Palazzo del Prados

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 Na manhã seguinte partiu a comitiva. Joseph havia dormido pouco naquela noite, e Teresa muito menos. Partiram por volta das 6:30 da manhã, logo uma benção especial de Frei Raniero.

Cada carruagem levava uma família, que no caso de Joseph se resumia ao Frei e a sua mãe. Levava apenas uma espécie de mochila com alguns documentos, roupas e livros. Não iria precisar de muita coisa na Escola Militar.

Teresa, porém, levava de tudo. Queria impressionar o marido que seus pais lhe aviam arranjado. Tinha em suas malas desde vestidos de seda até perfumes caros de Istambul.

Ao menos tiveram o privilégio de ver o sol nascer por cima das montanhas a leste, o céu avermelhado e a leve brisa da primavera soprando sobre eles pelas campinas do vale do rio Équinos. (A enorme pradaria, somada a imensa criação de cavalos no vale, justificava o nome da região.)

Quando o dia já estava claro, a vista das campinas de capim alto que se mexiam de um lado para o outro com o vento dava um ar de maior beleza a rica região do sul. As montanhas de ambos os lados, cobertas de um verde sem par, com as pradarias cortadas pela estrada de chão batido delimitado pelas cercas de fazendas de ambos os lados enquadrava talvez a mais bela paisagem de toda a Ilha de Sant'Ângelo.

Por volta das 9 horas, passavam pelo Passo de Santa Maria das duas torres, uma passagem por entre as montanhas que dava acesso ao vale de Aurum, capital do Principado.

A região tinha várias penínsulas e montanhas, da onde se eram explorados ouro e prata a mais de 100 anos. A estrada se alargava cada vez mais a medida que se aproximavam de Aurum, para garantir o fluxo de carroças escoltadas que entravam e saiam das minas nos arredores da cidade.

Frei Raniero ia rezando por todo o caminho com seu breviário, cantarolando baixinho salmos e preces em latim. Joseph estava quase dormindo, quando o Frade bateu em seu braço com o livro.

-Acorda, jovem recruta. Já estamos chegando.

Joseph abriu os olhos assustado. Olhou ao redor, ainda sonolento e viu a paisagem das montanhas ao redor deles.

-Sim. – respondeu o frei sem tirar o olho de seu breviário - Talvez a região mais rica de toda a Ilha.

-Ah... – Salette suspirou angustiada.

- O que houve, mãe?

Ela, com olhar distante, apenas disse.

- Não é nada demais...

Antes que pudesse responder algo, umas duas vozes gritaram do lado de fora, logo a frente.

- O que é isso? –Perguntou Joseph.

-É o cocheiro da nossa carruagem falando com o da carruagem dos Prados. Acho que já estamos chegando. – Explicou o frade.

Em poucos instantes já estavam passando pelos portões da capital. Uma linha dupla de muros fazia a defesa da cidade, e a primeira coisa que viram assim que os passaram foi a grande praça de comércio.

Chafarizes de mármore estavam espalhados por toda a grande praça, coberta com um calçamento de pedra e cheia de feirantes e comerciantes de todos os lugares.

As carruagens seguiram pela via principal, seguindo por ruas de casarões e palazzos de todo tipo. Ladearam por ruas largas e movimentadas até um palazzo branco, alto e largo, o qual passaram pelo portão e atravessaram o um "túnel" até um pátio interno.

Estacionaram as carruagens, uma ao lado da outra no pátio com macieiras.

-Esse é o palazzo dos Prados? – Perguntou Salette ao frei Raniero.

-Sim... Está maior do que da última vez em que vim aqui...

-Você já veio aqui? – Interrompeu Joseph.

-Sim, me chamaram para abençoar o casamento da tia de Teresa, irmã de Bento.

Bento Prado era um homem relativamente baixo, gorducho, de barba e cabelos castanhos bagunçados. Usava uma boina listrada branca e marrom, combinando com seu casaco.

Ele se virou para os passageiros da outra carruagem, abriu um largo sorriso e disse:

-Ah! Bem-vindos a minha casa!

-Senhor Prado! - Um homem magro e esguio surgiu de dentro do casarão, acompanhado de empregados para carregar as bagagens.

-Ezio! Meu caro governante... Leve as bagagens para dentro, precisamos nos arrumar para...

-O enviado do Príncipe já esta aqui. –Interrompeu-o.

Senhor Prado ficou sério.

-Mas... Já? Filha – Se virou para a moça que estava descendo a carruagem. – Parece que vamos sair mais cedo do que o esperado... E senhora Salette... – se virou para a senhora, o frade e o jovem que os acompanharam até ali - Vamos sair logo, a academia militar é próximo do palácio...

-Se prepare - Falou Frei Raniero baixinho - Você está prestes a mudar a sua vida... E ela também... – apontou para Teresa- Rezo para que vocês não necessitem voltar para o fim de mundo de Paterno tão cedo...

E com um sorriso sarcástico, Frei Raniero se afastou até o senhor Prado, para se prepararem para a ida ao palácio.

As Crônicas de Sant'Ângelo- O Anjo, a Espada e o Rei.Where stories live. Discover now