Alguns dias se passaram desde que Balder fizera o pacto maligno com o feiticeiro Drazbuã, e Valgrind, o elfo cujo destino em ter se apaixonado por uma humana rendera-lhe o desprezo de seu povo, acordou assustado.
Mas não com a possibilidade de ter descoberto que um feiticeiro e uma legião de seguidores estavam à sua procura em busca de arrancar a última gota de sangue que corresse em suas veias, e sim, em decorrência de um pesadelo que havia lhe roubado o sono.
Ele acordou bem cedo naquele dia.
Despertou com os primeiros raios de sol, aplacado por um mau pressentimento.
Tomou banho e vagueou pelos cômodos vazios da casa, caminhando cauteloso e observando os lados à sua volta.
Sentia que algo de estranho estava para ocorrer, visto que nunca havia acontecido de Valgrind acordar e ter a impressão de que alguém o vigiava.
Mas isso era consequência de uma noite anterior mal dormida.
Sonhara ser perseguido por alguém que não conseguia ver a face. Remexeu-se na cama, que embora confortável tornou-se um tormento inconfortável. Ele acordou várias vezes durante a noite, que fora fria e calma, e sentiu, em alguns momentos, que alguém lhe sussurrava ameaças ao pé do ouvido.
"Garanto que não vai doer nada. Será rápido", dizia a desconhecida voz.
E nesses curtos intervalos de tempo, constatava ser uma voz feminina, ainda que não conseguisse distingui-la entre serem os murmúrios de uma garota ou de uma mulher. Mas isso tampouco importava para ele. Realmente era o que menos importava naquele momento, já que alguém lhe prometera algo de ruim logo, logo.
Valgrind era branco, quase pálido. Tinha orelhas pontudas, longos cabelos grisalhos e lábios que tinham uma tonicidade avermelhada, como sangue. Era um elfo alto, como quase todos de sua raça. Afinal, as duas principais características da raça dos elfos eram a palidez e a altura, ainda que neste último quesito houvesse exceções.
Como sempre, o elfo passara a noite ao lado da mulher, Iduna, a mesma pela qual se apaixonou tempos atrás. Logo a amada levantou-se e se dirigiu à cozinha, a fim de preparar um bom café da manhã. Valgrind estava nos fundos da casa, sentado num tronco de madeira oca. A casa onde viviam era simplória, rodeada pela mata da floresta à frente e por belas montanhas atrás.
No lado direito do casebre, onde havia imensas trepadeiras, ainda existia um pequeno rio que corria por ali.
Ele era raso, mas possuía águas límpidas como cristal.
Os dois acreditavam ser a nascente de um grande, perigoso e imponente rio que existia em Dasgar: o rio Corrente da Tormenta.
Valgrind acordava cedo todos os dias, a fim de caçar algum animal na floresta, porque esta, sem dúvida, tinha se tornado uma das únicas formas de se alimentar junto à esposa.
Além disso, eles tinham como consolo o trabalho no campo: plantavam para seu próprio sustento. E havia ainda um ou dois vilarejos por ali, ainda que ficassem a alguns quilômetros de onde moravam.
Valgrind e Iduna, porém, não poderiam comprar alimentos por lá, com os comerciantes do condado. Afinal de contas, se um dia resolvessem arriscar tudo, deveriam fazê-lo perfeitamente bem, sem falhas, disfarçando-se para que ninguém descobrisse a verdadeira identidade de Valgrind. Se isso acontecesse, eles certamente seriam capturados e mortos.
Do lado de fora o elfo sentiu o cheiro do café que Iduna preparava inundar seu olfato como sempre acontecia. Ela era uma mulher de mãos cheias no tocante a cozinhar, e ele sempre disse isso.
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Fronteiras do Mundo Antigo: Caçado
FantasyA notícia de que a mãe de Kobalde deverá se entregar a Lorde Balder não poderia ter sido... pior. Ele presencia um feroz ataque a sua província, orquestrado por Balder, e a partir daí precisará encontrar uma maneira de impedir que esse desconhecido...