CAPÍTULO VI: A Torre Aqueronte

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Carros pairavam baixo pelas estradas cobertas de neve numa simbiose perfeita: os aeromoveis mandavam pulsos que mantinham as estradas em constante leitura de dados, que por sua vez eram transferidos de volta para os carros evitando acidentes e engarrafamentos. As luzes da cidade pontilhavam o céu quase como se substituíssem as estrelas cobertas pelas nuvens, enquanto os mega-prédios desenhavam um quase claustrofóbico labirinto de concreto e aço. Em plena noite, a cidade ainda estava em movimento, ainda pulsava, viva, cheia de pedestres, cheia de luzes e cores. Em uma ponte alta, que ligava o quadragésimo quinto andar de duas torres, cinco silhuetas observavam as ruas, onde apenas os faróis dos aeromóveis eram visíveis, como se fossem vagalumes se movendo.

Uma das silhuetas estava debruçada sobre o joelho da perna apoiada no parapeito da ponte, enquanto seu sobretudo negro se agitava com o vento, junto de uma faixa vermelha escura presa em sua cintura. O cintilante olho dourado olhava atentamente para um viaduto suspenso na altura de aproximadamente seis andares abaixo.

— Vocês têm certeza de que ela está lá? – perguntou Shani.

— Nós quatro temos um elo psíquico com a Lilian. – respondeu Kane.

— Quando vamos entrar então?

— Agora. – disse Lykos, ainda focado na estrada.

— Não, vamos repassar o plano mais uma vez. – protestou Kane.

Lykos tirou os olhos da estrada e olhou para Kane numa expressão gélida, mas que passava um pouco do ódio que ele estava sentindo.

— Qual a utilidade de revisar o plano se já estamos na cara da missão? – perguntou Axel.

— Para termos certeza que não esquecemos nada. – Kane respondeu, secamente. Ao notar que apesar das caretas, ninguém realmente se opôs, ele continuou –Eu e Lykos vamos arranjar um jeito de entrar pelo topo da torre e procurar por Lilian, que é nossa primeira prioridade. Enquanto isso, Axel, Caver e Shani vão arranjar um jeito de botar a torre abaixo, já que ela é um dos maiores símbolos de influência da Glorya Crux na região.

—Na verdade, isso é um plano, assim, muito foda. – disse Caver, com certo desdém – vocês vão "arranjar um jeito disso", a gente vai "arranjar um jeito daquilo"... Eu tô pensando nisso desde a primeira vez que você falou, mas agora que eu parei pra pensar de verdade.... eu não faço idéia do que eu tenho que fazer pra derrubar a torre.

— Olha, isso a gente tinha combinado antes de sair da base. Tem um reator no centro da estrutura no primeiro subsolo. Você vai, planta alguns explosivos lá e, assim que a gente der o sinal, você detona. A explosão do reator vai causar uma reação em cadeia que vai por a torre inteira abaixo.

— Tá certo.... dessa vez eu entendi o que é pra fazer.

— Na verdade... – Axel observou – É a primeira vez que o Kane mencionou o reator. Quem falou dele antes foi a Sasha, e ela só tava apresentando a planta.

— Porque eu achei que vocês iam entender que se eu mandei vocês pro subsolo, era pra destruir o reator que a Sasha falou que podia destruir a torre. – Kane retrucou.

— Isso tá é me cheirando a migué. – disse Shani, terminando de checar uma última vez a munição de sua Mosin—Nagant. – Pode falar, Kane, você pensou nisso no caminho daqui.

— Claro que não – ele disse, dando um sorrisinho amarelo.

— Ah, qual é! Não é vergonha nenhuma, isso. Todos estamos preocupados com a Lilian.

— Galera. – Lykos interrompeu – O pessoal do Arthur estourou o prédio da câmara. É a nossa chance. Se enrolarmos demais aqui, as viaturas vão passar por nós. Shani, a tirolesa, por favor.

Futuro Sombrio - File#1: Sussurros de uma revoluçãoWhere stories live. Discover now