Uma Viagem Interior

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É difícil recordar, tentar recobrar a consciência de um acontecimento intrinsecamente imaginário, uma viagem ao subconsciente e ao desapego das relações fisicamente humanas. Mas para registro de meus devaneios psicológicos, escrevo este fato para relatar sobre o dia em que uma parte de mim desprendeu de meu corpo, mesmo aprisionado vaguei por breve momento em outro mundo.

Para aqueles que ainda não me conhecem, prazer, me chamo Frederico. E vos digo onde toda experiência começou.

Era domingo, minha mãe acabara de chegar da UTI, havia passado por uma cirurgia de retirada da vesícula. Ela mal conseguia andar, estava dopada pelos remédios, só assim conseguia conter as dores que sentia. Havia me preparado para cuidar dela assim que chegasse, mas meus esforços em ajuda-la não seriam necessários. Em sua chegada ela estava acompanhada de um novo namorado, isso não me estranhava, mas a presença de uma mulher foi o que chamou minha atenção. Ela foi a única que se dirigiu até mim, veio para informar que seria enfermeira de minha mãe, ela tomaria todos os cuidados necessários e ficaria por alguns dias. Fiquei triste por saber que até para cuidar de minha própria mãe eu não seria capacitado.

Fui designado para arrumar a casa, pois alguns dos familiares haveriam de comparecer. Fiz as tarefas o mais rápido possível com a intenção de ser liberado a voltar ao meu solitário quarto. Ver a chegada da enfermeira até trouxe um alívio, só assim não teria que manter contato direto com minha mãe, nunca tivemos laços afetuosos, não seria um momento de debilidade que ocasionaria tais afetos.

A rua da casa estava enfeitada de verde e amarelo, as janelas pareciam mastros que alçavam a bandeira da seleção brasileira. Era dia da estreia do Brasil na copa do mundo, a família iria se reunir para compartilhar das emoções e vibrações juntas, como minha mãe estava acamada, a casa seria o grande ponto de encontro dessa celebração, uniriam a ocasião da visita com o desejo da torcida. Este sim é um grande encontro, da qual me contorcia para não participar. Estariam juntas duas coisas pelo qual não me despertariam nenhum interesse, ver o jogo da seleção nada mudaria minha vida, então seria perda de tempo assistir; e reunir com a família era o mesmo que martelar meu corpo com pregos, a cada pergunta chata e comentário inoportuno era como um prego sendo martelado. Mais adiante apresentarei cada um dos personagens da família.

O relógio marcava uma da tarde, faltava apenas poucas horas para o início do jogo, só me dei por entendido quando comecei a escutar os fogos, foi no exato momento que terminei de organizar tudo. Tomei merecidamente um relaxante banho e depois almocei o que havia previamente preparado. Quando abro a geladeira para ver se encontro algo doce para comer, me espanto ao sentir um cheiro peculiar, havia esquecido um brigadeiro e seu cheiro havia tomando a geladeira.

Deve estar pensando, mas que idiota o que pode haver em um brigadeiro para ficar assustado? Como posso dizer, não era um simples brigadeiro, havia um ingrediente incomum nele, este ingrediente foi que me despertou o desespero. Havia passado do ponto neste ingrediente, tinha colocado por demasia e seu odor tomou todo ar da geladeira. Catei um copo lá no fundo, por desleixo mais da metade do copo continha o brigadeiro, havia talvez umas 300 gramas. Toda família chegaria a poucos instantes, tive que dar um fim o mais rápido possível nesta situação, a única coisa que pensei foi em comer tudo o mais depressa possível. Nunca havia consumido tanto em tão pouco tempo, a consequência logo chegaria e está foi à razão que me fez relatar da experiência marcante.

Após comer, o amargor forte ficou presente em minha boca. Apressei em desinfetar a geladeira para que não ficasse o odor, pois qualquer pessoa poderia abrir a geladeira e alguém denunciaria o cheiro. Com o uso de alguns fortes aromatizantes foi possível mascarar o cheiro. Respirei aliviado, pois realizar essa atividade me custou algum tempo, minha boca já começava a ficar constantemente seca, passei a beber água em demasia, mas não havia sede.

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