A viagem pelos labirintos de ruelas estreitas e avenidas movimentadas durou cerca de vinte minutos, até chegarem a uma praça ornada com chafarizes de mármore e árvores em seus limites.
De um lado da praça, ocupando todo um quarteirão, havia o grande Palazzo Autrum, residência da família Austrum, os reis do sul. A fachada de pedras robustas no térreo e quatro andares de janelas amplas com colunas brancas de mármore entre uma e outra dava um ar de eclético ao palácio; somado ao fato de no topo da residência haver torres de guarda e muretas de observação, como que em uma fortificação medieval.
Passaram pelos portões grossos de aço, até um pátio interno.
-Por que temos que esperar com eles aqui? –Perguntou Joseph enquanto desciam da carruagem.
O Frei Suspirou e disse:
-Estamos em horário de almoço, rapaz. Não há ninguém na guarda agora... Vamos almoçar aqui mesmo, o enviado do palácio preparou uma sala para nós. Os Prados vão se encontrar com sua alteza as três da tarde, hora em que a guarita de alistamento reabre.
-E o que nós faremos aqui até lá? –Perguntou Salette, enquanto limpava a barra de sua saia da poeira da estrada.
-Sinceramente... não sei. Irei ficar na capela, tenho assuntos a tratar com o cônego da capela real.
-Bom... ajudarei a senhorita Teresa a se arrumar.
Joseph suspirou.
-Pois bem, acharei algo para fazer.
O almoço foi feito em uma sala de jantar no primeiro andar do palácio, uma sala decorada com espelhos, estatuas e com grandes janelões que davam para um terraço nos jardins.
Joseph e Teresa conversaram por quase toda a refeição, sob os olhares descontentes dos pais de ambos, que os mandavam ficarem calados toda hora.
-Meu vestido ficou pronto ontem, de última hora... Oh! Nem lembrei de trazer meu pente...
-Eles devem ter um por aqui, não se preocupe.
-Trouxe de tudo, mas ainda acabei por me esquecer de tanta coisa... Você tem sorte, não precisou trazer armadura nem espada para cá- Teresa sorria para Joseph.
-Sim... –Joseph riu com ela- Já pensou? Ter que carregar um baú com armaduras, espadas, coturnos- ambos riram por toda o almoço.
Do outro lado da mesa, os pais de ambos conversavam baixinho com o mordomo do príncipe.
-Vejam só... Nunca pensaram que ambos poderiam se casar? –perguntou o funcionário do palácio aos país de Teresa e a Salette.
-Não sei se eles gostam um do outro tanto assim... São virtuosos, mas não apaixonados, não é frei? – Bento Prado sorriu para o frade.
-Ah, estão mais para São Francisco e Santa Clara do que para São José e a Virgem- ambos riram com a referência do frade, enquanto que o mordomo sorriu sem jeito por estar pouco habituado com tantas referências religiosas.
-Ouviu o que eles disseram? – perguntou Joseph do outro lado da mesa.
-Sim...- ambos se entreolharam e riram.
Ao acabar a refeição, ambos seguiram seu caminho. Salette acompanhou Teresa, sua mãe e as camareiras até os aposentos no andar de cima. Bento e o frade foram conversar na biblioteca na outra ala do palácio. Joseph... foi caminhar pelos jardins.
Andou por uma alameda que tinha de um lado um muro alto de pedra com trepadeiras, e do outro uma linha de árvores frutíferas com canteiros de flores no chão.
Estava encostado no muro, limpando os dentes com um pequeno palito.. quando apareceu, quase que das sombras, uma figura esguia e loira. Um rapaz com talvez uns dois anos a mais que Joseph apareceu com roupas brancas, coturnos e uma calça marrom escuro e uma pequena adaga nas mãos.
-Quem és tu? – Perguntou o rapaz.
-Joseph... –ele olhou para a vista do pátio, com desdém.- Estou aqui só de passagem. Sou amigo da família de uma moça prometida em casamento ao príncipe.
O rapaz, que até então tinha postura de desdém, endireitou a coluna e esboçou uma expressão curiosa.
-A moça... Como se chama mesmo... Teresa Brado? Alamado...?
-Prado. –Joseph olhou para ele com espanto.- Teresa Prado... Quem é você?
-Ah... eu moro aqui no palácio. Trabalho aqui minha vida inteira... Meu pai também trabalhou aqui...
-E essa adaga?
-Ah... Estava só me divertindo... –jogou a adaga para crava-la na árvore mais próxima.
-Uau. Tem quantos anos? 12? – disse Joseph.
Ambos se entreolharam por alguns segundos. Até que o rapaz sorriu com Joseph, até ambos caírem em uma gargalhada.
-Você parece ser gente boa... Sabe lutar?
-Olha, sei montar e sou bom com esgrima. Vou me alistar na Academia do príncipe...
-Ah vai? Então vamos ver o que você sabe, recruta. –O Rapaz pegou um pedaço de madeira revestida de couro que estava encostada no muro e jogou para Joseph.
-Acho que podemos brincar um pouco... Em guarda.
E tentou golpeá-lo com a espada improvisada. Joseph revidou com um reflexo surpreendente.
-Amador... –respondeu Joseph.O rapaz sorriu, e tentou golpeá-lo novamente.
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As Crônicas de Sant'Ângelo- O Anjo, a Espada e o Rei.
FantasyJoseph acreditava ser apenas um jovem qualquer de uma cidade no interior de um distante país europeu no meio do mediterrâneo. Mas a antiga profecia de um bispo ecoava na história da grande Ilha de Sant'Ângelo: De que um rei surgiria para combater...