- Acho que ainda é cedo para tomar uma decisão tão importante, sr. D. - Eu sabia que não tinha escolha, mas estava tentando conseguir mais algum tempo para me convencer de que aquilo era o certo a se fazer.
- Seu tempo está acabando, Josh. Se você não aceitar, precisarei escolher outra família.
- Você pode me dar mais alguns dias?
- Se decida, espero obter uma resposta o mais breve possível.
- Josh! - minha avó gritou - visita para você!
Desci as escadas com uma rapidez quase que inacreditável, deixando de lado as duas ou três vezes que quase caí.
- Você não vai acreditar, Josh. - a minha avó falou quando eu apareci na escadaria da sala - eu mesma não acreditei quando vi.
- Quem está aí? - perguntei ofegante, com o coração a mil por hora.
- Ele está te esperando na varanda.Parei um pouco. Dei um longo e profundo suspiro. Limpei o suor das minhas mãos. Tomei coragem, e abri a porta da frente.
Rapidamente, um rapaz moreno, alto e forte, levantou-se de um pulo da cadeira de balanço. Ao seu lado, várias malas e algumas sacolas.
- Quem é você? - perguntei, surpreso.
- Não acredito que vivi para ver este momento. - lágrima escorreram de seus olhos sem ele perceber, e, lentamente, ele se aproximava. - Como você está crescido!
- Quem é você e o que quer? - hesitei, dei alguns passos para trás até chegar no pilar do outro lado da varanda.
- Você não se lembra de mim? - ele também hesitou, andando para trás - Josh, eu sou seu irmão.
- Eu não tenho irmãos, a minha única família é a minha avó. - falei alto, encarando o chão.
- Eu me chamo Vincent. Fui criado pelo nosso pai, quase do outro lado do mundo. Quando soube que você ainda estava vivo, enfrentei tudo e fui contra todos só para ver você.
- Não, é impossível. Meus pais morreram e você me confundiu.
- Mortos? Nossos pais? Não! Eles estão bem e regozijam de boa saúde. Eles... foram totalmente contra, em relação à minha visita. Mas eu não consegui me conter, eu tinha que ver você.
- Por que? Por que eles me deixaram aqui? Por que eles não me deixaram ter uma vida normal com uma família normal?
- Você não é normal, Josh. Você é o receptor da nossa geração. O nosso pai não quis seguir o que o nosso avô propôs para ele. Era perigoso demais. Então, quando você ouviu a voz do Destino pela primeira vez, ele... ele não quis se envolver no seu futuro, por isso deixou você sob os cuidados do nosso avô Eli.
- Isso é sério? Isso é realmente sério? Por que ninguém nunca me contou que eu tenho uma família? Que eu não sou um zé ninguém que mora com a avó porque os pais alcoólatras e viciados morreram num acidente de carro.
- Você ía tentar fazer contato com a gente, e ninguém queria isso.
- Não queriam... Não queriam me ver? Eu sou tão horrível assim?
- Não Josh, não! Não é nada disso. Nós ficamos com medo, porque o Destino estava do seu lado. E se você ficasse zangado com a gente, facilmente você nos mataria... era por isso que você nos preocupava tanto. Josh, ao contrário dos nossos pais, eu quis ver você. Aquela casa é grande demais para um filho só. Eu... eu vim buscar você.
- Veio me buscar? Você vai tentar me convencer de que aquele "lar" é o melhor lugar para mim? Eu não serei bem recebido lá, você vão vê? Eu vivi até hoje acreditando numa MENTIRA! - gritei - vocês estão todos vivos, mas estão mortos para mim.Abri a porta, mas antes que eu entrasse, falei:
- Volta pra casa, Vincent. Eu vou viver como se nada disso tivesse acontecido, ok? Vou levar a minha vida normalmente, assim como eu a levei sempre. Fala para os teus pais - sorri enquanto as lágrimas escorriam - que eu estou bem, e vou ficar melhor. Não preciso de vocês, nunca precisei. Não vai ser agora que...
Antes que eu pudesse terminar minha fala, ele correu até mim e me abraçou. Nós dois ficamos ali, um chorando no ombro do outro. Eu não consegui acreditar que aquilo era realmente verdade, que toda aquela porrada de informações eram todas verdadeiras. Eu tinha um irmão. Um irmão que se preocupava comigo. Um irmão que nunca se esqueceu que eu existo... eu havia acabado de conhecer uma peça importante do meu quebra-cabeça chamado vida. Eu estava tão feliz...
- Muito obrigado, sr. D. - sussurrei antes que nos separássemos.
- Eu não vou embora sem você, Josh. - disse ele enquanto limpava o rosto - Se você não for, eu fico.
- Você vai ser muito bem-vindo aqui.
Algum tempo depois, eu estava o ajudando a se instalar no quarto de visitas, ao lado do meu.
- Eu espero por este momento há tantos anos... - ele se sentou na cama e falou após um longo suspiro - o que você faz para se divertir por aqui?
- A minha definição de diversão é um pouco peculiar, porque, na verdade...
- Você não faz nada, não é?
- Bom, eu toco piano, leio alguns livros...
- Isso não é diversão, Josh. - ele se deitou - Você não sai com seus amigos?
- Bom, isso é engraçado, porque...
- Você não tem amigos. Quantos anos você tem?
- Tenho dezesseis.
- Sou só um ano mais velho que você e já fiz tanta coisa. Você está na melhor fase da sua vida, e...
- Espera - o interrompi - então essa é a melhor fase da vida?
Ele sorriu
- Sim cara, essa é a melhor fase da vida. - bocejou - você pode me dar licença? Preciso descansar.
- À vontade.
Saí do quarto, ainda sem acreditar que ele estava aqui.
- Vó? - entrei na cozinha, ela estava fazendo o jantar- vó, por que não me disse que eu tenho um irmão? Ou que eu tenho uma família?
- Seu pai me fez prometer que eu não contaria à você. Aos olhos dele, você é perigoso. Por isso se afastou.
- Por causa do sr. D?
- Sim. Eu e Eli fomos totalmente contra, mas ele insistiu nisso, nós ficamos de mãos atadas.
- Mas... tudo bem, não é? Você me deu uma educação esplêndida e eu aprendi muita coisa com o vovô. Eu... eu não preciso deles.
- Que bom que você não está chateado, meu querido. - lá no fundo, eu estava sim.
- Vó, eu estou pensando em aceitar a proposta do Destino.
- Josh, você tem que ter em mente que o que vai fazer, vai mudar totalmente a sua vida. A sua rotina, os seus costumes e a sua maneira de pensar vão ser totalmente transformadas. Você precisa pensar não só na humanidade, mas em você. Na sua vida. No impacto que isso vai causar. E, se você estiver disposto a abrir mão de metade da sua história, você pode aceitar estando ciente das consequências.
- Eu ainda estou pensando, vó. Ele me disse que não lida com o amor, e é isso que me preocupa. E se eu acabar me apaixonando? E se eu tiver de escolher entre você e algo que ele me propor? - abaixei a cabeça, tentando colocar os pensamentos no lugar - eu não quero ter que fazer uma escolha difícil, vó.
- A vida é feita de escolhas, meu filho. E a maioria delas não são fáceis de fazer. Querendo ou não, você sempre vai deixar algo, ou até mesmo alguém, para trás.
"Mas eu quero que saiba que não importa o que você decidir, não importa o que você pense ou faça, eu vou sempre, sempre amar você."
- Eu não vou deixar de amar você, vó. - me levantei - Essa nossa conversa me deu uma ideia fantástica. Obrigado!
- O que vai fazer?
- Vou deixar o sr. D decidir, vou fazer algumas propostas à ele.
Saí correndo dali, quase atropelando o Tom, o gato da minha avó, que estava tirando um cochilo no tapete da sala. Subi a escadaria de madeira velha, até chegar à porta do cômodo 099. Respirei fundo. Eu estava decidido, ía mesmo fazer aquilo. Acabei sorrindo para mim mesmo, e, depois de quase cinco minutos tentando recuperar o fôlego, entrei.
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O ÚLTIMO HOPE
Science FictionO que fazer quando você é o último Hope que restou da sua geração? O que fazer quando o destino te escolhe como receptor de informações e te manda fazer coisas que, às vezes, aos seus olhos, parecem erradas? Sei que é difícil de acreditar e entende...