Quando Yoongi terminou o segundo semestre de direito, decidiu tirar o verão inteiro de férias. Não aguentaria muito mais tempo juntando toda aquela informação, sentindo seu cérebro se encher como a barriga de um gordo. Ele mesmo, só emagrecia. Não havia tempo para comidas realmente nutritivas entre tantos projetos e provas. Na verdade, foi precisamente por essa razão que decidiu não ir visitar a avó no campo. Sabia que ela ficaria constantemente o enchendo de "você vai desaparecer se continuar assim" e outros dizeres do tipo.
Por tanto, decidiu fazer exatamente o oposto. Não haveria de visitar o campo, e sim, a orla. Quando teve essa ideia, teve absoluta certeza de que nenhum outro local seria apropriado. Talvez tivesse sido naquele momento que ele percebeu que pertencia ao mar. Que nada nunca seria tão seu perfil quanto a dança das ondas e o urro do vento.
Tudo por causa de uma avó que insistia em o empanturrar de guloseimas.
E foi assim que, em um domingo de sol, ele pegou sua mala de couro surrada e se encaminhou para a rodoviária de Daegu. O ar parecia amanteigado e a brisa suspirava. A passagem de ônibus foi cara, mas seus pais lhe ofereceram uma quantia generosa para passar as férias, e ele também tinha suas próprias economias: mesmo que um tanto preguiçoso, ele sempre foi responsável, e mantinha um emprego de meio período ia fazer quase um ano.
Estava abafado dentro do ônibus. A poeira dançava no ar. Ao seu lado, se sentara uma menina bonita. Sua pele era do mesmo tom de oliva das cortinas semi-fechadas. Ela lhe pediu para abrir. Se não tivesse pedido, Yoongi não teria as aberto.
Não havia nenhum livro em sua mochila preta. Nos seus ouvidos, The Smiths. Seus olhos se ocuparam com a paisagem prosaica lá fora. Asfalto, não esburacado, mas devidamente gasto. Vegetação rasteira, brilhando sob o sol. Eram tempos mais simples, de horizontes mais minimalistas. O mundo pesava com o êxtase das férias: de libertação, besteira adolescente, de beijos lentos. Pintara seu cabelo de rosa chiclete na noite anterior, e entre seus dedos, a tinta ainda insistia. Dizia a si mesmo que aquelas mechas iriam ditar um caminho libertino naquele verão. A menina ao seu lado usava uma camiseta cortada na altura da cintura e calças jeans desgastadas. O ar condicionado foi ligado, emitindo seus suspiros por todo o ônibus. Yoongi bocejou. Sentia-se pendendo para os braços quentes e macios de Morfeu.
O ar era manteiga e sua vida se desenrolava em estupor.
Bem vindo, Verão.
— Ei, moleque.
A voz da menina ao seu lado interrompeu a voz de Morissey em seus fones. Cuidadosamente, e evitando demonstrar a raiva que sentia quando alguém interrompida sua música, os tirou de seus ouvidos e se virou para ela.
— Hm? — a estudando melhor, ela certamente não tinha o direito de chamá-lo de moleque. Deveria ter no máximo dezessete anos.
— Pra onde você vai? — Ela perguntou, mascando chiclete. A barra de suas calças estavam cortadas na altura dos tornozelos, e os cabelos negros, cortados na altura dos ombros, estavam espetados para todos os lados.
— Pra última parada.
— A orla?
— Sim — ele concordou, com um suspiro — A orla é a última parada.
— Sabe que só chegamo' amanhã, né?
— Sei. Sei sim.
Ela riu, afastando uma mecha selvagem de seu rosto. Sua pele era desbotada de pegar muito sol, e de seus poros, um calor trépido emanava, como se devolvesse a energia que pegou a estrela matutjna.
Bem vindo, Verão.
— Cê vai ficar na pensão?
— Não sei onde vou ficar — respondeu. Não tinha a menor ideia de que pensão seria essa — resolvo quando chegar lá.
Era esse o espírito daquele verão. Aquele saltitante brilho quente e rarefeito. Nunca antes e nunca depois sentiu Yoongi algo tão delicado quanto o ar daquele verão. Tudo era do futuro. E o presente se desenrolava como um novelo de lã.
"Resolvo quando chegar lá"
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NORWEGIAN WOOD | MYG+KNJ
Fanfictionquando Yoongi decide organizar a miríade de livros que transborda de sua estante, se surpreende ao encontrar um em língua japonesa. A edição de "Norwegian Wood", romance de Haruki Murakami é frágil e amarelado. As folhas quebradiças se soltam da lom...