she asked me to stay

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Àquela hora, a pequena cidade lhe parecia vaporosa e intangível, uma ilusão azul-claro e lavanda, tremeluzindo frágil a sua frente. O céu se iluminava devagar em tons suaves e desbotados, o sol frágil demais para expulsar toda a noite, que ainda pesava no ar úmido e nas sombras longas e escuras que se estendiam dos postes e prédios baixos de fachadas coloniais, pintando o solo.

Uma pequena rua de paralelepípedos se estendia a sua frente, até o mar, que longínquo, derretia para dentro do horizonte.

— Nada mal, né? — disse Mariko, atrás dele. Ela não tinha nenhuma mala, apenas a desbotada mochila preta, e ele carregava sua maleta de couro, que havia sido de seu pai. As últimas pessoas terminaram de descer, um moleque de quinze anos, no máximo, e uma velha mulher vestindo vermelho, e o ônibus partiu estrada a dentro.

— Pitoresca.

— Pitoresca? Pf, que palavra de mauricinho.

Ali estava, de novo, aquela característica colegial.

— Riko, quantos anos você tem?

Ela sorriu, tirou um cigarro do bolso e o colocou entre os lábios.

— Cinquenta e dois.

— É sério.

— Noventa.

— Você é menor de idade?

Ela tragou forte e expirou um grande onda de fumaça cinzenta, que foi levada pela brisa do mar.

— Não.

— Que bom.

— E você, mauricinho?

— Faço vinte e um daqui a pouco.

— Legal. Agora anda, que se eu me atrasar minha mãe vai me trucida'... já to levando um m'leque pra casa, né?

Assim, eles andaram silenciosamente pela cidade que acordava, envoltos em fumaça de cigarro, imersos no som de ondas indo e voltando, dois moleques um tanto esquisitos por uma cidade um tanto comum.

Você mergulhou em um novo mundo, e coisas estão para acontecer.

Quando chegaram a Pensão Sasaki, já não estavam mais envoltos em nicotina, e o sol se encontrava mais dourado, mais certo de si. Mariko teve o cuidado de se livrar do cigarro e trocar de blusa bem ali, no meio da rua, e agora vestia uma regata de cetim azul cheia de farrapos. "Se ela perguntar sobre o cheiro, diz que você que tava fumando!" Yoongi notou que seu sutiã de renda preto era muito bonito.

O lugar era simples, mas charmoso. Quatro andares, portas duplas de vidro um pouco encardidas, e entre elas e a areia da praia, apenas alguns metros de paralelepípedos gastos. O vento abraçava o mar e levava seu perfume até eles.

— Ô de casa! — chamou Mariko, quando entraram pelas portas. O saguão era surpreendentemente elegante, uma relíquia de outra era, talvez, com chão de mármore creme e painéis de mogno. Na parede oposta à entrada, havia um longo balcão em forma de lua crescente, e portais de cada lado dele, levando a corredores escuros. Um cheiro de café e incenso pairava, suave e misturado com maresia, no ar.

— Mariko... Não grite assim — suspirou uma voz melódica, aparecendo das sombras do corredor direito. Era uma mulher mais velha, vestindo um kimono azul-escuro bonito e antigo. — Ainda é cedo. Temos hóspedes.

Então, parou por um momento ao olhar para Yoongi.

— E esse aqui, é quem?

— Ah. Esse é o Yoongi. Encontrei na estrada. Quer um quarto.

A mulher balançou a cabeça seriamente e prontamente foi para trás do balcão.

— Seja muito bem vindo, senhor. Meu nome é Jisoo, mas todos me chamam de Gaivota.

Yoongi não pode evitar o riso.

— Gaivota.

O olhar que Gaivota lhe devolveu foi sério, e quase confuso.

— É. Gaivota. Você quer um quarto com vista pro mar?

— Ah, certamente.

— Que bom. Todos nossos quartos tem vista pro mar.

— Faz um preço bonito pr'ele, mamãe. — disse Mariko, repentinamente, como se tivesse acabado de lembrar — Eu prometi.

— É claro.

As duas interagiam de uma forma engraçada, como se estivessem em lados opostos de uma corda em um jogo de cabo de guerra, indo e voltando, puxando e repuxando. Yoongi observava maravilhado, como se fosse uma peça de teatro. Eles organizaram os papéis, definiram o preço — que acabou sendo realmente uma pechincha — e foi então guiado pela Gaivota até seu quarto, no último andar. O corredor era escuro e cheirava a bolor, e por um momento ele temeu sua estadia. Mas então, as portas se abriram.

— É, esse é o quarto.

Era uma suíte ampla, com chão de madeira caramelo e papel de parede branco, o teto decorado por pinturas e uma parede de vidro que abria para uma varanda. Através dela, uma luz mágica, pálida e dourada transbordava, junto com o som ritmado do mar.

Você mergulhou em um novo mundo, e coisas estão para acontecer.

NORWEGIAN WOOD | MYG+KNJOnde histórias criam vida. Descubra agora