A Rainha Arrogante

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O frio do início da primavera estava diminuindo quando a tarde veio. Jennifer ainda permanecia deitada em sua nova cama, olhando para a nova porta de seu novo quarto. Ela estava abraçando os próprios joelhos em posição fetal, quase chorando e se lamentando. Não estava acostumada a ficar sozinha, já que morava em uma casa humilde e tinha uma família bem grande.

O som das batidas à porta a despertou de seus pensamentos, e a voz de Alfred se fez ouvir do outro lado.

- Jennifer? Eu posso entrar?

Ela esfregou os olhos para ter certeza que não tinha chorado e que não tinha lágrimas nos olhos e se endireitou.

- Sim, pode entrar.

Alfred entrou com uma enorme bandeja de sopa, uma maçã, algumas uvas, pão e uma taça de um líquido escarlate, quase roxo. Na dobra do braço de Alfred, o homem levava consigo uma veste feminina.

- Trouxe algo para você comer – Disse ele, colocando a bandeja em cima da penteadeira, a vestimenta logo ao lado, e foi em direção à moça. – Posso me sentar com você?

- Ah, pode, claro – Ela parecia sonolenta, mas seus olhos estavam apenas cansados de tanto chorar naquele dia.

- Eu sei que não está sendo fácil para você, mas como nova serva real, seria bom que se acostumasse depressa.

- Fácil falar. Você já deve fazer isso a o quê? Uns 20 anos?

- 35. Um bom tempo, para um empregado.

- Tempo até demais. Só pelo que você me disse que tenho que fazer, imagino que não vou durar um dia aqui.

- Vai. Vai, sim. É difícil no começo, mas tudo fica mais fácil com a prática.

Jennifer tentou sorrir, mas seu rosto fez uma expressão quase que de tristeza. A verdade era que ela não tinha medo de não se adaptar, ela estava triste por precisar estar em uma situação como aquela e a única coisa que poderia fazer era se adaptar.

- A Rainha deseja que você comece a trabalhar amanhã – Disse Alfred, suspirando. – Eu insisti que lhe desse mais tempo, mas ela não acatou meus conselhos.

- Obrigada mesmo assim.

- Vou acompanhá-la nos primeiros dias para que tenha uma conduta satisfatória, mas receio que não possa ajudá-la sempre.

- Por que está sendo tão gentil comigo? – Jennifer fixou seu olhar no de Alfred.

- Bom, você é apenas uma mocinha – Ele afagou seu cabelo em um gesto carinhoso e íntimo, quase paternal. – Sei que vai aprender rápido, mas não quero que tudo comece de modo ruim para você. Você vai ouvir muitas queixas da Senhorita no começo, e quero que elas terminem o quanto antes.

- Então está preocupado com ela gritar comigo?

- De certa forma. Uma moça tão jovem não devia ser forçada a ser um serviçal dessa forma. Eu detestaria ver você se encolher de tristeza enquanto estiver aqui. Se fizer tudo que Sua Majestade pedir, ela não vai incomodá-la, e talvez você possa até desfrutar um pouco das vantagens de viver em um castelo como este servindo à realeza.

Jennifer ainda sentia que Alfred era um enigma. Se em uma hora ele parecia preocupada com ela, em outra parecia apenas querer que a Rainha estivesse sendo bem atendida o tempo inteiro.

- Eu vou tentar me esforçar – Jennifer suspirou. – Não é como se eu quisesse que ela me humilhasse de novo como hoje de manhã.

Alfred fechou o rosto em uma expressão de desânimo, como se dissesse que aquilo foi o modo dela de ser compreensiva e adivinhasse que Jennifer passaria por situações ainda mais constrangedoras que aquela. A jovem entendeu seu olhar e voltou seus olhos para seus pés, lamentando-se em silêncio.

A Serva de CharlotteOnde histórias criam vida. Descubra agora