LUA

Cαρítuɭo I

Minha mãe é uma secretária do lar profissional. Se tornou mestre no que faz com o decorrer do tempo, afinal já são mais de 16 anos fazendo a mesma coisa: lavando, arrumando, dobrando e limpando.

Sinceramente tanto eu quanto ela não desejamos que eu siga a mesma carreira. Por isso sou tão dedicada com relação a minha formação acadêmica, já estou no último ano na escola Royals e em breve irei para uma renomada faculdade de artes, ela obviamente não sabe disso ainda, pois sua opinião é contrária a minha.

Sempre almejei em trabalhar com algo que me trouxesse felicidade, e ao mesmo tempo capturasse momentos que jamais fossem esquecidos.

Compreendo perfeitamente o porque de minha mãe querer uma profissão que me proporcione estabilidade, mas meu coração não deseja o estável e sim o inimaginável.

Quando garotinha Beatrice me deu uma câmera velha e usada que era sua, eu tirava fotos de tudo o que via, e até hoje continuo fazendo o mesmo.

Minha primeira câmera é extremamente preciosa, tenho enorme gratidão pelas fotos mágicas que ela me permitiu capturar, mas tive que declarar seu aposento. Apesar de ser muito boa, era antiga e precisei de uma nova. Hoje ela fica guardada no meu baú de tesouros, assim como outras diversas coisas que para mim tem valor inestimável.

Devo dizer que encontrei a extensão do meu ser nas lentes de uma câmera, tenho paixão em fotografar, ser uma fotógrafa profissional e reconhecida mundialmente é meu maior sonho.

Já falei com minha mãe a respeito da minha decisão de fotografar para ganhar a vida. Porém todas as vezes nosso diálogo sempre toma o mesmo rumo: Sermões sobre como a realidade pode ser cruel, e como tudo pode se tornar um pesadelo rapidamente assim como aconteceu com ela.

Ela queria fazer faculdade de direito, não terminou nem o ensino médio.

Desejou ser a rainha do baile, nem ao baile pôde ir.

Sonhou em casar com o namorado e ele terminou com ela ao descobrir sua gravidez, desapareceu.

Meus avós assim como Beatrice planejaram muitas coisas, e quando as circunstâncias levaram a algo fora do desejado, que no caso sou eu, eles tentaram reparar o imprevisto e seguir o plano que havia sido tão meticulosamente traçado para ela: ser uma advogada de sucesso e assumir a liderança do escritório de advocacia Williams.

Segundo eles a primeira coisa a se fazer era esconder a gravidez de toda a cidade, dar a criança para a adoção quando nascesse, e fingir que nunca houve um bebê indesejado na família Williams.
Minha mãe não concordou, afirmou veementemente que eu era fruto do seu amor com Matt, e ela não poderia me abandonar assim como ele fez com ela.

Consequentemente eles a expulsaram de casa na esperança de que ela mudasse de ideia, mas como eu ela sempre foi muito decidida, arrumou tudo, sumiu no mundo e nunca mais voltou para Minnesota.

Infelizmente Beatrice foi muito desiludida e teve poucas oportunidades de crescer na vida, ao não ter uma formação acadêmica lhe restou poucas coisas a se fazer, mãe solteira e sem o apoio de ninguém, teve que se virar como pôde.

E agora estou aqui, mais uma vez escondida no armário de limpezas de estranhos, esperando que os donos saiam de casa, para que eu possa ir ajudá-la na faxina.