A MINEIRA
O nascimento de uma criança é sempre bem vindo de acordo com a bíblia, os pais se felicitam diante da gravidez, acompanham seus estágios, brilham com o primeiro chute, escolhem nomes com antecedência, passam pelas dores do parto e enfim começam a criar seus progenitores com louvor, dando-lhes, com o suor do rosto, o que não poderiam, simplesmente para satisfazer os desejos de seus pequenos seres humanos. Porém ao nascer mais uma menina na família Costa, a felicidade não existia, apenas lamúrias, assim como no nascimento dos filhos que se seguiram. Emeline Costa, nascida para trabalhar, começou a labuta aos 13 anos e precisamente hoje, no dia do seu aniversário, completa três anos de mina. Sua família é composta por nove pessoas: o Sr. Costa, de 40 anos; a Sra. Costa, de 38 anos; Lúcio, de 22 anos; Marcio, de 19 anos; Emeline, de 16 anos; Roberto, de 15 anos; Paula, de 8 anos; Raul, de 5 anos; e Ilda, de 3 anos. Todos, com exceção dos três mais novos, trabalham e dividem quatro cômodos — dois quartos, uma cozinha e uma pequena saleta na entrada — na pensão precária da Sra. Rodrigues, a qual abriga e cobra o possível dos mineradores.
A bacia carbonífera de Santa Catarina não fornece as melhores hospitalidades à manada que acorda às quatro da madrugada, toma uma xícara de chá, que com a miséria, passou a ter gosto de água quente e reparte igualmente os pedaços de pão — migalhas — que será consumido no almoço. Aos passos entre as labaredas a caminho do trabalho, ainda escuro e gelado, consegue-se visualizar o vermelhaço dos rios contaminados que cortam a estrada e próximo aos buracos desolados, o solo morto, absorto em ferro e enxofre. O grupo, junto um ao outro para evitar os cortantes ventos da manhã, se aproximam do pequeno núcleo improvisado onde homens, mulheres e crianças, incluindo Emeline, adicionam aos seus farrapos de roupa, um macacão verde, etiquetado com o lema da empresa "Quanto mais cheio os tonéis, mais bem pago será". Um slogan tão bem encapuzado em mentiras que um forasteiro não imaginaria que qualquer um deles, nas últimas semanas do mês, não tinha mais de onde tirar um caldo ralo de sopa e muito menos mais dinheiro para uma cenoura.
Emeline tem olhos cor de mel que contrasta com seus cachos escuros e desgrenhados, seu corpo não é um manequim perfeito, mas tem belas formas que seriam admiradas em outras ocasiões. Contudo, a vida de quem nasceu pobre nunca será fácil e a juventude desta adolescente é embebedada, a maior parte do tempo, pela cor do carvão, do suor e da brutalidade. A cada baioneta empurrada para fora rezava, assim como seu pai e irmãos de picareta nas mãos, para que nenhum fosse recusado e os poucos grilhões que ganhavam fosse garantido. Por mais exaustivo que seja, independente das dores e machucados, nenhum deles abre a boca para comentar as desgraças que os cerca, a não ser quando chegam e a Sra. Costa lhes pragueja ao ver a quantia que trouxeram, embora ela soubesse da dificuldade que encontravam, obtinha o conhecimento de que fora a sua, tinha oito bocas para alimentar e que o choro da fome aumentava a cada dia.
— Emeline — Chamou a mãe enquanto o sol se punha.
— Sim?
— Não tem mais pão, seu pai não tem mais um tostão para me dar e os seus irmãos! Ah, aqueles inconsequentes! Gastaram tudo em vodca ontem à noite. E a sopa, será a última, só tenho batatas para agora, Paula e Raul estão tão magrinhos! E a Ilda, ah, está empanturrada de leite, mas não para de chorar.
— Mas eu também não tenho mais nada, eu... — Olhando para sua mãe soube o que viria, então antecipou: — Vou tentar com a Sra. Oliveira...
A miséria é um dos males que perdura por mais de mil anos e quando estamos nessa empreitada, tudo o que se pode fazer vira dever imediato. É isso que Emeline tem na cabeça ao bater no quarto da Sra. Oliveira, relembrando da última conversa que tivera, quando fora pedir um trocado para aguentar até o dia do pagamento, mas não se recordava do por que não havia obtido sucesso.
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A morte barafustada
Короткий рассказ''A morte não é um fruto proibido mordido por tentação, é degustada por temerosas almas e acalentada como uma mãe ninando ao filho.'' O Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina, é a arena da existência de algumas mulheres. Talvez se pareçam...