"I'd like to be under the sea, in an octopus's garden, in the shade..."
O ônibus viajou quieta e suavemente através das estradas. As horas atropelaram umas às outras, se combinando e distanciando. No céu, uma tímida lua começou a despontar entre o anil. Uma tímida, adiantada lua, um fantasma sonial. Não há porque aparecer uma lua a essa hora, era o pensamento que atravessava a cabeça de um Yoongi perdido em música, quando o sol ainda brilha e ela será perdida entre as dobras tenras de um céu ainda luminoso.
Além da chegada da lua, o tempo foi marcando a si mesmo através das paradas dos ônibus, que deixava para trás levas de passageiros. Bancos esvaziados. Grupos calados descendo, como se dançassem, as escadas do ônibus. Yoongi se perguntou se deveria deixar o lado da menina, agora que havia espaço livre, mas por alguma razão decidiu que não. Talvez fosse seu perfume de sol, nicotina e brechó. Talvez ele temesse que deixar seu lado a ofendesse. Qualquer que fosse a razão, ele permaneceu onde estava.
Eram sete e quarenta e duas quando o motorista decidiu fazer uma parada mais longa.
— Vocês precisam estar de volta em meia hora — Ele anunciou — Não vou ficar para esperar atrasados.
Seu tom era um costumeiro autoritário e entediado. Lembrava a cola suja que sobrava depois que um adesivo era mal retirado. Yoongi revirou os olhos.
— Um vento vai passa' e vai congela' seu rosto nessa expressão. — disse a menina de cabelos curtos, em uma péssima impressão maternal, tornada ainda menos efetiva pelo sorriso travesso que seguiu sua fala.
— Nenhum vento vai passar por esse fim de mundo — respondeu Yoongi.
Não que ele estivesse errado. Depois daquele verão, Yoongi tentou arduamente lembrar o nome da cidade daquela parada. Mas era uma tarefa impossível. Não havia ventos nem chuvas naquele lugar. Era um suspiro de existência.
"He's a real nowhere man, sitting in his nowhere land making all his nowhere plans for nobody"
— Tsc. Essa atitude aê não combina com a cor do seu cabelo.
Para enfatizar o que disse, a garota levantou uma mão e bagunçou as mechas rosadas de Yoongi. Então sorriu. Mas esse era um sorriso completamente diferente. Até então, ela lhe parecera uma colegial. Mas com aquele sorriso, de repente, era uma mulher.
— Vai descer para comer alguma coisa? — Yoongi perguntou.
— Ih, nem nem. To dura feito um coco.
— Te compro alguma coisa, se estiver com fome. Pelo menos uma água.
— Tá dando em cima de mim? — ela fez a pergunta de um jeito estranho. Não foi arrogante, mas também não foi assustado, ou chocado, nem insultado ou elogiado. Era mais como uma pergunta para estudá-lo.
— Não — respondeu Yoongi — Só achei que deveria ajudar você. Uma jovem mulher na estrada, e tal.
Ela levantou uma sobrancelha falhada para ele, e fez uma bolha com seu chiclete.
— Saquei que você tá querendo me ajudar, mas pode soar bem... como que falam?... condescendente esse discurso de jovem mulher na estrada.
— Não foi a intenção.
— Eu saquei. — então, mascou o chiclete pensativamente por mais tempo — Bem, você parece bem de boas. Vou aceitar a proposta. Valeu.
Então eles saíram do triste ônibus para a triste cidade e caminharam por um estacionamento deserto até uma triste cafeteria.
Durante toda sua vida, Yoongi encontrou muitos outros lugares como aquele, onde o chão é frio e cinzento e a luz branca grita para comidas enlatadas e mesas que mesmo limpas, parecem um pouco nojentas. Mas fosse por truque da memória ou observação objetiva, aquele sempre lhe parecera o mais feio, frio, impessoal de todos. Ele e a menina se sentaram e ele pediu dois cafés e um sanduíche de mortadela.
— É Mariko — ela disse — Mas pode me chamar de Riko, ou Mari, o que preferir.
— Japonesa?
— Meu pai era.
E ele disse:
— É Yoongi.
E ela disse:
— Nome bonito. Vou te chamar de Yoon.
O café e o sanduíche chegou nas mãos de uma garçonete alta e rechonchuda, de faces rosadas e cabelo mal pintado de loiro.
— Serião, valeu pelo café.
Yoongi encheu sua xícara com açúcar e bebeu um generoso gole.
— Não me agradeça, Riko. Tem gosto de gasolina.
Ela colocou apenas um cubo de açúcar e bebeu dois pequenos goles.
— Já provei piores. Você deve ser mal acostumado.
— Pode ser.
Eles beberam o café e dividiram o sanduíche em silêncio.
— Você disse que não sabe onde vai ficar quando chegar à orla, né?
— É — Yoongi respondeu.
— Bem, tem três lugares em que 'cê pode ficar. O apartamento sótão do velho Song, mas acho que ele está pra alugar pra alguém logo. O Motel Red, que é cheio de puta a trabalho e velho gordo esquisito. Ou a Pensão Sasaki, que além de ser muito de boas, por acaso eu sou sócia. As putas lá estão de folga e os velhos são gentis.
— Sócia? Quantos anos você tem?
— Minha mãe é dona. — Ela balançou a mão, como se não fosse importante, e se debruçou sobre o café — Posso fazer um precinho legal pra 'cê, porque você me comprou café e é meio bonitinho.
— Tá dando em cima de mim? — Yoongi ecoou.
— Uhmm — ela suspirou, pegou um maço e um isqueiro do bolso da calça e acendeu um cigarro — Vamos ver.
"woa, oh, I never realised what a kiss could be, this could only happen to me, can't you see, can't you see?"
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NORWEGIAN WOOD | MYG+KNJ
Fanfictionquando Yoongi decide organizar a miríade de livros que transborda de sua estante, se surpreende ao encontrar um em língua japonesa. A edição de "Norwegian Wood", romance de Haruki Murakami é frágil e amarelado. As folhas quebradiças se soltam da lom...