Capítulo VII | Você não pode assistir o que quiser.

63 4 75
                                    

"[...]

CAPÍTULO VII

DO ENTRETENIMENTO

Art. 20 Para proteger e influenciar positivamente na educação, o Ministério da Cultura tem como papel bloquear todo e qualquer material ofensivo disponível.

Art. 21 Qualquer cidadão pego compartilhando, vendendo, comprando ou alugando qualquer tipo de mídia que não se encaixe no padrão recomendado pelo Ministério da Cultura será devidamente punido.

Art. 22 Torna-se proibida qualquer mídia que envolva:

I – degradação do perfil nacional;

II – excesso de palavras de baixo calão;

III – conteúdo imbecilizado;

[...]"

-- Pietro. – Minha mãe chamou, pela centésima vez, e suspirei. Eu já tinha lavado a louça, já tinha colocado a roupa pra lavar, já tinha ido fazer as compras dela, já tinha até levado o cachorro pra passear e nem cachorro a gente tinha. – Pietro! –

-- O que tu quer de mim? Quer a minha alma? Não dá, já vendi. – Resmunguei levantando da cama, perdi mais tempo chutando os cobertores pro lado e me enrolando neles sem querer, e continuei resmungando um monte de coisas até chegar na sala e encontrar a bonita na frente da televisão. – O que tem eu? –

-- Aquele garoto que você gosta foi preso. – Ela respondeu apontando pra televisão e meu coração parou um pouquinho, me joguei ao lado dela no sofá e prestei atenção na notícia até perder o interesse.

-- Quem foi que disse que eu gostava desse moleque? O garoto existe na internet faz uns três anos e eu nunca vi ele abrir a boca pra dizer algo útil. – Murmurei encarando a televisão como se tivesse algo além dela, não tinha nada.

-- Ué... Mas não é você que vive deixando de fazer as coisas por causa de stream? O garoto é streamer. – Ela murmurou gesticulando demais e suspirei por causa da quantidade de sono que me consumia.

-- Tem cinquenta mil streamers por aqui, eu gosto de três! Não sai generalizando as coisas que é feio. – Resmunguei levantando do sofá e passei na cozinha antes de voltar pro quarto carregando meu estoque de porcarias pra comer, já que me acordaram era hora de atualizar as séries.

-- Esfomeado! – Alice gritou da sala e eu podia ter fingido que não foi comigo, mas eu e ela temos o mesmo sangue.

-- E você nem viu o tamanho do balde de pipoca no seu colo, né invejosa?! – Gritei de volta deixando as coisas na cama, peguei o notebook em cima da escrivaninha, apaguei a luz e voltei pro meu lugar no mundo.

-- O que você tá fazendo? – Minha mãe perguntou aparecendo na porta alguns silenciosos minutos depois... Já disse que é só eu ficar quieto pro povo querer me atentar, mas ninguém acredita em mim.

-- Pensando em qual série eu vou ver primeiro. – Respondi concentrado em encarar a tela de iniciação do Windows no notebook pra motivá-lo a ir mais rápido, Alice me empurrou pro canto da cama e sentou, questionei ela com aquele olhar de "quem te chamou aqui?" e suspirei ao ganhar um olhar de "que foi? Eu posso" em troca.

-- O que a gente vai assistir primeiro? – Ela perguntou se enrolando mais no cobertor dela e colocou o balde de pipoca entre nós dois, sério?

-- Acho que eu vou assistir Please Like Me, você eu já não sei. – Respondi abrindo o navegador e deu até aquele gelo de abrir na última página em que parei, nunca lembro o que eu estava fazendo antes.

Desejo-te anarquiaOnde histórias criam vida. Descubra agora