Grett saiu bufando e batendo os pés da sala da Rainha.
- Mas que mulherzinha mais... Grr! – atirou os braços para cima. – É tão irritante que eu poderia socar sua cabecinha de ovo até enterra-la no chão! Tão estúpida e tão teimosa... Ahh! – gritou para extravasar a raiva.
Abriu as portas da biblioteca como um furacão, e Lorenti, a bibliotecária, fuzilou-o com um olhar que fazia até os maiores guerreiros estremecerem.
- Desculpe-me. – Grett sussurrou. – Até você perderia sua calma se tivesse que aconselhar uma Rainha como essa – resmungou baixinho. Lorenti decidiu não responder.
A biblioteca da Sworcruz era muito grande, dividida em várias alas: para quem queria estudar, quem queria fazer uma pesquisa, quem queria apenas ler, além de ter tantos livros, mas tantos livros, que tinham alguns encaixados até no teto. Lorenti, a terrível bibliotecária, quem decidiu fazer algo prático assim.
Grett foi até a uma ala de leitura particular e se afundou na poltrona cor-de-caramelo, tentando se acalmar. A ala era fechada por estantes de livros e paredes pequenas com coisas históricas. Além da poltrona cor-de-caramelo ser grande era muito confortável, com almofadas macias.
Ele era um amante de livros.
Não só porque era um Sábio e seu talento deveria ser fortalecido por livros, mas porque livros trabalhavam junto com a mente dos seres. Permitiam colocar suas ideias e pensamentos ali. Conseguiam decretar o que sua mente montava.
Os livros davam uma visão mais ampla sobre os pensamentos de Grett, que eram um turbilhão por ser um Sábio. E era sempre bom enriquecer mais ainda sua sabedoria.
Principalmente quando se tinha uma Rainha estupidamente chata para aconselhar, pensara ele.
Estava cansado de aconselhar, de ouvir bobagens de Anyba e ter que cuidar de Avrinna, mesmo isso não fazendo sentido algum, já que era uma cidade decidida a se destruir. Achava que Avrinna tinha uma capacidade maior que todas as outras cidades para se tornar uma cidade tão boa, mas tão boa, que poderia vir a ser até solo sagrado. Ele acreditava nos poderes misteriosos escondidos na cidade. Na verdade, sentia isso. Sentira isso por muito tempo, mas essa sensação, essa chama, vinha se apagando com o tempo.
Ele olhou para o mapa de Avrinna pendurado em um porta-retratos na parede.
- Você chora calada, não é?! As decisões gananciosas e egoístas desse povo os cegam e eles não conseguem enxergar o que há realmente dentro de você... – suspirou sem mexer o corpo jogado de qualquer jeito na poltrona macia. – O que será de Avrinna, meu querido Universo? Será que, algum dia, alguém enxergará o solo que pisa por aqui?
Encarou bem o mapa, até ver as linhas desenhadas com capricho à tinta brilharem e a cor de seus olhos, olhos pretos, acompanharem o brilho até ficarem verdes.
- Porque, Universo? Porque, meus criadores? Porque eu enxergo muito mais do que as pessoas enxergam e não consigo fazer ninguém mais enxergar o que eu vejo? Porque não consigo mostrar isso a ninguém e também não consigo explicar?
Soltou um longo suspiro e fechou os olhos.
Sentia saudade do seu talento.
Acreditava que seu talento era um poder enviado dos céus, algo sagrado. Venerava tal poder que haviam lhe concedido, pois acreditava com todas as suas forças nele. Sua intuição e sua visão nunca falharam, em todos os longos anos de sua vida.
Sentia saudades de utilizar aquilo em prol do mundo, sabendo que faria alguma diferença. Saudade daquele sentimento dentro dele. Um sentimento inexplicável, mas incrivelmente satisfatório...
Pegou uma pilha de livros das estantes e colocou em cima da mesinha. Dessa vez foi difícil se acomodar na poltrona por causa da túnica cheia de panos. E como ele tinha um temperamento difícil, já começou a resmungar:
- Como certas roupas são insuportável e estupidamente chatas!
Depois que finalmente se acomodou, abriu um livro.
Depois de alguns longos minutos, soltou um suspiro. Olhou para o lado, para o chão de madeira mais especificamente, e sentiu-se cansado. Velho.
Grett, um Sábio-mentor, sentia-se burro.
Grett, um Sábio-mentor de cabelo e barba longos e brancos como a neve, sentia-se burro. Como se o mundo estivesse fazendo aquilo: emburrecendo. Vira tantas coisas na vida, testemunhara coisas da vida, e aquilo o deixava triste. Assim como todos os Sábios, ele tinha sua devoção, sua fé. Era agarrado aquilo, mas não sentia isso há algum tempo.
Tentou retomar à leitura. Não iria desistir.
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Capítulo totalmente sem revisão XD
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O Sangue do Impuro
FantasyEsse é o mundo Universal. Um mundo tão grande, cheio de magia e batalhas. Cinco meninas, mais conhecidas como as Damas da Floresta, vão lutar com todas as suas forças para descobrirem o que carregam dentro de si. Lado a lado de criaturas tão difere...