Joseph andou apressado pelos corredores do convento, para a terceira sala do segundo andar. Lá era a sala do superior do convento, que no momento era o Frei Raniero.
Bateu duas vezes na porta, antes de perceber que ela estava entreaberta. Vendo que não havia ninguém ali, entrou e se sentou em uma das cadeiras que havia fronte a escrivaninha central.
Tirou a faca que tinha conseguido na praça. O seu punho era de metal revestido com couro. Na ponta, havia uma espécie de medalhão partido ao meio, encaixado em uma pequena fenda na extremidade.
Retirou a medalha, de um lado tinha uma imagem de São Miguel Arcanjo, do outro Jesus e a Virgem Maria.A lâmina da adaga tinha desenhos delicados de galhos que se espalhavam a partir do centro da lâmina. O ferreiro que o fez era um verdadeiro artista, poucos davam conta de fazer algo tão bem feito.
Guardou-a no bolso, ainda enrolada no pano, e cobriu-o com a blusa, para disfarçar.
Andou pela sala, parando em um pote com água que estava no parapeito da janela. Provavelmente usada para regar as flores que haviam no parapeito da janela. Joseph olhou para dentro da água cristalina, recém tirada da fonte. Sua pele branca, levemente morena pelo sol e seus cabelos cacheados o faziam ter uma grande semelhança com a mãe. Mas os olhos verdes-escuros, pelo que diziam, o fazia lembrar muito o seu pai. Por mais que não seja dos mais fortes ou mais altos, se considerava bonito.
-Preciso parar de pensar nisso.- pensou. Frei Raniero não gostava que ele alimentasse pensamentos egocêntricos ou vaidosos como esses.
"Vaidade das Vaidades, tudo é vaidade"- vivia repetindo.
Andou pela sala, entediado. Havia uma pilha de papéis em cima da mesa. Estudos, estatutos da ordem, anúncios, panfletos...
-Espere, panfletos?
Olhou para o papel decorado com floreios que havia bem em cima de todo o resto:
"Príncipe Pedro, do Protetorado e Principado do Sul de Sant'Ângelo, acha por bem publicar o seguinte: Há vagas para treinamento na Escola de Guerra de Sua Alteza em Aurum, capital do Protetorado. No intuito de renovar as forças militares, há vagas para todos os cidadãos homens, com mais de 16 anos e de boa vontade e boa índole. Recrutamentos na própria escola."
Em baixo havia o desenho do selo principesco.
O fato da última frase estar sublinhada lhe chamou a atenção...
Seu sonho desde criança era ser um soldado. Cresceu ouvindo as histórias de seu pai, que era oficial de um antigo Príncipe que sonhava em reunir todo os vários reinos da ilha de Sant'Ângelo em um só, sob a sua coroa. Ouvia desde sempre que seu pai morreu bravamente na batalha de Bel Vale, do outro lado das montanhas. Depois disso, o Principe foi morto em uma emboscada e sua família ficou desaparecida do mundo.
Ouvia tudo isso desde muito novo. Sua mãe sempre lhe contava essas histórias antes de dormir. Frei Raniero havia lhe relembrado dessa história na noite anterior, inclusive, durante a janta.
Queria ser um herói como o seu pai foi, queria ser um soldado. Por isso chegou a ser aprendiz dos soldados da Milícia local, que protegia os muros da cidade de bandidos e ataques externos. Aquele dia era, inclusive, seu dia de folga.
Seus pensamentos foram interrompidos pelas vozes que se aproximavam no corredor, vindos da capela.
Sua mãe e Frei Raniero entraram na sala discutindo algo que Joseph não consegui compreender o que era, mas pararam de falar no instante em que o viram do lado de dentro.
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As Crônicas de Sant'Ângelo- O Anjo, a Espada e o Rei.
FantasyJoseph acreditava ser apenas um jovem qualquer de uma cidade no interior de um distante país europeu no meio do mediterrâneo. Mas a antiga profecia de um bispo ecoava na história da grande Ilha de Sant'Ângelo: De que um rei surgiria para combater...