2005

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2005 D.C - 1° Ano.

25 de janeiro de 2005. Um dia depois de seu aniversário de quinze anos. Margot estava ofegante sabendo que iria começar a frequentar o ensino médio, seus anos iniciais não foram tão lindos como eram para ser, sofria muito com bullying e negligência das outras crianças em entende-lá, mudou de escola, afinal sua antiga não proporcionava os anos finais. Margot não parava de tagarelar sobre como iria ser no mínimo emocionante ir para o 1° ano, Linda e Ellora ouviam minha garota atenciosamente, Leon e Arien ficavam ao fundo prestando atenção na felicidade de Margot e pela primeira vez, vi Leon sorrir. Haone, apesar de se elevar, podia ver a família ao longe pelo Espelho do Pretérito, costumava ir zela-los sempre que podia, pedindo para Mãe Terra, grande Gaia ajudar sua tão distante família, ele ouvia por horas eu e Margot conversando sobre a nova escola, Margot dizia como seriam as matérias e que elas aumentaram bruscamente, teria que se acostumar com tantos professores e tarefas, queria fazer amigos e apenas ficar em paz, pelo menos até fim desses três anos.

01 de fevereiro de 2005. Seu primeiro dia de aula, Margot havia preparado tudo no dia anterior, materiais, lavou seus cabelos negros, arrumou suas vestes  e dormiu o mais cedo possível. Eram 06:00 da manhã quando ela levantou e foi tomar seu banho, 06:15 começou a se vestir, parecia muito uma adolescente querendo causar boa impressão, com sua calça preta, All Star azul de cano longo e seu uniforme, mesmo após anos, nunca deixou de usar a velha fita de cetim vermelha dada por seus pais, agora com os cabelo maiores, fazia um rabo de cavalo e amarrava essa fitinha onde seria o elástico. Forá tomar café e comer alguns pães, escovou os seus lindos dentes brancos para enfim se despedir de Ellora e seguir para seu novo Colégio. Durante todo o percurso ela conferiu seu hálito cinco vezes, isso me fazia rir.— "Se ela soubesse seu natural perfume de lírios".— Pensei. Margot arrumou seu cabelo duas vezes, eu debochava daquilo tudo, era tão linda, nada estragaria sua beleza esculpida por mãos divinas.

— Caspian, assim está bom? — Margot se referia ao seu penteado mais uma vez.

— Meu amor, por obséquio, entenda, você é o ser mais belo do universo, nada se compara ao seu sorriso e carisma.— Margot ficou rubra e sorriu com os lábios fechados para mim.

— Você também é o rapaz ou criatura celestial mais linda que contemplei.— Desta vez, eu fiquei sem graça, pela primeira vez Margot me disse algo tão doce.

Cada passo a fazia se aproximar do seu tão sonhado 1° ano, os portões da escola estavam a vista e brilhavam feito ouro, Margot ainda estudava na parte nobre de Marselha, ao chegar na entrada pôde ver todos os outros alunos, bem trajados e em grupos, a maioria se conhecia pelo ensino fundamental e foram para mesma escola. Margot se pôs para dentro e caminhou até a secretária para ver sua classe nos papeis da parede: Sala 10, 1° A, 2° andar. Se dirigiu para seu andar e encontrou sua sala, algumas garotas já estavam no recinto, uma chamou muito a atenção de Margot, tinha cabelos ruivos com as pontas azuis e olhos turquesa, era linda ao ver de Margot, não sabia que podia pintar os cabelos com cores tão diferentes. Sentou-se na terceira fileira, perto da garota azulada.

— Olá, sou Edith, prazer.— Ao ver que Margot sentou ao seu lado, estendeu a mão com um grande sorriso no rosto, bastante simpática.

— Prazer, Margot.— Margot apertou timidamente a mão da garota.

— Pelo visto, você não veio das mesmas escolas que aqueles riquinhos lá embaixo, haha.— Sorriu novamente para Margot, que retribuiu.— Eu vim de uma escola bem longe daqui, mas como meu pai é professor, acabei vindo para cá.— Edith simpatizou muito rápido com Margot, algo naquela garota me dizia que não tinha interesse em homens.

— Meu pai era policial, consegui uma vaga aqui por conta de seus serviços prestados para o diretor.— Margot parecia ter gostado de Edith, conforme o tempo foi passando e a aula seguindo, elas foram se amigando cada vez mais, isso seria ótimo para Margot, queria amigos e conseguiu ao menos uma. Ao soar do sinal para o intervalo Edith pegou na mão de Margot e a puxou para o pátio, enfim eu pude ver seu Guardião, ele estava parado fora da sala e só se mexeu quando Edith passou andando em sua frente, começando a seguir, tinha cabelos turquesas e longos, iguais aos olhos de Edith, nunca havia visto aquela cor. Quando desceram as escadas, Edith andou com Margot até um rapaz, era ruivo assim como Edith, mas com olhos verdes e muito parecido com ela.

— Margot, Jasper, meu irmão gêmeo. Jasper, Margot uma garota da minha sala.— Jasper olhou Margot de cima abaixo, seus pensamentos diziam como ela era bonita e cheirosa.— "Audacioso esse garoto".— Eu não conseguia ver seu Guardião, era como se ele não estivesse ali.

— Tudo bem?— Sorriu e coçou sua cabeça atrás. Ele emanava um cheiro metálico muito forte de sangue e ao mesmo tempo tinha cheiro de rosas brancas ao fundo, era até enjoativa sua presença para mim.

— Estou bem.— Margot sorriu de volta, apesar dessas minhas sensações, Margot se socializou facilmente com o garoto, ele sorria sempre e parecia ter gostado de Margot, mais um "amigo" para ela. Jasper, Edith e Margot conversaram o intervalo todo sobre o novo ensino médio e como seria dali pra frente.
Sinal tocou e todos foram para suas respectivas classes, Jasper era do 1° D que ficava na última sala do corredor do 1° andar. Ao decorrer das aulas eu notava cada vez mais a estranheza de Edith, seus olhos não tinham brilho, eram foscos, até parecia que lhe faltava alma por dentro, seu Guardião voltou a mesma posição do início e não dirigiu uma palavra para mim. Eu estava entendiado de ficar dentro daquele lugar abafado e barulhento, decidi andar pela escola e conhecer o local, eram quatro andares, mas apenas três funcionavam, a escola oferecia o ensino fundamental também, apenas no horário da tarde, então o primeiro andar continha um 1° ano, a sala de Jasper, o restos das classes só eram ocupadas depois do meio dia.

— Aquele garoto é distinto, não possui Guardião.— Jasper me fazia lembrar das histórias sobre humanos doentes, que tinha tantas personalidades que Adonai não podia oferecer proteção alguma, pois nunca um seria suficiente, e humanos tem permissão para ter um Guardião apenas. Isso me dava pena, talvez seja esse o motivo de eu sentir dois cheiros, o odor dele é corrosivo para mim, é como se fosse feito pra me afastar.

— Não devia estar perto de Margot? — Uma voz grossa vinha de trás de mim, era Jasper.

— Você não devia estar em aula? — Como podia me ver?! E ainda falar comigo, nenhum ser tem permissão para ver o guardião de outro.

— Estou cansado daquela aula inútil.— Sorriu torto para mim e reparei, seu cabelo estava vermelho vivo e seus olhos negros e fundos, pareciam enxergar até meu menor medo.

— Quer se divertir, Caspian? — Seu riso aumentou e ficou malicioso, em suas mãos havia uma espécie de frasco com um líquido branco dentro.

— O que pretende? — Tentei flutuar para fora dali mas minhas pernas não mexiam, minha garganta estava seca, eu sentia uma presença esmagadora em cima de mim, era quase que na mesma intensidade de Adonai.

— Isso.— Jasper lançou o frasco em minha direção, quando senti uma mão me puxar para fora dali, era o Guardião de Edith.

— Vamos, você não devia brincar com ela.— Me arrastou até a sala de Margot novamente, deixando Jasper ou sei lá quem para trás.

Aflições de um mero GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora