BUM.
Bum. Bum. Bum. Bum.
Eram quase nove da noite, quando uma forte batida na porta fez Haroldo dar um pulo da poltrona. Estava tarde e ele não esperava nenhuma visita.
Bum. Bum. Bum. Bum.
– Já vai? – Haroldo gritou da sala, enquanto pegava sua Smith & Wesson .38 que estava em baixo da poltrona.
Bum. Bum. Bum. Bum.
Haroldo encostou o revólver na porta e reclinou o ouvido para escutar quem estava do outro lado.
– Quem está aí? – Ao perguntar escutou alguém folhear algo.
– É aqui que mora a Ana Teresa Rodriguez Martins? – Uma voz rouca e meio pigarrenta respondeu.
– Sim, mas o que você quer com minha filha?
– Vim ajuda-la, ela está muito doente e eu posso aliviar todas as suas dores.
– Você é médico?
– Sim.
– Eu não chamei nenhum médico, como achou está casa? – Haroldo começou a suar, possivelmente era uma armação para pegarem ele.
– Eu peguei o endereço... – Uma leve pausa na fala do homem. – No posto de saúde, fui informado das condições de sua filha. Você a levou semana passada, está lembrado?
– Não quero saber, saia já daqui? Você não sabe onde está se metendo. – As palavras pesaram ao sair da boca de Haroldo, que engoliu em seco.
– Desculpe amigo, mas não vou sair daqui sem ver Ana Teresa. O nome dela está em minha agenda, e eu nunca deixo de cumprir minha tarefa.
Haroldo ficou puto com a insistência do homem, era arriscado demais abrir a porta, poderia ser uma emboscada, mas ao mesmo tempo poderia estar abrindo mão para a ajuda que sua filha precisava. Estava em um maldito impasse.
A vida tem sido cruel com Haroldo, nasceu de uma família suburbana. Quando criança viu sua casa ser invadida por policiais que prenderem seu pai. Sua mãe anos depois morreu de cirrose, Haroldo foi morar com sua avó, lá ele ficou até os dezenove anos. Foi quando Haroldo alugou uma pequena casa em outro subúrbio para morar com Teresa, uma menina pela qual ficou perdidamente apaixonado e que estava grávida, esperando um filho seu.
Haroldo sempre soube enfrentar as dificuldades e nunca deixou ser abalado pelos problemas familiares. Com quatorze anos ele conseguiu seu primeiro emprego de auxiliar de pedreiro, tinha orgulho por ajudar sua avó com a pouca grana que conseguia. Aos dezesseis, conheceu Teresa no colégio noturno que frequentava, ele perdia horas a fio com a menina nos intervalos e no fim das aulas, onde quase sempre fugiam para namorar em um terreno baldio ou nos fundos do cemitério. Aos dezoito ele pegou o cargo de pedreiro em uma grande construção. Aos dezenove teve a maior notícia de sua vida, seria pai! Aos vinte toda sua vida desandou.
Bum. Bum. Bum. Bum.
– Preciso que abra a porta, senhor. Tenho que fazer meu trabalho.
Maldito homem, ainda estava esperando.
– Você ainda não disse seu nome. Quem é você?
– Pode me chamar de Caim.
– Quem o mandou aqui, Caim?
– Vim aqui, porque é necessário, o nome de sua filha está na minha agenda, então tenho que vê-la.
– Isso não responde minha pergunta. –Nesse momento Haroldo pressentiu algo ruim, ele engatilhou o revólver. – Saiba que estou armado, saia logo daqui se não quiser levar um tiro.
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Meu Caderno Visceral
Short StoryCada capítulo trás uma nova história carregada de emoções, de realidade e de fantasias. "Os vícios são capazes de abstrair a realidade, cuidado com os vícios, saiba dosar ou viverá em sua própria fantasia."