A Serva - Parte 2

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Assim que a Rainha subiu as escadas e se foi, o mordomo caminhou até Jennifer. Ela ainda chorava, agora sentada sobre os joelhos, como se não pudesse se levantar. Ficou de cabeça baixa até ver os pés do homem a sua frente, e só então olhou para cima. A mão de Alfred estava estendida em direção a ela, e Jennifer a segurou.

Quando ele ajudou a moça a se levantar, disse:

- Por favor, perdoe a Srta. Charlotte.

- Ela me tirou da minha família. Me fez sua serva. Tenho que ficar aqui, onde não conheço nada nem ninguém, fazendo tudo que me mandarem fazer sem questionamento... Como posso fingir que não estou mal por isso?

O que Jennifer disse foi um desabafo, não exatamente uma resposta para o que Alfred pediu.

- Venha, criança, eu vou lhe mostrar o castelo.

Jennifer secou as lágrimas com a manga de sua blusa e assentiu com a cabeça, e Alfred se dispôs a carregar sua bagagem para ela. Ao subir as escadas para o terceiro piso do castelo, enquanto andava, Jennifer observou os enormes e largos corredores do lugar, todos decorados com mesas com jarros de flores, lustres magnificamente belos, as colunas monumentais com adornos robustos, mas delicados, tapeçarias com estampas de leões e guerreiros e vidraças dando vista para o pátio, os estábulos e uma área que Jennifer não conhecia.

Até mesmo o centro dos corredores tinha tapetes com bordados cobrindo algumas partes do piso, e em alguns cantos ou junto às paredes dos corredores havia algumas armaduras e armas – machados e espadas pendurados bem alto.

A turnê pelo castelo levou alguns minutos antes de chegar ao que parecia o lado de fora de um quarto. A porta era dupla, enorme e toda enfeitada, com adornos entalhados de cima a baixo. Ao lado, bem longe da porta, havia outro quarto, com porta simples, bem menor e sem nenhum adorno.

- Aqui são os aposentos da Rainha – Disse Alfred. Depois apontou para a outra porta. – Aquele é o quarto das servas pessoais dela. Você ficará ali. Vamos, poderá arrumar suas coisas lá.

- Obrigada, senhor.

- Oh, por favor, me chame só de Alfred. Eu e você temos o mesmo status, não há porque tanta formalidade.

- Está certo – Jennifer sorriu para ele. – Obrigada, Alfred.

Eles entraram no novo quarto de Jennifer. Apesar de grande, não era nada enfeitado. Um quarto cinzento, sem adorno algum. Não havia tapetes no chão nem belas cortinas nas janelas ou um lustre para iluminação. Tudo que preenchia o quarto era uma penteadeira marrom com um espelho sujo, uma lamparina a querosene sobre ela, uma cadeira velha em sua frente, dois cestos de roupa e uma cama. O quarto era pequeno e retangular, como se tivesse sido construído apenas para preencher o espaço entre dois cômodos.

Alfred colocou a bagagem de Jennifer no chão e foi até a penteadeira, abrindo uma das gavetas, retirando uma toalha de cama verde-claro e jogando sobre o ombro. Ele virou o colchão da cama, levantando alguma poeira - todo o quarto estava empoeirado. Enquanto colocava a toalha de cama, Alfred dizia:

- Eu sei que o quarto não é grande, mas é bem confortável quando se acostuma. Aqui era um pequeno armazém, mas a Rainha quis que transformassem em um quarto para sua serva pessoal. Assim ela viria mais rapidamente quando fosse chamada.

- Ela parece bem mimada – Reclamou Jennifer.

- Mocinha, melhor não dizer nada desse tipo para as pessoas do castelo. Há muita gente que ficaria feliz em saber que há uma serva que odeia Sua Majestade. Isso seria uma informação bem valiosa.

- E por que isso importa? Ela sabe que eu não gosto dela.

- Não se trata disso. Como Rainha e em momentos de guerra, muitas pessoas podem atentar contra a vida dela. Caso isso aconteça e dê errado, o mandante do atentado pode armar uma situação em que a culpa recaia sobre você, a jovem serva que odeia a Rainha de todo o coração e faria tudo para vê-la morta.

A Serva de CharlotteOnde histórias criam vida. Descubra agora