Capítulo 4

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  IV



Uma semana passou, e os guardas juntamente com os presos da faxina se viram em apuros. Toda vez que o interno Ramiro ia para o chuveiro, todos os demais tinham que se recolher aos seus respectivos cubículos para obedecerem à regra de segurança. Depois, a porta de segurança abaixo da sala de controle abria para os agentes entrarem e fecharem a porta do preso rebelde.



Lino, um réu preso por tráfico de drogas, morava com dois doentes mentais numa cela. Lino era muito paciente e calmo, e tinha fama de apaziguador. Agentes junto com os presos da faxina perguntaram se ele topava morar com o "louco". Lino respondeu de imediato:



— "Demorou"! Pode mandar esse maluco aqui que ele será bem-vindo.



Ramiro tinha se recusado a fazer a barba. Na CCC todos eram obrigados. Lino milagrosamente conseguiu convencê-lo a barbear-se.



Lino era o único ser que conseguia manter diálogo com o rebelde. Lino sempre teve muita preocupação e apreço pelos doentes mentais. Defendia todos, tratando-os como se fossem irmãos e filhos. O réu rebelde lia livros o dia inteiro, devorava tudo que tinha letras. Depois de dias, Lino conversava mais ou menos meia hora à noite com Ramiro. Tornaram-se grandes amigos. Um dia Lino perguntou:



— E sua mãe lá em São Paulo? Você não quer mandar uma carta pra ela? Eu tenho selo, papel e envelope. E a Belinha, sua namorada? Não vai escrever pra ela?



— Elas não sabem que estou preso. Não quero que saibam. Belinha não sabe o telefone da minha família. Quando eu sair, se um dia eu sair, vou procurar minha mãe e dar um abraço nela, e dizer que eu tava na Amazônia...



Ramiro era irredutível na questão do contato com os parentes. Não queria que soubessem de sua situação degradante. Era perceptível que ele amava sua mãe, mas não queria dividir o sofrimento com ela.


Um Réu DiferenteOnde histórias criam vida. Descubra agora