2002 D.C - Sua pele de porcelana.
Dia 24 de janeiro de 2002. Décimo segundo aniversário de minha Margot, sua mãe acabou por fazer uma comemoração simples para a garota, nada muito espalhafatoso, porém com um pouco de atenção e amor se tornou algo especial. Como não forá grande a festa, Ellora chamou apenas Linda para ocasião, Margot já estava contente com tudo, correndo e se arrumando após tomar banho, amarrou, como uma tiara que empurrava sua franja para atrás, uma fita vermelha de cetim, com o pouco dinheiro, Ellora e Haone deram a fitinha como presente, claro que Margot amou, aquilo complementava tanto sua beleza e sobressaía o tom vermelho vivo sobre sua pele extremamente branca, contrastava tão bem com o pálido de seu corpo, sua pele emanava um perfume peculiar de lírios, tudo nela era friamente calculado para eu me apaixonar, não era possivel, todas as suas vestimentas eram detalhadamente elaboradas para deixa-la mais linda, o singelo vestido que cobria seu frágil corpo tinha tons amarelos e laranjas, seu sapato de fivela era preto como seus olhos e brilhavam tanto quantos eles, Margot sempre cuidou muito bem de seus pertences, eles eram poucos e muito preciosos.
Foi tão amável a comemoração, Linda, à pedido meu, lhe deu uma gargantilha negra com uma pedra Lunar em formato de Lua e com uma estrela feita de pedra estrelar, tinha todo meu desejo de proteção naquele presente, fui pessoalmente a Mãe Terra, Gaia, pedir humildemente por suas bênçãos, que prontamente fez seus encantamentos naturais sobre o curto colar, Margot o colocou no mesmo instante, Linda, tinha um adereço próprio também, lhe entregou uma garrafa em miniatura com várias cores psicodélicas e pediu que somente abrisse em um momento de tristeza profunda, Margot abraçou fortemente Linda e sorriu feliz para mim, quando cortaram o bolo, Margot dividiu o pedaço entre todos e deixou uma pequena parte na estante como forma de me agradecer. No fim da festa, Linda fez uma curta prece e beijou a testa de Margot, Beijo de Vida se chamava, era a forma de passar parte de suas forças para alguém, agradeceu Ellora e Haone, os abraçou, abriu a porta e partiu para sua moradia não tão longe dali.— Gostou, querida? — Ellora perguntou para Margot que se despia e colocava seu pijama.
— Amei! Foi o melhor dia de todos, você viu o colar que ganhei, é lindo e brilhante.— Margot não queria de jeito nenhum retirar o colar, nunca a vi tão radiante, realmente merece tudo de incrível que esse mundo pode lhe proporcionar.
Dia 24 de Fevereiro de 2002. Eu ouvia Ellora eufórica ao telefone, andava de um lado para o outro, em desespero e soluçando, eram 3 e 34 da manhã, Margot logo acordou também e forá ver o que sua mãe tanto dizia ao aparelho, Margot saiu de seu quarto, Ellora se acalmou e disse que ligava mais tarde para a pessoa, pegou na mão de Margot e a puxou até seus aposentos novamente.
— Mãe, o que há? Por que está chorando? — Margot não entendia a situação, eu já sabia o que
ocorreu no momento com Ellora, eu nunca tinha sentindo pena de alguém, mas o olhos verdes de Ellora me trouxeram esse sentimento, era doloroso a ver daquela forma, sempre tão feliz, sorrindo e agora em prantos.— Não é nada, meu Amor, volte a dormir.— Ellora se deitou ao seu lado e fez carinho na cabeça da menina.— Está tudo bem, mamãe te ama.— Margot adormeceu junto de Ellora. Eu estava em pé no lado esquerdo de Margot, apenas observando seu sereno rosto descansando. Arien estava melancólica, sentada aos pés da cama com sua cabeça encosta nos braços apoiados pelas pernas, parecia até um pouco indignada.
— Caspian, o que é a morte para você? — Sua pergunta me pegou realmente de surpresa, mas eu entendo sua reação, por sermos moldados por nosso humanos, pegamos suas paixões para nós, Arien também amava todos que Ellora amava.
— A morte, é perda e renascença.— Respondi sua questão, ela olhava fixamente para frente, com seu rosto sem emoção, me sentei ao seu lado, ela estava fria e seu olhar sem emoção passava me muita aflição.
— O que faria se Margot morresse? — Só a ideia de perder Margot já me corta ao meio, suas perguntas rondavam minha mente, cada vez mais alto.
— Acho que eu iria me perder por completo.— Olhei para o teto enquanto a respondi.
— Então por que ainda tento me achar nesse mundo sem ele? — Arien começou a chorar desesperadamente, ela limpava suas lágrimas em seus longo vestido branco, mas a cada passada da manga de seu vestido em seus olhos mais lágrimas apareciam, doeu tanto a ver assim e disse dane-se para as regras e a abracei fortemente. Ela chorou em meus braços por vários e vários minutos.
— Está tudo bem, eu estou aqui por você.— Nunca tivemos muito contato, mas só o fato de vê-la todos os dias me fez criar afeição por ela, infelizmente, eu sabia o que a fazia ficar assim e ao mesmo tempo não entendia, enquanto ela chorava em cima de mim, eu pensava em como a morte é dolorosa para quem a conhece, a morte é a cruel verdade e cabe a todos nós a aceitar, mas eu não sei o que é a estar na pele de Arien.
— Obrigada por isso Caspian, realmente obrigada.— Arien limpou seu rosto e sorriu da forma mais doce que já vi, era muito bonita com um sorriso em seu rosto.— E desculpe, eu quero assumir as consequências da quebra das regras.
— Não, tudo bem, eu escolhi te acolher em meus braços, eu revindico a culpa, quero que fique bem e tenha forças para fazer Ellora suportar a dor, ela precisa muito de você.— Abracei Arien novamente e beijei sua testa. Ela foi para perto de Ellora que chorava dormindo, a dor insuportável das duas me alcançava, me machucada junto e iria piorar assim que Margot soubesse.
Dia 25 de fevereiro de 2002. Haone não havia voltado de seu plantão ainda, Margot estava aflita, eu podia sentir o medo do pior correr em suas veias, mas Ellora fazia de tudo para acalmar a menina e falhava todas as vezes, ela estava acabada demais para dar suporte para a filha no momento, mas sua esperança ainda não estava morta, contou cada minuto do dia, esperando por um telefonema que confirmasse que estava tudo bem, que Haone estava voltando para casa.
As 18 e 45 da tarde o telefone tocou, Ellora correu para atender, suas pernas tremiam e sua boca seca quase não saía palavra nenhuma.— Achamos seu marido, Senhora Robbie.— Ellora deu um sorriso que durou por milésimos de segundos.— Mas infelizmente ele foi uma das três vítimas mortas no incêndio.— Ellora caiu no chão frio, a atendente chamava por ela, sua tremedeira aumentou e escorreu uma solitária lágrima de seu olho direito.
— Acabou.— Ellora sussurrou no momento que colocou o telefone no gancho novamente.
— O que, mãe! Meu pai está bem?! — Margot a questionou com um resquício de esperança que aprendeu a guardar com sua mãe.
— Não. Ellora disse em voz baixa.
— O que disse? — Margot estava tão preocupada que suas mãos suavam.
— Eu disse que NÃO! — Ellora gritou para Margot.— SEU PAI NÃO VAI VOLTAR, MARGOT, ELE MORREU! — Ellora que nunca havia sequer falado alto com Margot, a assustou, Ellora começou a chorar como nunca tinha chorado em sua vida. Margot caiu ao seu lado também, abraçou sua mãe e desabou, chorou como uma criança em apuros. Essa cena me matou por dentro, eu sentia toda a angústia, tristeza, amargura do perder, nunca me senti tão horrível, parei de flutuar e me sentei de frente para elas, suas lágrimas cortavam e ardiam em sua pele, a dor era dominante em seus corações, meus olhos não suportaram e me mergulhei em um mar se sentimentos horríveis que era o choro, não era tão doído minhas lágrimas perto das delas, aquilo queimava por dentro, eu vi a chama de amor de Ellora apagar e ser tomada por uma nuvem negra e sombria, a morte tomou ela para si também.
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Aflições de um mero Guardião
SpiritualQuando a Mãe Terra não se supria sozinha, momentos aqueles de desesperos e lágrimas, onde não havia sequer água para prosperar, Adonai, supremo em seu poder cósmico, a cobriu com seu imenso manto do infinito, enchendo suas fissuras com o mais puro a...