes, portas e segundas chances. Estou partindo dessa cidade com a convicção de que esquecerei o que precisa ser esquecido, matarei em mim o que precisa morrer, com a certeza que não voltarei o mesmo. Talvez as respostas realmente não estejam lá, mas preciso procura-las de alguma forma. O problema eu entendi, mas ainda não consigo desenvolver a fala, não consigo montar esses quebra cabeças, e colocar em auto e bom som essas dificuldades. Anda não tenho certeza se devo postar essas palavras, se devo mostrar que tudo ainda não foi resolvido como precisava ser. Hoje sei que alguém olha por mim, e sei que muitos olham e intercedem por mim. Sei que tenho família, e que Deus me ama, mas há problemas que preciso resolver, a empecilhos que só eu posso tirar do caminho, e enquanto não matar as ervas daninhas a plantação jamais dará frutos. Já tenho consciência do que é preciso, e estou me cansando de ouvir, cansado me ver lentamente na regressão. Poderia eu vir aqui e escrever um texto Power Super cheio de atitude e mostrar que estou vencendo, e de fato estou, mas não é esse o sentimento que me inunda. Não é esse o meu foco, somos sim cheios de felicidades e tristezas, temos momentos altos, e momentos de quedas, ainda não cai, mas sinto o cheiro da terra no chão, bem próximo.

Sou sempre o que tenho que mediar a situação. Ser o zen, porque é da minha natureza ser calmo, e a minha vida me obriga a ser o calmo da situação, e tento me manter no controle sempre. Um amigo me disse que eu deveria parar de resistir a tudo, que isso só me machucaria que era impossível prender o mar ou segurar uma tempestade, e que com o tempo a bomba iria explodir em minhas mãos, e de fato já estou escutando o tica-a cada vez mais rápido. Pensei que o sono voltaria, que piada, continua na mesma, noites em claro, as vezes pensamentos inúteis, as vezes só um olhar vazio para o teto sem pensamentos, apenas o inspirar e respirar. Tentando deixar tudo no controle, tentando suprimir tudo, é meio claustrofóbico aqui dentro, mas não consigo mais tirar do controle automático.

Logico que não começarei com aquela ladainha que a partir de agora vai ser diferente porque eu sei que as coisas não mudam com uma decisão estupida, minhas ações vão ter de ser moldadas, desconstruídas, readaptadas. Preciso encontrar o interruptor, e desligar o antigo eu, palhaçada isso, quem dera ser tão fácil assim. Eu já entendi que não vai ser tão simples, eu já entendi que preciso de ajuda para caminhar, e que preciso confiar. Escrevo todo esse lixo com a esperança de que suma, mas parece que só estou alimentando um mostro com migalhas, e que nunca se cansa de comer as angustias das palavras.

Depois de semanas vivendo como se fosse blindado, eu desabei, deixei as lagrimas pela primeira vez descerem. Estou com a certeza que preciso ir embora, me disseram que eu machucaria pessoas com a minha ausência, mas mal eles sabem que o fato de permanecer aqui nesse turbilhão de sentimentos está me matando, aos poucos. Eu tenho consciência de que não posso fugir de mim, dos meus pensamentos e sentimentos, mas posso fugir do que os causa. É como um nó na garganta, como seu eu precisasse gritar em plenos pulmões que eu me importo com tudo, que não dá mais, que eu preciso confiar, mas não consigo, que não há superficialidade em mim e sim eu estou envolto em camadas de superficialidade, só existe fragmentos de mim, abarrotado de indiferença e medo.

...

Hoje tenho mais medo de falar do que antes. Talvez esse seja o motivo de toda essa ausência, essa falta de verdade, ou mentira por omissão, afinal é tudo a mesma coisa. Todos em expectativa de níveis astronômicos, todos inseguros com uma possível queda, e eu aqui imparcial, impotente. As palavras são como laminas, no meu caso, agora uma espada de dois gumes, cortando os dois lados. Tenho medo de continuar atuando, e cair na real tarde demais, quando tiver criado tantas facetas, e não me encontrar nessa brincadeira. Brincadeira, sim! Me recuso as vezes a acreditar que toda essa avalanche está sobre mim. Sim ainda me recuso a falar fora do sentido figurado. Tenho medo de ferir, eu não posso ferir, eu sei como é, e atualmente ando me esquivando, tentando não machucar, não jogar os esforços das pessoas na lama, como algo inútil. Tenho poupado palavras, vivendo menos o eu, e sendo mais como eu queria ser, mas, até onde vai o que eu sou e o que é atuação? São perguntas que muitos devem ter a resposta, mas eu não.

Todas As Coisas Que Não Foram DitasWhere stories live. Discover now