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Dois meses depois, 11/10/12

Estava marcado no calendário com caneta vermelha. Meu trêmulo coração se apertava no meio dos números.

Enquanto pintava a aurora boreal no enorme cartaz, mamãe terminava de pendurar minhas cartas escritas a mão ㅡ respostas das cartas de Hyunjin ㅡ na ponta dos tsurus. Estava ficando tudo muito bonito. Meus amigos Taeyong e Jisung dobravam incontáveis jornais de papéis num canto do estúdio, rindo silenciosamente.

A obra se completava aos poucos, mas o vazio em meu peito jamais seria preenchido nem se eu cortasse todas as árvores do mundo e as transformasse em pássaros amigáveis de papel.

É muito tarde para dar meia volta e tentar salvar um vilarejo em chamas; tarde para recolher os cacos de estrelas desbotando; tarde para recuperar as lágrimas derrubadas num lago cristalino. Os resultados de minhas ações foram como a farinha no bolo: sem voltas.

Mas não é como se eu merecesse. Afinal, o que seria de mim caso jamais notasse que a desgraça está nas chamas dos problemas e não nos incendiadores vulneráveis, tão carne e unha quanto eu? ㅡ É tudo tão mesmice; praxe. Eu deveria saber ㅡ; o que seria de estrelas eternamente brilhantes se não deixassem de ser uma única vez? Talvez se tornassem preguiçosas, dadas, sem vontade de alcançar os objetivos, realizar desejos cadentes. É bom afogar e realizar o que sempre esteve em sua frente, que antes não podia vê-lo. Gratificante amadurecer, entretanto, doloroso.

Eu entendi Hyunjin. Depois de tanto persistir na ideia de que nada mais podia ser feito, vi-me agarrado a uma única existência fragmentada no vácuo, uma história semelhante, tão dolorosa quanto qualquer outra.

Porque a única que eu tinha em minha vida era mamãe.

Porque eu tinha depressão.

Porque, nem em um milhão de anos, gostaria de sentir o que Kim Hyunjin sentiu, sendo deixada como ordinário satélite estacado à dura e real infâmia. À bruta e triste decadência. À dificuldade de palavras e organização. Ao silêncio.

Era a razão pela qual. E ninguém perguntava, ninguém se importava. Ninguém nunca entenderia de fato.

Porque Kim Hyunjin é Kim Hyunjin e mais ninguém.

Porque eu sou Huang Renjun e mais ninguém.

Porque você é você e mais ninguém.

E o que mais dói nisso é saber que, logo, você está por conta própria.

Porque deixou de acreditar, deixou de segurar, deixou de sentir.

O fragmento solto, deixando uma cicatriz sangrenta nas delicadas e fortes mãos de Hyunjin.

Decidiu me soltar.

Decidiu me soltar, porque minhas feridas se pareciam mais com espinhos do que com qualquer outra porcaria de coisa.

E eu sinto muito. Muito, muito, muito.

Acho que sou um satélite solitário. E há a porra de uma placa fincada escrito "ESTOU TÃO TRISTE".

ㅡ onze dias. loona + nctOnde histórias criam vida. Descubra agora