Em 45 dias a gente termina tudo.

Prólogo

- 45 dias?

Dean me olhava como se estivesse cogitando a ideia de eu ter ficado louca.
Ele faz bem em pensar isso. Talvez eu tenha mesmo surtado. Qual a outra explicação para eu estar fazendo isso? Com certeza eu tô pirada.
Adeus, mamãe e papai, eu preciso ir para um hospício!

- Sim. Por 45 dias.

Eu explico pacientemente, tentando disfarçar minha loucura eminente. Talvez, se eu fingir que estou com tudo sob controle, ele não saia correndo para dizer aos meus pais que eu preciso ver um psicólogo urgente.
Dean coça o cabelo e olha ao redor como se esperasse que alguém aparecesse para ajuda-lo. Eu espero que ninguém apareça. Planejei esse encontro minuciosamente. Passei uma semana observando Dean para poder gravar seus horários de aula. Então, o persegui o dia inteiro de hoje até pega-lo sozinho. Sem amigos por perto. Nem os dele e nem os meus. Sem professores. Apenas eu e ele.

- Eu não entendo, Gabi. Você quer que eu finja ser seu namorado?

- Isso! Exatamente. Não é tão difícil de entender, né?

Mas pelo jeito que ele me olhava parecia ser bastante difícil sim.

- olha, não me entenda mal, sabe? Você é bonitinha e tudo, mas porque você acha que eu iria querer uma coisa dessas?

Tento não me ofender pelo "bonitinha". É quase a mesma coisa de dizer que me acha jeitosinha, certo?
Eu tomo fôlego antes de continuar, não achei que ele fosse aceitar facilmente, por isso vim preparada para argumentar.

- Vai ser bom pra você, Dean. Você está em um período bem crítico da sua vida agora.

Ele ergue a sobrancelha. Seu corpo se projeta para a frente, apoiando os cotovelos na mesa que nos separa. Sua expressão é interessada, curiosa e um pouquinho divertida.

- Um momento crítico ?

- Sim! Os olheiros.

- O que diabos os olheiros tem a ver com essa maluquice que você está me propondo?

- Veja bem, você pode ganhar uma bolsa de estudos para a faculdade dos seus sonhos, todo mundo da escola sabe que você é o melhor jogador do time.

Ele não discorda. Um sorriso convencido surge em seus lábios.
Dean é mesmo o melhor jogador de futebol americano da escola. Graças a ele, nós somos bastante acostumados a vencer. Os dias de jogos são uma loucura.

- Isso é verdade. E isso continua não tendo nada a ver com o que está acontecendo aqui.

- Eu vou chegar lá. Bem, como eu ia dizendo. Você é o melhor jogador da escola. Mas existe muita gente boa por ai. Eu tenho certeza que você tem capacidade, sei disso. Mas você precisa se dedicar

Dean assente. Sabia que ele concordaria com isso. O futebol é sua grande paixão.

- Tá legal. Continue.

- Então, eu vou te ajudar nisso. Se você aceitar ser meu namorado de mentirinha as garotas vão ficar longe.

Ele ri.

- Por que eu iria querer algo assim?

- Pra poder se dedicar ao futebol!
O sorriso debochado está lá de novo.

- Eu acho que posso fazer as duas coisas

Eu duvidava muito. É sério. Vocês não fazem ideia do número absurdo de garotas que ficam em cima dele. Aposto que o seu whatsap está sempre lotado.
Não pode ser fácil administrar tudo isso!