Tons de Azul

III - Cold coffe.

"Eu sei que você estará partindo quando acordar de manhã

Me deixe com algum tipo de prova de que isso não é um sonho..."

Está chovendo do lado de fora, chovendo tanto que é como se o mundo estivesse desmoronando por completo.

Mas a única coisa aqui que está verdadeiramente desmoronando é a minha armadura. Armadura da qual passei anos escondido, e que você pareceu desmontá-la em questão de segundos, como se tão fácil quanto respirar.

Agora, neste exato instante, você está aninhado como um gatinho no chão, entre minhas lençóis, e a cabeça apoiada em meu colo.

E ao sentir as mechas longas de seu cabelo roçar em minha pele, posso afirmar o que sempre desconfiei; o azul também queima.

É estranho pensar que você, Kier, foi a único capaz de me ver em meio à escuridão. Você encontrou museus em mim ou eu só enxergava corredores vazios.

Você nunca gostou de tempestades, a luz dos relâmpagos rasgando as noites e o vazio dos corredores o faz querer fugir para o calor dos meus braços, pois trazem a tona todos os pesadelos dos quais você se esforça para esquecer.

E tê-lo assim tão perto é como segurar o mundo nas mãos e não saber o que fazer com ele.

Você também não gosta das manhãs muito quentes, do suor que escorre por sua pele ou do ar abafado na biblioteca. Você se sente mais familiarizado é com as tardes cinzentas e nubladas, enquanto o cheiro morno de café inunda o cômodo.

Café... Quando o apresentei a essa bebida nunca pensei que fosse ficar tão fascinado, me pedindo a todo o momento para trazer mais.

Eu ainda guardo a expressão que você fez quando ingeriu o liquido quente pela primeira vez. Você torceu a face em uma careta adorável, franzindo o nariz pequeno, e então sorriu como uma criança descobrindo algo novo, enquanto seus os cabelos mudavam para o mesmo tom do céu em uma manhã calma de verão.

Há mais azul em você do que existe entre o mar e céu. E eu gostaria de poder salvar tua alma da tristeza cotidiana.

Diego.