Capítulo 5

2 0 0
                                    


- Grett! – Anyba devolveu o pires com a xícara de café a mesinha ao lado de seu trono e dispensou a criadagem com apenas um aceno de mão. - Que bom que chegou antes de eu partir de volta para o palácio. Veio se desculpar? – abriu um sorriso simpático.

Grett soltou uma risada debochada, de virar a cabeça para trás. Porém, não respondeu.

- Preciso falar com você sobre outro assunto – chacoalhou o indicador, como um aviso ansioso.

- Será que poderia tratar sua Rainha com um pouco mais de decoro?

Ele acenou com a mão, descartando o comentário com uma careta. Anyba apenas suspirou.

- Eu estava perturbado e absorto em pensamentos dentro da biblioteca – começou a interpretar -, quando, de repente... – fez uma pausa dramática e Anyba ficou aguardando ansiosamente. – Poff!

- Poff?

- Poff! – bateu uma mão na outra, fazendo um estalo alto. – Cinco meninas surgiram como dominós caindo uma atrás da outra bem na minha frente!

Anyba foi para trás até recostar-se no trono. Cinco meninas? – pensou.

- Você tem cinco meninas muito especiais dentro da sua academia, Anyba – colocou os braços para trás e começou a andar de um lado para o outro. – Muito especiais... – murmurou. - Assim que me deparei com elas, eu soube. Eu senti. Tem algo dentro delas! Uma chama que acende até os seus olhos! – aproximou-se bem da Rainha com os olhos arregalados, tentando interpretar. – Olhos!... Aceeesos!

- Acesos?

- Acesos! Como quando você estuda muito para uma prova e, quando lê as perguntas, sabe exatamente da resposta. Então fica com os olhos brilhaaando – aumentou a palavra – de satisfação e poder! Olhos – olhou para Anyba – com as chamas acesas. Sinto o desejo de aprender e treinar naquelas cinco garotas.

- Então tudo isso é porque elas desejam subirem de nível aqui na academia estudando e treinando?

- Aaaah! Como é burra! – Grett murmurou como uma gralha. Anyba apenas a pose, pois já estava acostumada. – Há algo dentro delas – tentava interpretar desesperadamente com os braços. Algo como... Desconfio... Poderes – sussurrou.

- Poderes?!?! – ela sufocou um grito. – Sua intuição diz isso?

- Sim. Eu senti isso nelas. Tenho certeza de que não são Avrinns. E aqueles olhos...

- O que tem os malditos olhos? – Anyba falou com um tom exasperado.

Grett ficou observando-a. Pensou que talvez a juventude fosse consequência da inexperiência ou a estupidez.

- Minha cara, os olhos de uma criatura podem dizer tudo – Grett sorriu. – O que quero dizer é que, ao olhar para aqueles cinco pares de olhos coloridos, vejo a determinação unânime para uma luta.

- Uma luta? Grett, você disse que talvez elas tenham poderes mágicos. Não posso permitir isso em Avrinna, é contra a lei! Avrinna é uma cidade para humanos, comércio, viajantes, Universais comuns! Os Avrinns não aceitarão isso.

- Foi o que pensei... – Grett jogou o dedo indicador no ar. – O destino parece estar brincando muito conosco nessa situação, pois a forma como as encontrei também não foi da mais comum – riu. Anyba não entendeu.

- Já não é a primeira vez que isso acontece por aqui... – murmurou baixinho.

- Sim, eu sei bem. Você não tem uma mulher Comandante da Guarda assim?

- Shiu! Sábio! – ela sussurrou.

- Mil perdões, mas... Parece que vai ter que lidar com a situação. Perde-las não é uma opção para Avrinna. Se vieram parar logo aqui, significa que não podem ficar nas cidades onde nascerão.

Anyba ponderou sobre as informações enquanto batia o dedo indicador no braço do trono.

- Quem são? – por fim, perguntou.

- Também não faço ideia. Na verdade, faz muitos anos desde que nem ao menos me interesso naquela academia ridícula – ele deu de ombros.

- Ela não é ridícula, Sábio. – protestou Anyba, sem expressões. Como sempre.

- Talvez poderia não ser, se não fosse um investimento patético para jovens manejar espadas de qualquer jeito e se acharem os reis do mundo. Talvez não fosse, se eles se entregassem a luta para lutar pela cidade deles. – retrucou o velho. – Claro que o ensino não é o problema, mas aqueles alunos... Intrigante – disse com desprezo. – Avrinns são decepcionantes.

Anyba manteve a pose.

- Bem, de qualquer forma, porque não vai visitar seus estudantes? Tirar um pouco essa pose de Rainha orgulhosa seria bom – ele deu uma piscadela.

Se esse homem não fosse tão necessário para suas decisões e ela não tivesse tanta gratidão e confiança para com ele, Anyba adoraria ver suas mãos delicadas ao redor de seu pescoço enrugado.

Grett colocou os óculos redondos e pequenos no rosto velho, mas não enrugado.

- Nos vemos por aí, Vossa Majestade – deu um risinho enquanto se retirava do recinto.

Anyba ficou pensando no silêncio, olhando para o nada.

Aquela era a Sala do Trono da Academia J.L. Sworcruz. Não era tão grande quanto em seu palácio, mas era toda decorada por laranja-claro e com um tapete vermelho da porta até o trono. Como se ia ali poucas vezes era um cômodo bem simples.

Ficou pensando nas coisas que Val havia lhe dito. Algo como elas terem uma ferocidade enquanto lutam. Anyba devia admitir que a maioria dos alunos apenas aprendia a lutar e não se entregava para a luta, como Grett havia dito.

Para uma cidade como Avrinna, não era muito comum haver perseverança naquele povo. Por ser uma cidade fechada, sem contato com outras cidades, os Avrinns tinham mentes mais fechadas. Havia pessoas muito mesquinhas e convencidas por ali. Vivendo em um mundinho fechado.

Mas claro que Anyba não via isso tão claramente, por mais que Grett lhe repetisse isso. Anyba apenas seguia a forma de governar de seus antepassados, desde Éorn, seu bisavô.

Estava tentando pensar com clareza, algo que sempre acontecia depois de uma visita de Grett. Concluiu que só poderia pensar melhor depois de ver as tais garotas.

- Guardas. – gritou. Depois de dois homens com armaduras de Avrinna entraram, ela disse: - Chamem Kirisaya, a Comandante da Guarda, digam-lhe que quero assistir a um treino.


---

Totalmente sem revisão XD 

O Sangue do ImpuroWhere stories live. Discover now