03

458 82 96
                                    

11/02/2012

Balanço as pernas no ritmo da música jazz nos fones, encarando o jornal do dia. O parque está relativamente vazio, apenas um homem passeia com o labrador de olhos cansados. O frio é rigoroso e eu esfumaço pela boca. Sou incapaz de captar as palavras, ou ruídos sonoros. Minha dor é maior, e eu os contemplo em silêncio. Me engano na minha própria gratidão.

As notícias são dessa semana, voltadas com uma atenção maior ao que aconteceu na madrugada de hoje, dia onze; a madrugada em que foi realizado o grande evento da solta de balões coloridos em homenagem ao aniversário da cidade. Não estou interessado.

Tiro os fones de ouvido e pego a caneta permanente no bolso, pintando em letras curvas e fortes, bem grande, o nome de Hyunjin. Letras maiúsculas, engrandecendo sua liberdade; aquela que diverge da vida.

Deixo o banco da praça e corro em direção ao farol recém construído na beira da praia; um ponto turístico para que possam observar as ilhas maravilhosas anexadas à cidade. Ao chegar na escadaria, empurro corpos despreocupados ㅡ corpos redondos feito balões, libertos em comemoração. ㅡ Já no alto, dois casais e uma solitária mulher-balão observam esperançosos a grandeza e beleza das ilhas não tão distantes. Tento sorrir, causando a impressão de ser para a ilha, mas a verdade é que sorrio na direção dos pequenos balões despreocupados. Ninguém vê. Ninguém retribui. Não fico chateado. Eu mereço.

Debruço sob a barra, perdendo as forças subitamente, levada pela falta de fé, pela falta de alguém. Me sinto estúpido, desmerecido, cínico.

Com o pouco resto da força, tiro o jornal do bolso, dobro-o até formar um avião e o arremesso direcionado às ilhas anexadas, tão belas quanto o sorriso brilhantes nos olhos de Hyunjin; aquele brilho inalcançável pela ironia do tempo.

ㅡ onze dias. loona + nctOnde histórias criam vida. Descubra agora