O pássaro (parte 1)

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Sou como pássaro que (um dia) voou, e voou tão longe que se perdeu de seu ninho. Voou tão alto que não se via mais sua beleza, era só mais um ponto no céu como outros mil, que nem se distinguiam em pássaro ou avião. Sentia uma sensação de liberdade, com um misto de cansaço, era tão pequeno que sustentar aquele vôo todo não era para ele, mas o chão parecia tão longe que ele não sabia mais se aguentaria descer. Sabia que voar com outros pássaros perdidos não lhe fazia mais bem, e sabia que a qualquer momento poderia cansar tanto, que suas asas não funcionariam mais, e ele cairia lá de cima, mas continuava lá.
Descuidou-se, desabou.
Se encontrou no chão, preso, engaiolado e exausto. Passou dias no chão da gaiola, até que decidiu levantar. Observou os detalhes, através das grades brancas e enferrujadas, não viu nada além de uma porta de garagem fechada, desanimou-se. A vida havia lhe pego. Podia dar pequenos vôos dentro da gaiola, mas aquilo não o saciava, não fazia sentido dar pequenos vôos, para quem já voou num céu tão grande.
Depois de um tempo (não se sabe quando pois agora falo do futuro, mesmo usando os verbos no pretérito) ouviu um estrondo, viu uma luminosidade vindo de fora, era a porta que se abrira. Olhando para todas aquelas cores novamente, enxergava belezas jamais conhecidas, ele que sempre voou alto, desconhecera as criaturas que habitam a terra (o chão).
Começara a se recuperar, suas asas se fortaleceram e o resto de sua história, ainda é meio incerta. A única coisa certa (no sentido de ter plena razão) é que um dia ela chegará ao fim, mas tudo dependerá, de sua trajetória, e onde ele voará (se um dia voltar ao céu).

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