Capítulo 7

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Memórias de Kirisaya.

Kirisaya estava sentada perto de um lago na floresta de Avrinna, fazendo a nova estratégia contra as Feras que estavam atacando a muralha do sul. Desenhava enquanto fazia os cálculos em sua mente, até que o lápis parou no meio da linha. Não sabia a razão, mas não conseguia se mexer. Um arrepio subiu-lhe todo o corpo, e sentia algo dentro de si acendendo e apagando. Algo prateado ou esbranquiçado. Podia ver algum desenho assim dentro de sua mente, indo e vindo.

Então ouviu alguém cantarolando algo. Uma música calma, porém, de guerra. Kirisaya já tinha ouvido antes. A voz era tão doce, que a mente de Kirisaya foi perdendo-se na velocidade da música. Como se a voz estivesse levando sua alma para perto dela.

A voz foi se aproximando com calma e Kirisaya podia ouvir os passos leves da menina. Tinha certeza que era uma menina com aquela voz. Perguntava-se como era possível ouvir os passos dela, saber que ela estava descalça e enxergar na sua mente as pernas dela se movimentando entre panos brancos. Como se estivesse assistindo a cena, de olhos abertos.

Assistiu e assistiu, ouvindo a música tão gostosa e intrigante, vindo da alma, até a menina entrar na água. Ouviu o som da água. Parecia que, a cada passo dela, o chão ficava iluminado. Em um tom rosado. O som da água fazia-a sentir algo estranho, mas fazendo-a perder o ar. Parecia completamente presa àquela garota.

Viu, em sua mente, ela mexendo os panos brancos com as mãos delicadas e a pele tão branca quanto o pano. Até as unhas pareciam pintadas de rosa. A água parecia ter um desenho se espalhando enquanto ela mexia os panos.

Agora ela parecia dançar e brincar com os pássaros. Sabia que eram pássaros, pois os ouvia cantar com ela. Então passou a ver parte de seu reflexo na água. Seus olhos iam se arregalando cada vez mais que enxergava.

Via os cabelos loiros voando pelos ares, com o céu de fundo. Como se fosse uma cena mesmo. Os braços finos dela balançando enquanto dançava e cantava com todo seu pulmão. Através do reflexo da água, viu seus olhos rosa-claro. Tinha um sorriso tão belo no rosto que Kirisaya estava sem palavras.

Então sentiu algo quente em suas bochechas. Percebeu que estava chorando, chorando desesperadamente. Soluçava sem querer e as lágrimas simplesmente saíam. Começou a tremer e ficar desesperada, até sentir algo diferente. Ouviu um último movimento na água, até a garota parar. Kirisaya foi virando sua cabeça em direção ao lago até ver a garota. Seus olhos arregalaram ainda mais, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Respirava profunda e rapidamente, com um turbilhão de sentimentos dentro dela, querendo sair.

Ela era linda. Tão bela quanto à natureza. Parecia fazer parte da natureza. O sol ao fundo fazia sua pele brilhar e a cor dos seus olhos ficarem ainda mais vívidas. Parecia uma deusa. De repente, ela abriu o sorriso mais belo que Kirisaya já tinha visto, e a luz do sol começou a se mover atrás dela, até iluminar uma pessoa diferente. Não, era a mesma pessoa, mas estava transformada. Tinha desenhos pelo corpo todo e orelhas pontudas.

Ela começou a andar e o vento pareceu fazê-la voltar ao que quero antes aos olhos de Kirisaya. Ela vinha andando com calma e ainda com o sorriso. Ela não cantava mais, mas Kirisaya tinha certeza que ouvia sua voz ecoando em sua mente até chegar a sua alma.

De alguma forma, Kirisaya passou a entender algumas coisas que sentia. Algo puro, algo libertador, algo bom...

Pureza.

- Lareza.

Kirisaya despertou, percebendo os olhos rosa-claro bem a sua frente.

– Junmashi. Significa "guerreira da pureza". – a voz era um sussurro.

O Sangue do ImpuroWhere stories live. Discover now