Capítulo 2

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PARZIVAL

Dois anos antes, uma jovem de cabelos verdes muito curtos apareceu em sua porta, segurando consigo uma pilha de livros empoeirados e um sorriso um tanto aterrorizante contornando os lábios vermelhos. Seu nome era Mira Winter, representante oficial da atual administração daalrosiana. Naquele dia, Parzival não só descobriu que magia era real, mas também que ele estava sendo considerado para se inscrever na principal universidade bruxa do planeta. Era um procedimento padrão, enviar bruxos comunicadores para visitar estudantes em potencial ao redor do mundo dois anos antes do período das inscrições.

Nos primeiros dez minutos de conversa, para ele tudo não passava de um mal entendido, ou de uma brincadeira de mal gosto. Mas então ele se lembrou. Aquela sensação. Aquela coisa cutucando o canto direito do seu cérebro. Aquele sentimento de que às vezes, poderia existir sim uma explicação alternativa para uma série de coisas estranhas que aconteciam em sua vida. Uma dúvida que ele mal sabia colocar em palavras, acabava de ser sanada de uma vez por todas.

A resposta era magia.

Então, a excêntrica Mira Winter definiu o básico e Parzival ficou com a pilha de livros para si, prometendo se aprofundar até o período de ser elegível para as vagas em Daalrosia. Ele estudou magia em segredo, feito um doido, enquanto seus pais teciam o futuro de sua carreira, para satisfazer um desejo de algo que havia sido planejado desde o princípio de sua vida. Oxford? Cambridge? Algo caro e de renome, que o levasse para perto de seus negócios familiares e seguisse próximo a eles até o fim.

Um mês atrás, Parzival não conseguia imaginar a sua vida sem a magia. Ele não seria um diplomata, ele não tinha aquilo correndo em suas veias como ele podia agora sentir em cada célula de seu corpo a magia transcorrer. Ela era como uma necessidade, descobrir cada vez mais, estudar, desvendar, encontrar respostas para tudo. E queria ser magia. Por inteiro. Um dia, quem sabe, seus pais entenderiam.

Há apenas sete dias, Parzival estava em seu quarto ouvindo um podcast secreto sobre vampiros e escravos de sangue, quando um fogo azul-oceânico surgiu na frente de seus olhos, deixando sua visão turva e seus pelos eriçados. Uma carta em tons de azul e dourado surgiu das chamas, caindo ao chão lenta como uma pena deslizando com o vento. Seus olhos observaram o movimento em câmera lenta e tudo escureceu.

E agora, finalmente, ele estava lá. Daalrosia. O El Dorado bruxo. Um lugar como dos livros, como ele jamais poderia ter sonhado.

E ele já estava passando vergonha na frente das pessoas.

O jovem Parzival Hunter-Kelly dificilmente era o garoto de dezoito anos mais gracioso e coordenado que existia, tampouco o que se dava melhor em grandes grupos de pessoas apressadas que andavam e se esbarravam de um lado para o outro. Parzival preferia uma vida tranquila e sem muita agitação, muitas vezes optando por uma xícara de chá enquanto se enfiava em um cobertor com seu livro favorito estendido nas palmas das mãos. Ele achava que a maior parte de Daalrosia seria feita de garotos e garotas intelectuais e introvertidos como ele, que prefeririam ingerir sabedoria do que bebida alcoólica.

Provavelmente ele estava errado.

— Tá precisando de ajuda para encontrar sua morada? - Auguste perguntou, com um olhar preocupado. Ele provavelmente estava com pena do seu estado, lamentavelmente sujo e com uma pitada de humilhação como toque final.

Auguste Nightingale tinha olhos grandes e atentos,  duas esferas verdes como uma floresta densa e tropical que abraçava a tudo ao seu redor, com suavidade e mistério. Sua pele escura cor de oliva se iluminava com uma camada fina de suor e seu sorriso deixava Parzival inquieto. Ele não conseguia confiar em pessoas que sorriam o tempo todo, de graça, mesmo depois de ter sido resgatado pelo mesmo quando estava sendo alvo dos bullies.

Grim Grimoire Vol. 1 - Os Bruxos de DaalrosiaOnde histórias criam vida. Descubra agora