CAPÍTULO IV: Onde há fumaça...

2 0 0
                                    

O cheiro de coisa queimada passava pela máscara de gás dos soldados, chegando à suas narinas de forma desagradável. Todos os quatro seguravam firmemente seus fuzis, dedos na trava de segurança o tempo todo. O que estava na frente, cuja pichação no capacete fazia lembrar uma caveira com dentes serrilhados, fechou o punho. Todos pararam. Ele levantou os três últimos dedos da mão.

Instantaneamente, outro dos soldados ajoelhou-se ao seu lado, pegando de seu cinto um binóculos para analisar a cratera, que ainda expelia uma fumaça densa e negra.

Mal sabia ele que eles também estavam sob a mira de um binóculo.

— A patrulha chegou. – disse o ciborgue de cabelos brancos.

— Ótimo. – a voz de Sasha ressoou no rádio, um pouco abafada pelo som da estática. –Tentem se aproximar mais um pouco, mas sem chamar a atenção.

— Entendido. – respondeu Kane.

O grupo avançou com cuidado, parando numa distância onde contato visual com os homens da Glorya Crux já era possível a olho nu. Observaram os soldados se aproximarem cautelosamente da cratera.

De repente, um tonel de fogo saiu de lá de dentro. Mas o fogo parecia... vivo...

Aquilo logo se retorceu como um chicote, mandando dois dos soldados para longe. Os outros dois abriram fogo contra aquela coisa, mas as balas pareciam se dissolver ao menor contato. O tonel então cessou, e um silêncio total tomou o lugar dos estalos raivosos daquela chama.

— Mas que porra foi aquela... – disse um dos soldados – pelos Treze...

Uma figura então saiu da fumaça. Pela distância em que o grupo estava escondido, só dava para ver uma longa capa marrom com partes rasgadas, queimadas ou perfuradas. O encapuzado ficou parado, encarando os dois soldados que apontavam seus rifles, tentando manter a calma. Ele apenas estendeu o braço na direção deles, e a ponta das armas derreteram como se feitas de creme incandescente. Um dos soldados gritou um palavrão, jogou o rifle de lado e pegou uma pequena pistola tática de seu coldre, atirando de forma certeira na testa do atacante, mas, assim como aconteceu com as chamas, a bala se desintegrou antes de tocá-lo.

O encapuzado estalou o dedo e uma pequena labareda começou a dançar na palma de sua mão. Então ele girou o corpo e arremessou a labareda como um pitcher joga uma bola numa partida de baseball.

A pequena bola de fogo cresceu até o tamanho de um melão no trajeto entre o encapuzado e o soldado, atingindo seu peito e se pressionando contra ele, até que abriu um buraco em seu tórax, mas não saiu pelo outro lado. O guarda cambaleou alguns passos, até que o visor de seu capacete estourou com um novo tonel de chamas que parecia sair dos olhos e da boca do homem, junto com gritos inumanos de agonia. Então cedeu, caiu de joelhos e calou-se para sempre.

O outro soldado se rastejava desesperadamente até os cadáveres dos outros dois, tentando alcançar um fuzil que funcionasse. O encapuzado apenas encarou por alguns segundos. Quando o soldado alcançou a arma, sentiu que ela ainda estava fervendo e jogou-a longe, botando as mãos na neve. A figura de capuz andou lentamente na direção dele, que tremia de medo, mas parou a alguns metros de distância, abaixou e tocou a neve.

Uma estalagmite subiu de forma rápida e repentina, perfurando o soldado e levantando-o alguns centímetros do chão. Não houve tempo sequer de gritar. Lykos ficou olhando a cena, ainda horrorizado. Esse cara sabe que eles são maus, pensou ele, ou só matou eles por matar?

O fato de ele ter matado soldados da Glorya Crux podia não significar absolutamente nada, a julgar pela extrema frieza e brutalidade.

O empalador encapuzado se virou para eles, como se soubesse que estavam ali, e, com passos lentos, começou a se aproximar. Os ombros, tensionados por debaixo da capa, faziam lembrar um felino se aproximando de sua presa. Bem devagar.

Futuro Sombrio - File#1: Sussurros de uma revoluçãoWhere stories live. Discover now