— Está na hora, Mel – disse Tritão, olhando sua meia-irmã com preocupação estampada no olhar.
— Você está bem, Tritão? Já procurou a Therapeftís? Talvez ela possa te medicar.
— Não, estou bem. É só que... Você tem mesmo que ir? Quer dizer... Minhas brincadeiras passaram do limite? Eu posso parar, se quiser. Posso ser... Aturável – respondeu corando.
— E essa palavra existe? - indagou Mel, enquanto guardava seu porta-retratos na mala, sem olhar para trás.
— Quem se importa? Não quero que vá por minha culpa. Sua presença aqui é... A coisa mais divertida que aconteceu em anos, e você é... - ele começou a ruborizar, mas fingiu não ligar pra isso, como se não tivesse o ego maior do que o palácio poderia aguentar. - Importante pra mim. Minha mãe não me deixa ter contato com meus irmãos, ou meio-irmãos...
Melanie o observou por alguns instantes, absorvendo as sensações agradáveis que invadiram seu quarto. Em todos esses anos, jamais pensara que um dia escutaria Tritão dizer isso. Ele nunca se deu bem com ela e jamais foi capaz de dizer que algo fosse importante, porque não sabia o significado da palavra "importante". Ela se sentiu impotente por não poder dar o reconhecimento que queria dar a ele, queria simplesmente abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem. Mas ela não poderia mentir desse jeito. Nada ficaria bem por muito tempo, ambos tinham ciência disso.
— Tritão, não estou indo por sua culpa. Quero dizer, você pode ser bem irritante quando quer, e exagera em algumas brincadeiras, é desordeiro... - começou a listar, mas ele a interrompeu:
— Sabe, eu ainda estou aqui... Bem aqui, Mel...
Ela sorriu e deu um beijo na bochecha do jovem Deus.
— Seria muito bom ter uma vida harmoniosa aqui com vocês. Treinarmos juntos, competirmos, lutarmos lada a lado, irmos juntos pro campo de batalha, ficar nas tavernas até altas horas e entrar de fininho para que Poseidon não note, tropeçar na mesma armadura todas as vezes, cumprirmos o castigo juntos, morrendo de ressaca, e fazendo mais bagunça do que limpeza... Não seria? – ela olhou sorrindo para os olhos azuis ciano do Deus que se transformou novamente em garoto.
— Seria mais que perfeito – respondeu ele animado.
— É, seria, sim... – Melanie pegou suas bagagens colocou a mão na maçaneta, deu de ombros e virou o rosto iluminado por lágrimas para Tritão – Mas nós somos Deuses, meu irmão. Não podemos nos dar ao luxo de sermos verdadeiramente felizes, de nos apaixonarmos ou fazermos estupidezes. Temos responsabilidades e obrigações. Temos um fardo a carregar. Nunca poderemos ter uma vida como essa que imaginamos agora – ela suspirou – O fardo de alguns, é bem maior que o de outros. Mas a maioria está começando a criar o fardo, você está dentre a maioria. Se quer um conselho, dê um tempo do mar. Visite Zeus, observe os humanos, o universo, o tempo. Descubra seus ideais e o fardo que quer carregar. Porque, acredite em mim, se você não escolher, outros o farão, e eles não terão compaixão. Adeus, Tritão – e Melanie saiu, fechando a porta atrás de si.
Vagarosamente, caminhou pelos corredores, sentindo o peso do próprio fardo escolhido há éons. Ela sabia, por experiência própria, que outros Deuses poderiam ser cruéis e que fardos são para todas as vidas que uma alma pode possuir.
O sangue quente corria rapidamente pelas suas veias, rosando sua pele morena. Não havia uma só noite em que ela não se arrependesse pelas escolhas que a levaram até ali. Como Hécate e Héstia lhe diziam, um fardo muito pesado foi posto em suas costas, e ela deveria encontrar um propósito dentro daquilo. A magia a ajudou em muitas ocasiões, mas ela não tinha ideia de como encontraria uma solução para isso tudo.
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Filha Do Mar
FanfictionMelanie tem dezessete anos e nunca viu o seu irmão gêmeo, Perceu Jackson. Ela é filha de Poseidon, deus do mar. Ela revela segredos jamais votos na histórias humanidade. Junto com seu irmão, ela deve batalhar para conquistar a tao amada paz. A jorna...