Faz algum tempo, desde que esse caos se instalou em minha vida, e faz tempo também que vocês já estão a par de alguns fatos sobre esse assunto, se você já chegou até aqui, e ainda mantém intacto a sua sanidade mental, e ainda insiste em descobrir o final dessa viagem dentro do meu subconsciente, parabéns, mas fique sabendo que não será tão simples assim.
Eu não sei mais notar a diferença do que dói ou não dói. A dor física e bem notável, eu falo de algo menos palpável, algo sucinto, delicado, falo da dor de alma, dor que nos transforma os poucos, nos molda, nos faz ser quem somos. Admitindo ou não somos caracterizados por ela, todos nós, em uma peça de marcha fúnebre chamada destino. Eu já disse que fui "aconselhado" a não contar nada disso a vocês? Pois bem, sou um homem que já posso por mim mesmo tomar minhas decisões e revelar essas obscuridades a vocês. Muito patético, aqui eu, aos vinte e dois anos, sentado a cama, as três da manhã tentando colocar em palavras esse emaranhado de confusões mentais. Será eu apenas louco?
Sinto-me inconstante, será apenas falha de caráter ou será apenas quem eu apenas deveria aceitar ser? O mais notável é que o que mais deveria doer, é quase imperceptível, talvez tenha se curado sozinho ou o simples fato de vocês saberem que sou completamente louco tenha fechado minha ferida.
E aqui jaz eu, sem intender uma frase qualquer desse emaranhado de palavras, tentando dar voz ao monstro, tentando fazer compreensível a minha total incompreensão.
Aos poucos, as coisas estão voltando a ficar desconexas novamente. A poeira está se assentando, estou voltando as origens, aos frangalhos em que fui encontrado. Não é crise, é mais característico, mas específico, menos abrangente, talvez até literal. O fato da existência de um eu, me faça querer desvendar propósitos inconclusivos, rotas já trilhadas que jamais foram percorridas.
Tenho a sensação de estar em um jogo, do qual eu não li o manual, nem as regras, nem as instruções básicas, simplesmente soltaram o joystick na minha mão e disseram "se vira, sobreviva!" Como se eu vivesse a vida de um personagem pitoresco, mas não fosse ele, observasse através dos olhos dele, tocasse através de suas mãos, mas ainda assim não fosse ele. A minha única função e garantir que ele não morra. Sensação como se muitos já estiveram por baixo dessa pele, trilhando os mesmos caminhos que o eu faço agora, fazendo essas mesmas perguntas, tentando salvar essa alma, mas falharam, e por causa de suas falhas chegou a minha vez de tentar. Muitos cederam as vontades dessa casca, muitos lutaram bravamente contra ela, e todas fracassaram, a prova viva de suas falhas sou eu encarcerado aqui dentro. Agora não sei se o que faço é por ele ou por mim. Às vezes me pergunto quantas vezes ele já passou por isso. Não sei o que posso fazer por ele. A inconstância desse corpo me deixa confuso entre o que eu quero e o que devo fazer e o que é o certo a se fazer, nessa mente as respostas para essas perguntas se misturam. Ele não merece um descanso de toda essa guerra interior? Não sei se estou aqui para salva-lo, ou para ser punido. Aqui o real e o inventado são tão parecidos que se misturam de uma forma tão homogênea que o mau parece bondade, e o bem é tão mau quanto. Parece loucura, mas seria simples demais definir esse circo em apenas uma palavra.Entrei para o jogo sem nem mesmo saber, quando foi que fui retirado de onde eu estava? Esses turbilhões de perguntas sempre voltam, e o desespero sempre está a porta. Já se perguntaram se realmente existe um proposito para estarmos aqui? O fato em questão é que não sinto mais aquela necessidade de saber essa resposta, porque eu não ligo mais. Estou tão anestesiado com a vida, que se inverteram valores, necessidades perderam prioridade, e o mundo foi e eu fiquei. O que eu mais acho engraçado e que eu nunca quis ir, o meu medo nunca foi ficar, embora era o que tudo indicava, mas a verdade era não saber o que fazer depois de ficar.
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Todas As Coisas Que Não Foram Ditas
RandomAs vezes a vida se torna difícil, amarga, dolorosa, fica difícil raciocinar, se concentrar, apenas o eco da angustia parece ser notado. Com o passar do tempo, você aprende a criar cascas pra se proteger da dor, das mentiras, das ilusões, dos sentime...