2005

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2005 - Moça

Ofegante e ansioso entrei na sala de Margot, todos os outros guardiões me olharam assustados, alguns com um pouco de receio e raiva por atrapalhar o silêncio do local. Mesmo com todo o ocorrido, o Guardião de Edith ficava parado do lado de fora, imóvel, com a afeição calma e despreocupada.

— Ei, pode me dizer o que houve? — Silêncio… Nenhuma respostada dada, nenhuma expressão feita.

— Pode ao menos me dizer seu nome? — Eu só queria entender tudo, no mínimo saber o nome dele e agradecer.

— Pode me chamar de Leoric.— Respondeu seco e rápido.— " Leoric, não me é estranho ".— Pensei já ter ouvido Adonai pronunciar esse nome.

— Acho posso dizer obrigado, mas tenho uma pergunta a fazer.— Pela primeira vez ele me encarou no fundo dos olhos.

— Ela não mede esforços para nos machucar, sugiro que fique longe.— Querendo ou não, Leoric respondeu minha questão.— " Mas por que 'Ela' "?

— Sugiro que já notou que aquele ser não é Jasper de fato, não é? — Ele tinha um riso irônico nos lábios.

— Talvez sim.. Mas não entendo o porquê de "Ela".— Isso rondava mais e mais em minha mente.

— Deixe isso para lá, não é de seu interesse, volte para dentro.— No final acabei voltando para sala, esperei as aulas se cessarem e fui embora com Margot, sem palavras durante o caminho, normalmente Margot conversava bastante e era bem extrovertida. Porém, cabeça baixa e passos rápidos, mal respirava ao andar.

— Você está bem? — Perguntei a Margot, estava começando a me preocupar.

— Sim, apenas ande rápido.— Aumentou sua velocidade, me deixando para trás. Apenas observei seu corpo sumindo no fim da rua e esquecendo de mim, fui o mais lentamente possível para casa, estava cansado e angustiado pelo que aconteceu nesse Colégio logo no primeiro dia. Assim que cheguei vi Margot no quarto escrevendo com muito entusiasmo em um caderno novo que eu tinha visto.

— Estou fazendo uma estória, Caspian, fiz três páginas já.— Quando ela virou e sorriu para mim pude ler o nome de sua invenção "Ao Espaço Tempo de Marie Bloom".

— Vou querer ler com certeza.— Ela parecia ter voltado ao normal, mas poderia ser suas inspiração falando alto demais e queria chegar em casa logo.

A noite foi serena, som de vento batendo nas árvores, algumas aves cantando músicas noturnas. Margot dormiu, seu rosto estava calmo, ao fechar meus olhos para descansar com ela, me veio novamente a questão "Por que ela?" e as vozes de Leoric me dizendo para esquecer isso. Na escuridão de meus pensamentos uma moça de pele extremamente branca, cabelos louros e compridos veio em minha direção, seu vestido traçado de constelações e cometas balançava com o seu caminhar, brilhava e tilindava com o leves movimentos, em poucos segundos segurou meu rosto e suas enormes unhas pretas afundaram em minhas bochechas, pude ver sua face, era angelical sua beleza, olhos azuis feito o céu, lábios negros como a noite escura e uma cicatriz abaixo de seu olho direito chamava mais atenção para encara-lá, sua boca mexia sem emitir palavra alguma, apenas um som de rádio fora de estação, mas a cada minuto sua feição parecia ficar mais enraivecida, seus cabelos ficaram vermelhos e seus olhos negros, seus dentes aumentaram e ficaram pontiagudos, suas unhas se tornaram garras que cortaram meu rosto em finos rastros até meu pescoço onde apertou, sua força era descomunal, porém a elegância que provinha dela e suas frases ditas em uma frequência que meu corpo não conseguia captar eram hipotizantes, aos poucos fui perdendo a visão, enquanto um riso alto e agudo entravam em meu tímpano e faziam minha cabeça arder pela dor, antes de me perder totalmente no breu de minhas pálpebras, ela me largou e pude ouvir sua voz rouca e baixa dizendo: "Nébula", e meus olhos fecharam para eu cair em um profundo sono.

— Caspian! Acorde.— Margot me chamava ao longe, não conseguia me levantar, estava caído em um chão frio, vários flashes de Jasper passavam junto com o riso daquela moça, Margot estava junto daquilo tudo, deitada no meio de lama e sangue, com uma faca ao lado de seu corpo sem vida.— Caspian! ACORDA! — Margot me balançou fazendo eu despertar imediatamente assustado.— MARGOT! — Abracei ela o mais forte que pude, claro que isso a fez ficar confusa, porém me abraçou de volta.

— Está tudo bem? — Margot se afastou e me fitou preocupada.

— Está sim, você está bem, isso que importa.— Seu coração estava se acalmando do susto e logo veio seu doce sorriso.

— Temos que ir, vou chegar atrasada na escola, rápido! — Pegou sua bolsa e me puxou para fora de casa correndo em direção ao Colégio. Seus cabelos voavam com o vento, ela olhava para trás sorrindo para garantir que eu ainda estava ali ao seu lado. Poucas vezes consegui ter total visão sobre seu ser interior, seus olhos brilhavam com o Sol quente, me dando entrada para tentar abrir seus cadeados internos e imensos, talvez ninguém tenha as chaves necessárias para abrir minha linda Garota.
Ao chegar aos grandes portões reluzentes daquela escola, Edith logo que viu Margot veio em sua direção, Leoric estava atrás de cabeça baixa.

— Margooot! — Edith abraçou Margot e beijou seu rosto, bem perto de seus lábios. Margot olhou para mim espantada.

— Olá Edith.— Margot falou sem graça depois do acontecido. Edith pegou em sua mão e a arrastou para o pátio, levando a para uma árvore afastada dos outros alunos, Leoric ficou ao longe observando e quando viu Jasper passar pelos portões veio rapidamente para perto de Edith e olhava friamente cada movimento que Jasper fazia. Leoric mal piscava ou respirava, seus olhos estavam vidrados em Jasper, como um leão em sua caça.

— Tudo bem? — Perguntei para Leoric meio aflito.

— Não se meta, faça seu trabalho e cuide de Margot.— Nem se mexeu ao falar comigo, ríspido e apático.
Margot e Edith estavam sentadas nas raízes da grande árvore, Edith estava falando sobre maquiagem e seu cabelo enquanto Margot olhava as flores que brotavam logo a sua frente, eram rosas brancas e amarelas, pareciam dançar com a brisa, suas pétalas exalavam um perfume doce e gostoso, algumas até eram levadas para longe com o vento. Edith notou o fascínio de Margot por flores e chegou mais perto pegando uma das que estavam ali, essa era mesclada com as duas cores.

— Vamos brincar de "bem-me-quer ou mal-me-quer".— Margot riu pela ideia infantil.— Eu primeiro, Bem-me-quer.— Edith puxou a primeira pétala passando a rosa para Margot.

— Mal-me-quer.— Margot retirou o pedaço da flor e cheirou. A cada pétala Edith chegava mais perto, até a última ser pega por Margot.

— Bem-me-quer.— Margot olhou para Edith, que inclinou sua cabeça em sua direção.— Talvez eu queira.— Edith ficou a centímetros de distância dos lábios de Margot, faltavam milimetros quando o sinal para entrarem nas classes soou no momento que suas bocas iam se encontrar.—"Ela não fez isso, Edith, eu definitivamente odeio você".— Ao terminar meu pensamento Edith riu e me encarou.

— Atenção ao que é "Seu" então.— Seu tom de ironia era extremamente visível.— Pois se dormir muito, talvez vire meu.

Aflições de um mero GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora