Capítulo 23

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Seguro o telefone apertado. Respiro com dificuldade, é oficial, meu coração quebrou totalmente. Por que ele fez isso? Ele não pensou no pai? Não pensou na familia dele? Não pensou em... mim?

Porque Ariel tinha que ser tão egoísta? Ele acha que pode fazer o que der na telha e não vai ter nenhuma consequência?
Droga de garoto inconsequente!
-Mel? Você está aí? Está tudo bem? -Escuto a voz de Becca do outro lado da linha. Esqueci que ainda estava com ela no telefone.
-Sim estou bem. C-como você ficou sabendo disso Becca? -Engulo a pouca saliva que ficou na minha boca, do contrário não vou conseguir falar mais uma palavra sequer.

-Resumindo tudo, minha mãe é médica la no hospital, alguma criança vomitou nela e ela me pediu uma muda de roupa porque as que ela tinha já estavam todas sujas, quando eu cheguei lá, eu vi tudo Mel. Ariel saindo inconsciente da ambulância na maca, os médicos estavam correndo. Mamãe apareceu bem na hora e trocou de roupa ali mesmo na frente de todos e imediatamente começou a atender o garoto. Eu... eu sinto muito Mel, estava meio que em choque até agora, por isso não te liguei antes...

-Não se preocupa Becca, obrigada por ligar, vou ver se consigo ir ao hospital agora. -Minha voz falha ao dizer as duas últimas palavras.
-Tudo bem, eu vou estar na sala de espera okay?
-Okay, nos vemos então... te amo amiga.
-Também te amo... e Mel?
-Mm?
-Vai ficar tudo bem.

Balanço a cabeça e desligo o telefone. Só depois de alguns minutos percebo que ela não poderia ter visto o movimento.
Encosto a cabeça na janela e vejo as pessoas caminhando lentamente, voltando para casa ou quem sabe começando a trabalhar agora, enfim, vivendo suas vidas sem ao menos ter ideia de que há uma pessoa lutando entre a vida e a morte nesse exato momento.
Eu te amo tanto Ariel, mas no momento te odeio na mesma medida.

Mamãe coloca a mão na minha perna e olho para ela buscando conforto nos seus olhos cálidos.
Ela limpa uma lágrima que escapa dos meus olhos e eu me aconchego no seu toque.

-O que aconteceu filha? -Pergunta colocando a outra mão no meu rosto e só agora me dou conta de que estamos estacionados.
-O... -engulo seco novamente -o Ariel teve uma overdose, está no hospital nesse exato momento.
-Oh meu Deus! -Agora suas mãos vão parar no próprio rosto e a preocupação é evidente na sua expressão.

-Eu... eu nem sabia que ele se drogava mãe! Como eu não percebi? Quem sabe... quem sabe eu poderia tê-lo ajudado, eu deveria ter feito alguma coisa, eu...
-Meu anjo, me escuta, -mamãe segura minhas mãos -você mesma disse, não sabia de nada. Como você poderia ajudar se não tinha ideia do que estava acontecendo? Ele tomou essa decisão sozinho meu anjo, ele sabia muito bem aonde estava se metendo, você não pode se culpar por algo que não conhecia! -Me abraça e eu desato a chorar novamente, eu sei que ela está certa, mas a sensação de culpa insiste em não me deixar.

-Vem, vamos. -Me solta e engata a marcha ré.
-Para onde? -Pergunto anestesiada pela dor no meu coração.
-Para o hospital, em qual ele está?
-No Saint German.
Balança a cabeça e mudamos a nossa trajetória. Durante todo o caminho minha cabeça dói e meu coração pesa.

Ainda não consigo entender porquê ele fez isso. Ele não parecia o tipo de pessoa que usa drogas, mas ninguém parece no começo não é mesmo?
Eu tenho a sensação de que nada vai ser como antes depois de hoje. Muitas coisas foram ditas e muitas atitudes foram tomadas, sinto... sinto como se eu fosse outra pessoa dentro de um casco vazio que vai diminuindo de tamanho a cada batida do meu coração.
Estou presa em um sentimento de amor e ódio e por mais redundante que seja, odeio a mim mesma por isso. Eu queria ter sido mais forte, queria ter ficado la na casa de Ariel e dito que ele não tinha o direito de dizer aquelas coisas, não tinha o direito de me ferir para descontar a própria raiva. Ele não tinha esse direito, merda!

Melissa - Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora