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11/05/2012

É insuportável.

É altamente corrosiva.

É verdadeiramente dolorida.

Abro os olhos diante a órbita ao redor enquanto a felicidade se esvai num sono profundo, cercada de astros abençoados da própria imensidão, fascinante.

Mais um pesadelo.

Não quero chorar.

Levanto da cama e, com a agilidade de uma raposa, agarro o buquê de flores na cadeira de canto em meu quarto, calço as botas, visto o cachecol e as luvas e parto em direção ao cemitério.

Tento clarear meus pensamentos, mas borro em neblinas fantasiosas e memoriais. Lembro-me de um momento. O meu maior segredo, a maior angústia, a maior paixão.

Aula de espanhol. Fui convidado a me retirar por ter cochilado. Minha cabeça explodia em dor e tensão da noite passada, porque passara a madrugada inteira no hospital. Impaciente, rude. De saco cheio, bati a porta. Hyunjin veio logo atrás.

Eu sabia que ela tinha algo comigo. Desde os rumores até o próprio comportamento. E eu me recusava a reconhecer a imensidão de seus sentimentos, temendo o mesmo, com medo de me perder no vácuo do espaço. Me aconchegava na sabedoria rasa de uma especificidade tão potente que minha cabeça rachava toda vez que pulava pequeno.

Mesmo que eu soubesse, mesmo que acreditasse saber ou entender. Mesmo na possibilidade amá-la feito fragmentos de uma órbita solitária.

ㅡ Renjun ㅡ a voz macia e acolhedora embrulhada em fúria e seriedade. Eu apenas a olhei de volta, do outro lado do corredor, esperando que dissesse alguma coisa.

Silêncio.

Tentei seguir caminho até o pátio aberto. Precisava tomar um ar. Mas Hyunjin veio logo atrás, os passos rápidos golpeando a parte de cima do meu crânio. Desviei do caminho, acabando debaixo das escadas que seguiam até à secretaria, segurando lágrimas na beira de um abismo no qual me precipitava frequentemente.

ㅡ Eu sei que você recebe minhas cartas ㅡ ela se sentou na minha frente, um curto espaço entre nós. ㅡ Sei que você as lê.

Não respondi. Soluçava, meu corpo tão frágil como cachoeiras diurnas. Estava tudo dando errado, mas tão errado. Lutava comigo mesmo, uma ancora enorme me prendendo ao chão, pensamento ruins e melancolia desmedida. Mamãe estava com câncer, eu me permiti a dor e a tristeza. Porque precisava dela. Precisava mais do que qualquer outra coisa.

Porque mamãe é como fragmentos perdidos de uma órbita instável.

ㅡ Mas não é disso que vim falar ㅡ Hyunjin prosseguiu. ㅡ Sei que me compreende. Sei que você vê essas palavras no topo do seu coração e as coloca para enfeitar a prateleira de armários sinápticos. Assim como também sei que não tem tempo de pensar ou responder, que passa muito tempo no hospital, que essa dor da perda é uma ferida aberta e profunda, porque eu também não tenho pra onde correr. ㅡ Suas palavras como profecias sagradas, sinceras e puras. ㅡ Só que você não pode se esconder debaixo do caos. Se puder, chore. Se quiser, grite. Só não minta pra si mesmo. Não fuja da dor.

Então foi por isso que você se matou, Kim Hyunjin? Para se livrar da dor?

No instante seguinte, Hyunjin agarrou minhas mãos, se aproximando perigosamente dos meus lábios. Prendi a respiração enquanto as lágrimas escorriam.

ㅡ Não estou pedindo para que esqueça do amor que tem pela sua mãe ou para que aceite meus sentimentos ㅡ sussurrou, a voz tão chorosa quanto a minha. ㅡ Apenas finja, durante esse curto período, durante esses miseráveis minutos, que me ama mais do que qualquer coisa e que não há somente uma coisa a qual você tem para se agarrar nessa órbita fragmentada. Você merece muito mais, você é muito mais ㅡ disse, beijando minha boca salgada de lágrimas.

Parei de correr.

Chegara em frente sua lápide.

ㅡ Jamais serei capaz de dizer o quanto sinto muito por milhões de coisas ㅡ encarava a assombrosa data. ㅡ Mas eu a amo. Talvez não seja do jeito que você me amou, mas a amo com tudo que tenho, como todos os seus infinitos significados, que não se limitam somente à fragmentos. A minha órbita é uma bagunça, de qualquer forma. Mas você é um mundo de ponta cabeça, Hyunjin. O meu sangue corre do contrário, meu rosto vermelho por sua causa. Somente por sua causa. É o centro de tudo, um lugar sem saída. Por favor, eu sinto muito.

ㅡ onze dias. loona + nctOnde histórias criam vida. Descubra agora