Prólogo- O Jardim das Clarissas

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          Ano de Nosso Senhor de 1548,

Floresta del-Rei, Ilha de Sant'Ângelo.

Em meio as árvores verdes de pinheiros e carvalhos, se destacava o homem de batina preta e o cobertor azul marinho em seus braços.

Corria o mais rápido que podia com a criança em seus braços: prometera ao pai mantê-la sã e salva para a mãe, que era sua irmã e o aguardava no convento das irmãs da Ordem de Santa Clara (Clarissas). Porém, os inimigos de seu pai eram espertos e mandaram homens para matar a criança e, se fosse necessário, também ele ou qualquer um que ficasse no caminho.

Em seu percurso pela floresta, parou poucas vezes, para conferir se os soldados estavam longe e parava para descansar. Eles eram homens habilidosos, rápidos e fiéis ao seu comandante e cumpririam sua missão a todo custo.

Corria pelas trilhas, atravessava clareiras, subia encostas e descia barrancos, com uma criança de apenas quatro meses em seus braços e quatro soldados no seu rastro.

O pai do menino havia perdido a batalha em Bel-Vale, um campo do outro lado das montanhas, seu irmão mais velho havia sido morto, a sua mãe se refugiado em um convento nos arredores da cidadela de Paterno e o seu padrinho estava pondo sua vida em risco no meio de uma floresta quase que selvagem.

E ele tinha apenas quatro meses. Em poucas horas, o seu pai já estaria morto, e ele seria o herdeiro da missão de reunir a grande Ilha de Sant'Ângelo debaixo de uma só coroa. O seu pai estava neste caminho, de reunir todos os nobres e formar uma única nação, até ser morto em campo de batalha pelas tropas do soberbo nobre Tom Olovram Lord e seus mercenários sarracenos (vindos do norte da África).

O padre e a mãe do menino conseguiram fugir poucas horas depois da batalha, mas sofreram uma emboscada nos arredores do campo de batalha. Ora, as tropas de Tom pouco se importavam com a esposa do seu inimigo, mas sim com o seu herdeiro, por isso o padre se arriscou em seguir pela floresta sozinho, enquanto que a sua mãe iria de carruagem.

Mas quatro soldados viram o sacerdote e o seguiram, e eles queriam cumprir sua missão a todo custo.

Padre Miguel (este era o seu nome) parou para descansar debaixo de uma árvore. O menino hora dormia, hora acordava rapidamente e voltava a dormir mais rapidamente ainda. Percorreu na floresta por quarenta e cinco minutos, e estava a apenas quinze minutos do convento. Já não ouvia ninguém atrás dele.

Seguiu em frente com o menino.

Até ouvir um barulho ao seu lado.

Uma flecha cravou no tronco caído a sua direita, ele olhou para o alto do barranco ao longe da onde ela tinha vindo, e lá estava um soldado posicionando outra flecha no arco.

Ele correu, antes que a flecha anteriormente no arco o atingisse. Correu por entre as árvores apertando o menino ao seu peito, para garantir que ele ficaria seguro. Não era apenas uma criança, era seu sobrinho. E mais: Era seu afilhado. Não saberia o que fazer se ele fosse ferido ou pior: morto

"Prometi diante de Deus e dos homens guarda-lo e garantir sua vida. Agora, que Deus me ajude''.

Correu o mais rápido que pode, ouvindo passos e palavras de ordem ao longe, até se deparar com uma ladeira úmida e escorregadia, da qual não deveria haver outra forma de descer ou contornar em várias milhas.

"Ah! Não queria sujar minha batina nova..."

Ele ignorou esse pensamento e decidiu fazer o que lhe veio em sua mente antes que os soldados o alcançassem.

Tomou distância e na beira do barranco se jogou no chão com as costas na lama. Segurou firme o menino em seus braços e sentiu a lama fria e os calombos de raízes e pequenos tufos de grama passando em suas costas.

As Crônicas de Sant'Ângelo- O Anjo, a Espada e o Rei.Where stories live. Discover now