ano novo, amigos e fotos no instagram

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As doze badaladas do relógio haviam batido. Uma porta para um recomeço, mas tudo parecia uma confusão ainda. O furacão que habitava dentro de mim parecia se
acalmar na medida do possível, mas eu ainda não me sentia reconstruída, parte de mim, ainda estava devastada.

3 de Janeiro

Eu estava andando pelas ruas de Porto Alegre, observando os esbeltos prédios históricos. Tudo parecia tão sujo e vazio naquela cidade, mas aquele tipo de arquitetura sempre me pareceu fascinante. Na verdade a arquitetura em sí é algo que chama a atenção do meu intelecto. É tão belo pensar que alguém planejou cuidadosamente aquelas construções, com tanta (ou quase) exatidão.
Enquanto observava, sentia o aroma da metrópole, que logo após alguns passos confundiu-se com o cheiro de café que vinha de uma pequena cafeteria. Eu estava cansada e com um tanto de fome já, estava andando a muito tempo, e precisava abastecer-me.
Logo, entrei na cafeteria.

Ela era agradável, tinha um estilo um tanto vintage, com mesas redondas e luminárias coloridas. Sentei em uma mesinha ao lado da janela, onde poderia ver a rua enquanto bebia meu café. Era um local (que apesar de pequeno) movimentado, então eu provavelmente teria de esperar um tempo até ser atendida. Enquanto esperava, abri meu instagram, e lá estavam fotos e sorrisos, dos mais diversos. Eu só não esperava encontrar fotos deles. Aparentemente haviam passado o ano novo juntos, foi um choque, porém não uma surpresa, mas é surpreendente pensar "eu poderia estar lá". Engraçado como terminar relações é algo tão estranho e bizarro. Tanto tempo compartilhando vivências, sonhos, e segredos com alguém, e de repente tudo aquilo acaba, ambos seguem caminhos diferentes como se nada nunca tivesse acontecido. De fato, algo impensável quando se está tudo bem.

Desliguei a tela do celular, e percebi que uma garçonete passava e vinha em minha direção.

Pedi o típico café preto, pois precisava espairecer, e o café sempre me ajudara. Para acompanhar, pedi uma fatia de torta, que possuía camadas de chocolate branco, preto e prestígio.
Pus me a olhar os pássaros através da janela, voando pelos ares. Ah, como eu gostaria de voar. Eu sempre fui um tanto sonhadora, mas a vida andava tão complexa, que meus sonhos coloridos estavam indo embora, e minha vida estava se tornando cada vez mais preta e branca, meio melancólica talvez.
Distraída, nem havia percebido a presença da garçonete que vinha trazer meu pedido.

Bebi o café e não pensei em mais nada. Quis dar me um momento para apreciar nada a não ser o gosto daquele café. Há tanto tempo não conseguia tomar uma xícara de café do modo que bebia naquele momento. Meu café diário havia se tornado um remédio, não um prazer. Era tão triste necessitar dele ao invés de apreciar-lhe, e pensando assim, numa maneira geral das coisas, quantas coisas mais eu necessitava, sem apreciar o seu real valor? O seu real gosto?... não seria necessário muito pensar para responder essa pergunta, mas naquele momento eu não pensava em muitas coisas, naquele momento preferi reduzir minhas preocupações, e apenas tomar aquela xícara de café, sem pensar no ano novo, nos meus amigos ou em fotos no instagram.

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