notes

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  Fechei o notebook após um último gole do meu café. Ainda havia em mim pequenas esperanças nos textos que escrevia, mas não era do tipo que vendia. Não era do tipo que as pessoas liam, reliam, recomendavam e comentavam em uma roda de amigos. Era do tipo que lê-se uma vez, quando achado perdido na internet, e nunca mais se lembra.

  Estiquei minhas pernas na poltrona, e alcancei a luz do sol com meus calçados velhos. O dia está ensolarado e não muito quente. Um belo dia.

  Histórias tristes e melancólicas são escritas em dias nublados, chuvosos, em atmosferas vazias que remetem o leitor à solidão. Mas as pessoas também se sentem solitárias em dias claros e coloridos, em ambientes confortáveis, cheios de amigos. "Sozinho ou acompanhado, solidão é solidão e nada vai mudar". Li isso em algum lugar. Em algum texto vago e esquecido. Tão esquecido quantos os meus. Tão esquecido quanto eu.

  Eu me sentia sozinho.

  Meu silêncio pacífico, constituído pelo som leve de uma trilha lo-fi que minha vizinha é viciada, e doces bem-te-vis que iam e vinham na sacada… era solitário. A solidão é um estado iminente da alma. A qualquer momento, em qualquer lugar. Efêmero ou constante. Mas nunca realmente vai embora. Um paradoxo literário, eu diria. É errado dizê-lo efêmero e logo após afirmar sua permanência eterna. Mas a solidão não cabe em palavras, em textos, muito menos em metáforas.

  Não sou bom de metáforas. Talvez isso desvalorize meus textos. Puros e diretos. As pessoas não estão prontas para isso. Não é agradável aos olhos, não é agradável à mente. Pouco vale para mim, o autor, imagina para eles, o júri. A leitura massiva que te leva a um ponto específico de raciocínio, faz uma reviravolta e desfaz-se em ideias vagas. Como… a vida.

  No fim, eu sou um autor desprezível. Vago. Solitário. Jogado em uma poltrona desgastada, respirando o ar puro de uma tarde ensolada de outono, e lamentando minha carreira perdida.

  Dizem que a solidão é inspiradora às mãos dos melhores artistas. Quero um dia chegar ao nível deles. Como todos meus textos fúteis, este também acabará sem conclusão. Um cérebro bagunçado nunca para de pensar, colocar um fim à sua reprodução escrita é desvalidar toda a obra.

café, chocolate e almaOnde histórias criam vida. Descubra agora