Handsome Devil

01

Todos nós temos algo de que nos envergonhamos, a lembrança de um momento tão vergonhoso a ponto de não acharmos possível superá-lo. Um momento que ainda nos desperta as quatro horas da manhã, banhados de suor.

Meu momento horrível ocorreu porque eu sentia medo. Eu tinha medo porque perdera o único amigo que já tivera. As pessoas fazem coisas ruins por medo.

Para mim, a boa vida terminou quando mamãe morreu uns anos atrás. De repente, meu pai se casou com Natalie, eles foram viver em Dubai, e eu estava num internato, no meio do nada.

Uma escola onde o rúgbi era uma religião e eu era perseguido diariamente.

-Legalmente, vocês não deveriam poder me forçar a ir para a escola. Legalmente, sou quase um adulto. -disse enquanto Natalie e meu pai estavam me levando para a escola, ou o que eu gosto de chamar, inferno.

-Você é quase um adulto, mas tem 16 anos. -disse Natalie fumando um cigarro e jogando as cinzas do mesmo na rua pela janela do carro.

-Sim. Sua idade é 16. Por isso, a ideia de permitirmos que saia da escola é absurda. -disse meu pai.

-Então, estão me mandando para a cadeia? -disse.

-Mas até os prisioneiros tentam se enturmar. Eles montam quebra-cabeças juntos, jogam pingue-pongue. -disse Natalie. 

-Esta prestando atenção ao que diz? -disse para Natalie.

-Como disse? -disse Natalie indignada virando-se para mim.

-Cass, adaptar-se faz parte de ser adulto. Deixar que abandone a escola seria quase mandá-lo para a cadeia. Quem larga a escola na sua idade se condena a uma vida lavando o chão de supermercados...

Meu pai era obcecado por pessoas que lavam o chão de mercados.

-...e, um dia, ao crime. -prosseguiu. -Natalie, o filho de Adam Quinn, foi expulso no ano passado e, agora, é vagabundo em Paris. -disse ele a Natalie.

-Não brinca. Sério? -perguntei a meu pai.

-Sim! Lê poemas dele no metrô por dinheiro. Quase um mendigo. Que coisa mais triste. Pense nisso.

Um vagabundo...em Paris! Eu teria adorado isso. Mas seria eu mau a ponto de ser expulso? Este ano nos diria.