Viagem em família - Parte 1

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O sol mal atravessava a copa das árvores da floresta àquela hora do dia. Era cedo, antes mesmo do cantar dos pássaros ou do som incessante dos animais da floresta. O pai de Jennifer ia à frente dos demais, levando consigo um facão na cintura para cortar qualquer que fosse a vegetação que obstruísse o caminho de Antônio, o burro de carga da família.

Apesar das queixas constantes do velho homem sobre o facão, ele estava satisfeito por poder carregá-lo consigo, já que qualquer outra coisa – espada ou adaga – seria confiscada como uma arma. Os cavaleiros levaram boa parte dos mantimentos e dos bens materiais da família, incluindo Oscar, o cavalo que tanto fazia falta, agora que tinham que levar todos os tecidos e malhas feitos por Maria, a mãe de Jennifer, e todas as peças de artesanato feitas por Leonard, o pai.

Antônio sempre foi um burro preguiçoso, mas a viagem se mostrou tão longa que ninguém ousou repreendê-lo quando ele empacava. Lucinda, a filha mais nova, ainda não conseguia seguir tanto tempo a pé, e era levada nas costas de Jennifer como se fosse uma mochila. A garotinha de oito anos era a alegria do grupo de viajantes. Não importava qual fosse a situação, ela sempre conseguia divertir – ou pelo menos entreter – a todos. Lucas, o irmão do meio, estava com seu arco de prontidão para abater qualquer ave ou pequeno animal que passasse diante de seus olhos, destinado a terminar na panela para servir como uma boa refeição mais tarde.

Quando os raios de sol se intensificaram, Lucas cobriu os olhos com a mão livre, segurando o arco com o outro. Ele estava cansado por viajar a noite toda, assim como o restante da família, mas sempre seguia pouco atrás do pai, energético como só ele mesmo era capaz de ser. A vegetação era rasteira e as árvores não eram frutíferas, o que tornou o dever do garoto ainda mais importante e alarmante.

Por fim, o garoto avistou um pequeno coelho saindo de sua toca, e fez sinal com a mão para que todos parassem para não assustar o animal. O pequeno passou à frente do pai, respirou fundo, colocou uma flecha no arco e puxou, prendendo o fôlego para não tremer o arco quando atirasse. A flecha voou, tremendo levemente, mas sendo nivelada pela pena na parte de trás. Cortando o ar, ela viajou até penetrar o pelo do animal, mortalmente atingindo o pescoço, logo atrás da orelha.

Haveria carne para o almoço.

O garoto correu até sua caça e levantou o animal em comemoração, recebendo aplausos e os parabéns da família. Pouco mais à frente havia um rio, e a família parou à beira dele para descansar.

- Vamos comer o coelho agora? – Perguntou a pequena Lucinda.

- Não, querida – Respondeu a mãe. – Ele vai ficar para o almoço, talvez para a janta. Ainda temos frutas e legumes para comer no café-da-manhã.

A menina fez cara de enjoo.

- Temos mesmo que comer isso de novo? Eu estou cansada disso de comer folhas e amoras.

- Se não comermos logo, vão estragar – Disse Leonard, o pai, esfolando a pele do coelho e lavando-o na água límpida e cristalina do rio.

- Mas eu não quero – Birrou a menina.

- Ora, ora, mocinha, temos que agradecer por termos mais um pouco de carne para o almoço – Disse Jennifer. – Se não fosse nosso bravo e valente irmão que caçou essa enorme fera selvagem, nós comeríamos frutas e legumes até no jantar – Continuou ela, abraçando Lucas, que gargalhava.

Lucinda suspirou, contrariada, mas sorriu logo em seguida. Maria olhou com aprovação para Jennifer, imaginando como ela fazia para que Lucinda aceitasse tudo o que ela dissesse tão facilmente.

O sol já começava a cortar o céu, mas ainda estava frio. A família montou um abrigo para descansar um pouco antes de retomar a longa viajem que ainda tinham pela frente. As três mulheres se deitaram juntas, adormecendo quase simultaneamente, mas Lucas e Leonard permaneceram sentados a alguns metros de distância, vigiando-as. O arco de Lucas repousava no chão, ao alcance de sua mão, mas ele estava sonolento e bocejou.

A Serva de CharlotteOnde histórias criam vida. Descubra agora