O crepúsculo deitava-se sobre uma imensidão de grama verde-esmeralda, com compridas e finas linhas de luz como se fossem barras de ouro ondulante.
O vento mansamente morno açoitava os arbustos e árvores ao redor de Kobalde, que estava parado, imóvel ao lado do cavalo marrom-escuro que ganhara do pai quando criança.
Por sorte, há dias não tinha o sortilégio de deitar-se e pouco tempo depois estar embrenhado em seu próprio subconsciente, fugindo de algo que não conseguia se lembrar depois que acordava.
Ele ainda morava na mesma casa, na mesma velha casa que sua mãe herdara de Firga.
Iduna nunca havia contado a ele sobre a mulher que houvera lhe ajudado, e nem mesmo havia dito que ele era um meio-elfo.
Por um tempo cresceu ao lado de um homem, o mesmo que o presenteou com aquele cavalo.
Mas o moço que foi capaz de dar um nome a Kobalde e de considerá-lo como filho, havia morrido alguns meses atrás, consequência de uma peste que assolou Dasgar durante alguns meses.
Isso com certeza foi o estopim para que Kobalde se sentisse só, sem alguém com quem contar para os momentos difíceis, além de sua mãe.
Enquanto sentia o último raio de sol beijar-lhe a pele e admirava os longos campos de arroz cor de âmbar, Kobalde pensava na grande festa que aconteceria em homenagem a Aegir, o deus do mar.
Logo a claridade do dia transformou-se em escuridão.
Mas era um anoitecer de beleza inigualável, com o céu tomado por figuras estelares que se originavam quando as estrelas se aglomeravam umas com as outras.
Com o céu iluminado, Kobalde segurou as rédeas de seu cavalo e começou a caminhar.
De início o cavalo do rapaz relinchou, relutou em sair acompanhando-o.
Isso certamente era consequência de o animal não querer deixar aquele paraíso de grama verde, saborosa e fresca.
Mas o cavalo seguiu seu dono, ambos descendo o monte onde estavam por uma estradinha ladeada por pedras e capim.
Desde que o padrasto de Kobalde, Okai, morrera da doença contagiosa, já haviam se passado setenta e dois dias e o rapaz lutava contra si próprio para aceitar a morte do homem que o criou.
Mas aquele era um dia de festa.
Mais tarde Kobalde estaria ao redor dos amigos, venerando a onipotência do deus do mar.
O vilarejo onde morava desde pequeno, a Província dos Lobos, era uma espécie de ilha. Uma fina viela de chão segurava o conglomerado de casas em cima do bloco terroso que boiava sobre o mar e os moradores viviam reforçando a pequena ruela, receosos de que o mar os levasse para o desconhecido, e só se dessem conta do ocorrido quando acordassem na manhã seguinte.
Ao longe Kobalde avistou a claridade de uma imensa fogueira destilar fagulhas para o alto. Ouviu também o ruído do fogo consumir as lenhas e até crianças já se podiam ver correndo entre os adultos ao redor do fogo.
Quando ele chegou à entrada do vilarejo, viu logo sua mãe.
Iduna havia envelhecido alguns anos, os pés-de-galinha e as rugas começavam a aparecer nas expressões do rosto.
Ela estava na companhia de outras mulheres, também moradoras da província.
A mãe acenou e ele apenas sorriu, abaixando a cabeça e olhando para o chão. Depois levou seu cavalo até um tronco à sua direita e o deixou lá amarrado. Em seguida caminhou na direção de Iduna que já estava só, à sua espera.
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Fronteiras do Mundo Antigo: Caçado
FantasyA notícia de que a mãe de Kobalde deverá se entregar a Lorde Balder não poderia ter sido... pior. Ele presencia um feroz ataque a sua província, orquestrado por Balder, e a partir daí precisará encontrar uma maneira de impedir que esse desconhecido...