1997

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1997 D.C - Seus Negros e Longos Cabelos

Quando Margot completou 7 anos foi matriculada no primeiro ano do ensino fundamental, seus pais foram economizando dinheiro até comprarem um pequeno carro de duas portas, apenas para levar a garota em segurança para a escolinha e Haone ir trabalhar no Sul de Marselha. Felizmente ou não, Ellora conseguiu vaga em uma escola na parte rica da cidade onde seu marido trabalhava.
Margot as vezes sofria um pouco com as outras crianças, eram tão padronizadas, loiras e olhos claros e Margot não era das mais magras que estudava ali, o que as crianças podiam falar sobre seu peso e sobre ela ser estranha por seus cabelos e olhos serem tão escuros, algumas tinham até medo, diziam que ela parecia a bruxa de algumas estórias infantis. Em seu primeiro dia de aula uma garotinha chamada Liz jogou tinta amarela em seu cabelo para ficar parecido com o dela. Por várias vezes eu consolei Margot que chorava no canto do jardim, quando são crianças e estão em seu estado puro, podem ver e conversar com seu guardião, claro que com a medida que vão crescendo e perdendo sua inocência desaparecemos e somos esquecidos, bebidas, drogas e sexo tomam nosso lugar. Me entristece saber que um dia Margot deixará de me achar a coisa mais incrível do mundo por me ver voar e ter madeixas brancas. Brincávamos sempre, eu amo essa menininha, nada poderia me deixar mais feliz do que o riso doce que ela tinha, ela gostava muito de mim, me chamava de Su, para ela, a sílaba Ca do meu nome soava como Su, mas tudo bem, se for Margot me chamando assim, eu aceito.
Todos os dias, à caminho de casa, ela contava para Linda como foi seu dia escolar, de como brincava comigo e sempre fazia desenhos ótimos meus, ela sabia pegar meus melhores ângulos haha. Linda acreditava em Margot, afinal, ela me via também, o Guardião de Linda tinha cabelos cinzas, que indicavam que o humano que cuidava iria viver por vários e vários anos, Leon era sério e calmo, ajudava muito Linda em seus feitiços e encantamentos.
Margot me fazia mil e uma perguntas sobre a vida e como eu tinha nascido, coisas que nem eu sabia e ela imaginava detalhe por detalhe, uma vez me disse que eu nasci de uma estrela cadente que caiu na Terra e vim para protege-lá, doce criança criativa, eram tão bonitas suas ficções, a cada nova estória de Margot minha impressão de que ela seria escritora renomada crescia mais e mais. Quando Margot chegava em casa as 12:50 da tarde ela corria para seu quarto e pegava seu caderninho, estava aprendendo a ler e escrever na escola, então com ajuda de Linda ela treinava porque queria fazer um conto comigo, eu estava lisonjeado com o interesse dela em mim, Linda incentivava no que podia, Margot se empenhava para escrever meu nome e o seu juntos, como uma cartinha de amor da quarta série e ela estava nessa época, de fazer desenhos fofos e aproveitar o fato de ser criança e ver alegria em tudo.

— Su! Olha o desenho que eu fiz! — Margot veio depressa mostrar o desenho que havia feito, nele eu estava de mãos dadas com ela. Ah, tão fofa.
— Ficou lindo, minha flor.— A elogiei e afaguei seus longos e negros cabelos, macios e cheirosos, tão lindos e tão compridos, chegavam até o fim de suas costas, que eram pequenas perto de qualquer um, estava quase completando 8 primaveras e era umas das mais baixas de sua turma. Margot era o pico de meu amor, como minha única pessoa preciosa, era a criança mais doce que emergiu nesse podre mundo humano, a mais linda que já bati os olhos, era tão simpática, Margot era meu profundo amor eterno, jamas iria deixar machucar minha garotinha, toda felicidade do mundo para esse pequeno ser indefeso, mesmo que seja longe de mim, quero que Gaia abençoe Margot com seus galhos encantados e que Adonai a encha das mais maravilhosas graças, tudo para minha linda menina.

— Su, me ensina a escrever seu nome, pooor favor? — Me fitou com seus pequenos olhinhos negros com carinha de piedade.

— Claro, Meu Anjo, comece com o C.— Disse a primeira letra do meu nome.— A, S.— Margot escrevia letra por letra, parecia amar tanto escrever, sem dúvidas ela seria uma escritora e tanto.— P, I, A, N, prontinho, Meu Amor.

— Cas-pian, mas seu nome é Su, porque escreve Caspian? — Ela me olhou indignada me questionando como se tivesse mentido todo esse tempo.

— Minha Flor, sempre foi Caspian, mas pode me chamar como querer, durante que seja sua forma preferida.— Encarei dentro de seus olhos vendo meu reflexo me olhando de volta, não conseguia enxergar dentro de Margot, não é como quando a vi pela primeira vez que senti seu áurea rosea, agora tinha um bloqueio, a escuridão de seus olhos parecia um abismo profundo e assustador, que por incrível que pareça nunca me assustou, só me deu mais vontade de encarar. Margot era extremamente misteriosa por dentro, aquele abismo parecia me olhar de volta em forma de desafio, como se me chamasse para tentar desvendar seus segredos, sua alma era tão bem escondida de mim, guardada a sete chaves em seu interior, eu, seu guardião não tinha acesso a essas sensações, quem teria então? Somente Adonai? Seria um pouco de egoísmo meu, mas não queria partilhar das memórias e sentimentos de Margot com nenhum outro ser cósmico, me perdoe Suprema Deidade, mas Margot Robbie era minha preciosidade.

— Meu Caspian! MEU CASPIAAAN!— Margot dizia repetida vezes, foi até Linda e contou que aprendeu a escrever meu nome, mas se negava a relevar o mesmo para ela, Linda ria e brincava com minha garota.

Após sete dias de Margot descobrir como escrever meu nome, recebi uma carta de Adonai, ele pedia minha presença no Santuário Estellar o mais rápido possivel.— E Margot?! Como ela vai ficar sem mim? — Fiquei matutando por alguns minutos antes de Leon me dizer que poderia ir, Margot não iria para escola naquele dia e Linda cuidaria bem dela, que qualquer coisa ele me constataria no mesmo instante. Infelizmente não tinha como o contrariar, era séculos mais sábio, fui, inegavelmente incomodado em deixar Margot para trás.
Ao chegar em meu lugar de origem, vi alguns antigos guardiões que foram os primeiros a me receber, apesar da festa poucos falaram diretamente comigo pelo medo, estava tudo exatamente como no dia que parti, os pilares muito bem polidos, cores fracas e simples cobriam a dura parede de mármore do Santuário onde Adonai raramente saía, sempre sentado em seu trono adornado de Safiras e prata, sereno e calado, Adonai , assim que passei dos enormes portões de ouro e me referenciei, estendeu seu braço e me chamou para mais perto de si, a cada passo no tapete ciano eu podia sentir sua grandeza, até um pouco massacrante seu imenso poder.

— Caspian, meus Guardiões Platina escreveram em seus relatórios sobre a vida na pele de Gaia, que tu, está ficando obcecado por tua proteção. Cuidado Jovem Caspian, obsessões podem render exílio, quero que aprendas a cuidar e zelar de forma plena, sabes bem que nunca poderia ficar com um humano, são apenas seres técnicos para sua proteção para que ao fim de suas reencarnações possam subir para o Nirvana, eu sei que você é encarregado de alguém que não vais passar por tais estágios, porém, não a ame, não é mutuo o que sentes, sabes que quando ela crescer irá te esquecer e te trocar com algum homem humano, a esqueça para o bem de sua sanidade.— Adonai me encarava friamente naquele momento, sempre cuidou de cada humano, mas de forma imperceptível, ele os ama, é claro, mesmo sabendo que nem sempre é recíproco.— Agora vá para o Jardim dos Perdões e pense um pouco sobre o que citei para ti e volte para casa.

— Obrigado, Vossa Divindade.— Agradeci, e saí lentamente do Santuário de Adonai e vaguei até achar o triste Jardim, Guardiões que tinham quebrado alguma regra iam para lá antes do exílio, ao entrar e pisar na grama seca, procurei e me sentei em um velho banco de rocha ali construído, era decadente aquele lugar, tudo estava morrendo aos poucos, a sensação era de cansaço e amargura enquanto estava parado observando o cenário, até que me levantei, limpei minhas vestes e fui para casa de Margot. Refleti sobre o que ele havia dito apenas quando cheguei na porta de sua casa, estava cogitando a ideia de não ama-la mais quando olhei pela janela e vi seu inocente riso de criança feliz, meu peito se encheu de amor novamente, ela pode me esquecer, mas farei momentos inesquecíveis para mim.

Aflições de um mero GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora