Capítulo IV | Você não pode comer o que quiser.

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CAPÍTULO IV

DO ALIMENTO

Art. 9º As cestas básicas serão entregues em dias específicos, sem caos ou tumultos.

Art. 10 Fica sob a responsabilidade do cidadão repor os alimentos em falta na própria moradia desde que tenha em consciência que as quotas valem para todos.

Art. 11 O Ministério da Ordem não tem qualquer apelo sobre os preços, a distribuição ou a segurança de alimentos comprados.

Art. 12 Estão sob total jurisdição do Ministério da Economia os:

I – supermercados;

II – lojas de conveniência;

III – feiras;

IV – lojas de reposição;

[...]"

-- Mãe? – Gritei outra vez, onde aquela mulher se enfiou? A casa nem é tão grande assim. – Manhê? –

-- O que você quer agora, menino? – Ela gritou de volta da varanda e fui até lá, fiquei observando Alice tirar as roupas da máquina de secar. Coisa que acho que eu deveria ter feito, mas talvez eu não tenha lembrado.

-- Meu cereal acabou. – Falei coçando a nuca e ela me encarou enquanto dobrava um lençol com elástico em uma velocidade impressionante.

-- Come até com farinha isso aí, não tem estoque que dure. – Minha mãe comentou colocando o lençol dobrado em cima da máquina e pegou uma toalha de banho, aquela era minha e a tinta de cabelo seca não me deixava negar.

-- Não como com farinha. Como puro, com leite, às vezes com água mesmo sendo nojento e é só quando o leite acaba também... – Murmurei passando o pé descalço na divisa entre a sala e a área de serviço, Alice suspirou e negou com a cabeça.

-- Vai comer outra coisa, não tem chocolate? – Ela perguntou e neguei com a cabeça. – Sorvete? Tinha bolo por aí. –

-- Tem nada, a cozinha tá parecendo saleiro. – Resmunguei sentindo meus níveis de glicose pedirem socorro.

-- Vai comer açúcar puro então. Derrete e faz caramelo, só para de encher o saco que eu tô dobrando roupa. – Alice resmungou de volta jogando a minha toalha personalizada na minha cara, ela tava até dobrada antes disso. – E não era pra eu fazer isso, quem deveria estar fazendo isso? Não sei... Não sei. –

-- Mãe? – Chamei vendo a mulher começar a dobrar as coisas todas no automático. Sabe quando a sua mãe começa a resmungar até com a parede porque você não lavou a louça? Então, só que a louça eu lavei. – Mãe. –

-- O que é?! – Ela perguntou colocando as minhas roupas dobradas na cesta, aí virou pra mim, cruzou os braços e se escorou na máquina.

-- Tem pudim não? Me ensina a fazer pudim? Mas sem o caramelo que eu não gosto muito. – Pedi sorrindo e ela sorriu também, aquele típico sorriso "só não meto a mão na sua cara porque é crime". – Ei, se não tem doce o que eu vou comer no café da manhã? –

-- Meu chinelo. – Minha mãe respondeu colocando a cesta nas minhas mãos e me encarou séria. – Guarda isso direito senão eu te conserto na porrada. –

-- Uau... E eu aqui pensando de onde tirei essa minha parte meio bipolar, uma hora atrás ela até me amava... – Comentei abrindo a porta da área de serviço até o fim porque a cesta não ia passar e ela deu risada. – Ri do meu esforço mesmo. –

Desejo-te anarquiaOnde histórias criam vida. Descubra agora